domingo, 30 de junho de 2013

A MORTE É NADA - Santo Agostinho

“A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me dêem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo O que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Por que eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho... Você que aí ficou, siga em frente. A vida continua linda e bela como sempre foi.”

A COMPREENSÃO DA MORTE -

Para algumas pessoas, ela é um tormento. Outros, no entanto, falam em descanso. Porém, mais sensato seria dizer que a vida depois da morte pode vir a ser um tormento, ou, que ela pode vir a ser uma continuação em paz. Tudo depende de como utilizamos o nosso tempo de vida presente. O tempo que corre continuamente até a nossa mudança de dimensão. A vida terrena é breve como a brisa que passa. Eternos são o amor, a compaixão, e a bondade.
O pai da Psicanálise, Sigmund Freud, nos diz que “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte. A Psicanálise ensina que existem em nossas vidas duas pulsões contrárias: EROS, uma pulsão sexual com tendência à preservação da vida, e a pulsão de morte, ou THANATOS, que levaria à segregação de tudo o que é vivo, à destruição. Ambas as pulsões não agem de forma isolada, estão sempre trabalhando em conjunto. Como no exemplo de se alimentar, embora haja pulsão de vida presente, afinal a finalidade de se alimentar é a manutenção da vida, existe também a pulsão de morte presente, pois é necessário que se destrua o alimento antes de ingerí-lo, e aí está presente um Precisamos compreender que a morte é um fenômeno natural. É um assunto que a maioria de nós evita ao menos pronunciar seu nome. Para os céticos, os descrentes, a morte compreende o cessar das funções do corpo e da consciência, exatamente quando o cérebro deixa de executar suas funcionalidades. Nós, os espíritas, no entanto, acreditamos ser ela uma passagem para uma outra dimensão, cuja realidade é mais perfeita e que é a continuidade da vida física. O que precisamos mesmo é compreender o medo que desenvolvemos em relação à morte, evitando, assim, preparar-se para ela. Precisamos, sim, aprender a morrer. Quando morre alguém, sentimo-nos todos tomados por um sentimento de perda e dor. É natural, gostamos da pessoa e desejamos que ela continue vivendo conosco. Mas, a morte, inegavelmente, é a única certeza da vida e está enquadrada nos acontecimentos normais da existência de todo mundo. A todo instante, partem jovens e velhos, sadios e enfermos, ricos e pobres, brancos e negros, crentes ou descrentes. Partem como se a hora fora chegado e como se nossa lógica baseada no tempo cronológico não fizesse sentido. Pode-se morrer depois de um longo tempo, como se pode morrer cedo, jovem. Para a maior parte dos homens, a morte continua a ser o grande mistério, o sombrio problema que ninguém ousa olhar de frente. Para os espíritos conscientes, ela é a hora bendita em que o corpo cansado volta à grande Natureza para deixar à Psique, sua prisioneira, livre passagem para a Pátria Eterna. A Doutrina Espírita considera a morte biológica como sendo a interrupção do fluxo vital que mantém os órgãos físicos em funcionamento. Quando ocorre a anóxia cerebral e, consequentemente, a paralisação do tronco encefálico, dá-se o fenômeno denominado morte. Para o Espiritismo, a morte da indumentária carnal serve para libertar o Espírito temporariamente aí encarcerado, a fim de que prossiga no processo de evolução, no rumo da plenitude ou Reino dos Céus. Morrer, desse modo, é encerrar o ciclo biológico, facultando o prosseguimento da vida do Espírito em outros campos vibratórios, além da dimensão física. Compreendamos que, muitas vezes, os seres pelos quais choramos e que alguns procuram no cemitério estão ao nosso lado. Vêm velar por nós aqueles que foram o amparo da nossa juventude, que nos embalaram nos braços, os amigos, companheiros das nossas alegrias e das nossas dores, os seres que encontramos no nosso caminho, os quais participaram da nossa existência e levaram consigo alguma coisa de nós mesmos, da nossa alma e do nosso coração. Ao redor de nós flutua uma multidão de pessoas que sumiram na morte, multidão confusa, que revive, nos chama e mostra o caminho que temos de percorrer. Muitos perguntam, talvez temerosos do momento em que também enfrentarão a circunstanciada morte: ela dói? O que ensinam os espíritos a respeito? No instante da morte, todo homem retorna ao mundo dos espíritos, pátria de onde todos nós viemos. Uma vez no chamado “outro mundo”, conserva plenamente sua individualidade. A separação da alma e do corpo não é dolorosa. O corpo sofre mais durante a vida que no momento da morte. Segundo alguns espíritos, dói mais nascer do que morrer. Lembremos que quando nascemos para este mundo, morremos para o mundo espiritual; e quando morremos para este mundo, nascemos para o mundo espiritual. A alma se liberta com o rompimento dos laços que a mantinham presa ao corpo e a sensação que se experimenta, no momento em que se reconhece no mundo dos espíritos, depende do que fez em vida. Se foram bons, sentirão enorme alegria. Se foram maus, sentirão vergonha. Normalmente, reencontra aqueles que partiram antes, se já não voltaram em uma nova reencarnação. Se já não voltaram à terra para uma nova vida. A consciência de si mesmo vem aos poucos. Passa-se algum tempo de perturbação, convalescente, cujo tempo de duração depende da elevação de cada um ou da situação de saúde do perespírito: o corpo que envolve o espírito propriamente dito. Compreender, antes, a morte exerce grande influência sobre o tempo de perturbação, mas o que realmente alivia a perturbação são a prática do bem e a pureza de consciência.

domingo, 23 de junho de 2013

DEFINITIVO - Carlos Drummond de Andrade

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento,perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...

