domingo, 23 de junho de 2013
DOR E SOFRIMENTO -
O aparecimento de novas formas de sofrimento, no mundo em que vivemos, impõe desafios a psiquiatras, psicanalistas e psicólogos, que se ocupam cada vez mais em tentar entender, em suas atividades clínicas, a origem desse sentimento. Sofre-se por falta de emprego, por falta de um amor, pelo vazio que sentimos atualmente, e, principalmente, pela ausência de projetos e perspectivas futuros. Busca-se soluções mágicas para a cura da dor, que causa do incômodo ao mal-estar na sociedade considerada normal . O ser humano é o único dotado de um sofrimento interior, decorrente do excesso, de algo que incomoda, perturba ou provoca insatisfação.
Quem não sente dor? E aqui incluo as angústias, as incertezas, os sentimentos de inadequação, rejeição, solidão que, às vezes mais, às vezes menos, irremediavelmente nos atingem.
Por que nós sofremos? A teoria psicanalítica de Freud já estudava a dor humana. Para Freud, o sofrimento poderia brotar de três fontes: do corpo, do mundo externo e das relações com os outros. Depois de tanto tempo, entretanto, o sofrimento não acabou, mas adquiriu novas faces, incentivando a violência.
O sofrimento é uma marca bem própria do ser humano. Em todas as épocas e lugares o animal humano se deparou com o sofrer. No começo da história do homem na terra, o sofrer estava ligado ao medo de situações ameaçadoras à vida existentes no mundo natural ou ao pavor frente ao sobrenatural.
Antônio Houaiss é autor de um dicionário da língua portuguesa e ele define o verbo sofrer, dentre outros significados, como “experimentar com resignação e paciência; suportar; tolerar; aguentar... não evitar ou criar impedimento para; admitir, permitir, aceitar”.
Nesse sentido, uma vez acometidos pelo sofrimento, não nos resta outra possibilidade senão suportá-lo, experimentá-lo. Mas de qual sofrimento estamos falando? São todos iguais os desconfortos causados por uma depressão, uma ansiedade brutal, um pavor de estar sendo perseguido? Se não existe algum antídoto contra a angústia, como é que fica o bem-estar, a felicidade tão aspirada e objetivo principal na vida de todas as pessoas?
Se há um consenso invisível sobre o sofrimento em sua força inescapável, a pergunta essencial que nos aparece a partir daí é: Qual a intensidade e/ou a qualidade do sofrimento que devo considerar como sendo um elemento próprio à minha existência?
As novas formas de sofrimento enfrentadas pela sociedade contemporânea são criadas em torno de modificações sociais e políticas às quais fomos submetidos. Globalização, neoliberalismo, processos de ajuste econômico, tudo contribuiu para o surgimento dos novos deprimidos e angustiados no mundo pós-moderno, e é fato que a sociedade de consumo controla o indivíduo. Os shoppings, por exemplo, passaram a ser templos da nova religião que se impôs no mundo moderno e, nesse lugar, não há espaço para o sofrimento.
As pessoas padecem de uma falta de identidade e, em função disso, surgem as novas patologias, as novas doenças.
Outra fonte de nosso sofrimento é o amor. Ou pelo menos o que chamamos ou conhecemos como amor. "Amor é fogo que arde sem se ver/é ferida que dói e não se sente/é um contentamento descontente/ é dor que desatina sem doer". Da poesia lírica de Luís de Camões ou dos versos da música de Renato Russo, pode-se retirar a essência de um dos temas mais atuais para os estudos da psicologia e da psicanálise: o sofrimento. As manifestações da arte, como por exemplo a literatura, a música e o teatro, conseguem ser a mais completa expressão do significado exato do sofrer para os seres humanos. Tradicionalmente, na literatura, amor e paixão são sinônimos de sofrimento.
O fato é que o ser humano, em geral, experimenta uma sensação eterna de incompletude. Na verdade, somos todos doentes de incompletude.
Assim como mudaram as formas de sofrimento no mundo moderno, também surgiram novos casos de depressão e melancolia. Os deprimidos e melancólicos dos estudos de Freud, deixavam-se morrer. Hoje, os deprimidos, tomados por uma sensação de vazio, buscam ativamente a destruição.
Os melancólicos e deprimidos são os que possuem menor tolerância a estados de falta de satisfação. Pessoas com experiências infantis dolorosas levam-nas a uma depreciação completa de si mesmas. Para esses deprimidos, existe o ‘eu’ ideal e o ‘eu’ real, que se encontram muito distantes um do outro. Assim, os prazeres possíveis não valem a pena porque não são suficientes para fechar a distância que separa os dois ‘eus’ ..
Lembremo-nos ainda que doenças orgânicas podem ser desencadeadas por estados depressivos e/ou melancólicos.
A depressão, aliás, está na pauta da OMS (Organização Mundial da Saúde) como um dos mais importantes males do futuro. Hoje, o transtorno já é a quarta causa de incapacitação no mundo. Em 2020, será a segunda - atrás apenas do grupo de doenças cardíacas. Estima-se que 121 milhões de pessoas ao redor do mundo estejam, neste momento, deprimidas.
A depressão, mais do que mal estar, causa também mortes. A OMS calcula que 10% a 15% dos deprimidos tentam suicídio. Do total de um milhão de pessoas que se matam anualmente, 60% delas são portadoras de depressão ou esquizofrenia.
Dedicado à saúde mental, o último relatório anual da OMS aponta que 70 milhões de pessoas são hoje alcoolistas, 50 milhões têm epilepsia, 37 milhões sofrem com mal de Alzheimer e 24 milhões são esquizofrênicas.
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 3% da população -mais de 5,2 milhões de pessoas- sofra de transtornos mentais. Para quem sofre de dor crônica, a incidência é de 30%.
A farmacologia na depressão - Surgida na década de 80, uma nova geração de antidepressivos - entre eles o Prozac, conhecido como a pílula da felicidade - descortinou-se aos olhos de muitos especialistas como a solução mágica contra a depressão. Em dezembro de 1987, cinco anos após o lançamento do Prozac, mais da metade da população dos EUA era usuária do medicamento. A prática de receitar remédios nos tratamentos psiquiátricos, entretanto, é vista com cautela pela maioria dos psicanalistas.
Historicamente, a procura do bem-estar pela droga é antiga. No século 19, atingidos pelo "mal do século", como é chamada a depressão, os homens buscaram no ópio a solução para a sua fragilidade diante das dificuldades da vida.
Em sentido geral, dor é a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anormal de um órgão. Por extensão, o termo se aplica a sentimentos de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que podem repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar.
De acordo com a medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas.
A dor física é um sinal de que algo em nós não vai bem e precisa ser cuidado, precisa de melhora. Embora sempre queiramos fugir dela, ela nos oferece a oportunidade de reflexão — ela nos faz voltar para o nosso interior —, represente a oportunidade de conhecermos a nós mesmos. Sofrimento é a dor física ou moral. Segundo o Espiritismo, quando enfrentado pelo indivíduo com coragem e resignação, torna-se fator de aperfeiçoamento espiritual.
Dada a grande coerência da dor, tanto sofrem os grandes gênios, como os de inteligência apagada; tanto sofrem as pessoas famosas, como as pessoas comuns. Nesse sentido, observe o sofrimento anônimo daqueles que dão exemplo de santidade aos que lhe sentem os efeitos, mesmo ocultos e sigilosos.
Aprendamos, de uma vez por todas, que a dor não é castigo: a dor é algo inerente à vida, é próprio dela. Ninguém viveu, vive ou viverá na terra sem que experimente em algum momento de sua vida a dor, seja de que espécie for.
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