DOR E SOFRIMENTO -

O aparecimento de novas formas de sofrimento, no mundo em que vivemos, impõe desafios a psiquiatras, psicanalistas e psicólogos, que se ocupam cada vez mais em tentar entender, em suas atividades clínicas, a origem desse sentimento. Sofre-se por falta de emprego, por falta de um amor, pelo vazio que sentimos atualmente, e, principalmente, pela ausência de projetos e perspectivas futuros. Busca-se soluções mágicas para a cura da dor, que causa do incômodo ao mal-estar na sociedade considerada normal . O ser humano é o único dotado de um sofrimento interior, decorrente do excesso, de algo que incomoda, perturba ou provoca insatisfação. Quem não sente dor? E aqui incluo as angústias, as incertezas, os sentimentos de inadequação, rejeição, solidão que, às vezes mais, às vezes menos, irremediavelmente nos atingem. Por que nós sofremos? A teoria psicanalítica de Freud já estudava a dor humana. Para Freud, o sofrimento poderia brotar de três fontes: do corpo, do mundo externo e das relações com os outros. Depois de tanto tempo, entretanto, o sofrimento não acabou, mas adquiriu novas faces, incentivando a violência. O sofrimento é uma marca bem própria do ser humano. Em todas as épocas e lugares o animal humano se deparou com o sofrer. No começo da história do homem na terra, o sofrer estava ligado ao medo de situações ameaçadoras à vida existentes no mundo natural ou ao pavor frente ao sobrenatural. Antônio Houaiss é autor de um dicionário da língua portuguesa e ele define o verbo sofrer, dentre outros significados, como “experimentar com resignação e paciência; suportar; tolerar; aguentar... não evitar ou criar impedimento para; admitir, permitir, aceitar”. Nesse sentido, uma vez acometidos pelo sofrimento, não nos resta outra possibilidade senão suportá-lo, experimentá-lo. Mas de qual sofrimento estamos falando? São todos iguais os desconfortos causados por uma depressão, uma ansiedade brutal, um pavor de estar sendo perseguido? Se não existe algum antídoto contra a angústia, como é que fica o bem-estar, a felicidade tão aspirada e objetivo principal na vida de todas as pessoas? Se há um consenso invisível sobre o sofrimento em sua força inescapável, a pergunta essencial que nos aparece a partir daí é: Qual a intensidade e/ou a qualidade do sofrimento que devo considerar como sendo um elemento próprio à minha existência? As novas formas de sofrimento enfrentadas pela sociedade contemporânea são criadas em torno de modificações sociais e políticas às quais fomos submetidos. Globalização, neoliberalismo, processos de ajuste econômico, tudo contribuiu para o surgimento dos novos deprimidos e angustiados no mundo pós-moderno, e é fato que a sociedade de consumo controla o indivíduo. Os shoppings, por exemplo, passaram a ser templos da nova religião que se impôs no mundo moderno e, nesse lugar, não há espaço para o sofrimento. As pessoas padecem de uma falta de identidade e, em função disso, surgem as novas patologias, as novas doenças. Outra fonte de nosso sofrimento é o amor. Ou pelo menos o que chamamos ou conhecemos como amor. "Amor é fogo que arde sem se ver/é ferida que dói e não se sente/é um contentamento descontente/ é dor que desatina sem doer". Da poesia lírica de Luís de Camões ou dos versos da música de Renato Russo, pode-se retirar a essência de um dos temas mais atuais para os estudos da psicologia e da psicanálise: o sofrimento. As manifestações da arte, como por exemplo a literatura, a música e o teatro, conseguem ser a mais completa expressão do significado exato do sofrer para os seres humanos. Tradicionalmente, na literatura, amor e paixão são sinônimos de sofrimento. O fato é que o ser humano, em geral, experimenta uma sensação eterna de incompletude. Na verdade, somos todos doentes de incompletude. Assim como mudaram as formas de sofrimento no mundo moderno, também surgiram novos casos de depressão e melancolia. Os deprimidos e melancólicos dos estudos de Freud, deixavam-se morrer. Hoje, os deprimidos, tomados por uma sensação de vazio, buscam ativamente a destruição. Os melancólicos e deprimidos são os que possuem menor tolerância a estados de falta de satisfação. Pessoas com experiências infantis dolorosas levam-nas a uma depreciação completa de si mesmas. Para esses deprimidos, existe o ‘eu’ ideal e o ‘eu’ real, que se encontram muito distantes um do outro. Assim, os prazeres possíveis não valem a pena porque não são suficientes para fechar a distância que separa os dois ‘eus’ .. Lembremo-nos ainda que doenças orgânicas podem ser desencadeadas por estados depressivos e/ou melancólicos. A depressão, aliás, está na pauta da OMS (Organização Mundial da Saúde) como um dos mais importantes males do futuro. Hoje, o transtorno já é a quarta causa de incapacitação no mundo. Em 2020, será a segunda - atrás apenas do grupo de doenças cardíacas. Estima-se que 121 milhões de pessoas ao redor do mundo estejam, neste momento, deprimidas. A depressão, mais do que mal estar, causa também mortes. A OMS calcula que 10% a 15% dos deprimidos tentam suicídio. Do total de um milhão de pessoas que se matam anualmente, 60% delas são portadoras de depressão ou esquizofrenia. Dedicado à saúde mental, o último relatório anual da OMS aponta que 70 milhões de pessoas são hoje alcoolistas, 50 milhões têm epilepsia, 37 milhões sofrem com mal de Alzheimer e 24 milhões são esquizofrênicas. No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 3% da população -mais de 5,2 milhões de pessoas- sofra de transtornos mentais. Para quem sofre de dor crônica, a incidência é de 30%. A farmacologia na depressão - Surgida na década de 80, uma nova geração de antidepressivos - entre eles o Prozac, conhecido como a pílula da felicidade - descortinou-se aos olhos de muitos especialistas como a solução mágica contra a depressão. Em dezembro de 1987, cinco anos após o lançamento do Prozac, mais da metade da população dos EUA era usuária do medicamento. A prática de receitar remédios nos tratamentos psiquiátricos, entretanto, é vista com cautela pela maioria dos psicanalistas. Historicamente, a procura do bem-estar pela droga é antiga. No século 19, atingidos pelo "mal do século", como é chamada a depressão, os homens buscaram no ópio a solução para a sua fragilidade diante das dificuldades da vida. Em sentido geral, dor é a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anormal de um órgão. Por extensão, o termo se aplica a sentimentos de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que podem repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar. De acordo com a medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas. A dor física é um sinal de que algo em nós não vai bem e precisa ser cuidado, precisa de melhora. Embora sempre queiramos fugir dela, ela nos oferece a oportunidade de reflexão — ela nos faz voltar para o nosso interior —, represente a oportunidade de conhecermos a nós mesmos. Sofrimento é a dor física ou moral. Segundo o Espiritismo, quando enfrentado pelo indivíduo com coragem e resignação, torna-se fator de aperfeiçoamento espiritual. Dada a grande coerência da dor, tanto sofrem os grandes gênios, como os de inteligência apagada; tanto sofrem as pessoas famosas, como as pessoas comuns. Nesse sentido, observe o sofrimento anônimo daqueles que dão exemplo de santidade aos que lhe sentem os efeitos, mesmo ocultos e sigilosos. Aprendamos, de uma vez por todas, que a dor não é castigo: a dor é algo inerente à vida, é próprio dela. Ninguém viveu, vive ou viverá na terra sem que experimente em algum momento de sua vida a dor, seja de que espécie for.

domingo, 16 de junho de 2013

RECEITA DE ALEGRIA -

Joga fora todos os números não essenciais para tua sobrevivência. Isto inclui: idade, peso e altura. Que eles preocupem ao médico. Para isto o pagamos. Convive, de preferência, com amigos alegres. Os pessimistas não são convenientes para ti. Continua aprendendo... Aprende mais sobre computadores, artesanato, jardinagem, qualquer coisa... Não deixes teu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é oficina do diabo. E o nome do diabo é “Alzheimer”. Ri sempre, muito e alto. Ri até não poder mais. Inclusive de ti mesmo! Quando as lágrimas chegarem, aguenta, sofre e... segue adiante. Agradece cada dia que amanhece como uma nova oportunidade para fazer aquilo que ainda não tiveste coragem de começar. Do princípio ao fim. Prefere novos caminhos do que voltar a caminhos mil vezes trilhados. Apaga o cinza de tua vida. E acende as cores que carregas dentro de ti. Desperta teus sentidos para que não percas tudo de belo e formoso que te cerca. Contagia de alegria a teu redor, e tenta ir além das fronteiras pessoais a que tenhas chegado aprisionado pelo tempo. Porém, lembra-te que a única pessoa que te acompanha a vida inteira és tu mesmo. Cerca-te daquilo de que gostas: família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, sem o que for... Teu lar é teu refúgio, porém, não fiques trancado, prezo nele. Teu melhor capital é a saúde. Aproveita-a. Se é boa, não a desperdices; se não é, não a estragues mais. Não te rendas à nostalgia. Saí à rua. Vai a uma cidade vizinha, a um país estrangeiro... Porém, não viajes ao passado, porque dói... Dize aos que amas que realmente os amas. E faze isso em todas as oportunidades que tiveres. E lembra-te sempre que a vida não se mede pelo número de vezes que respiraste, mas pelos momentos que teu coração palpitou forte: de muito rir... de surpresa... de êxtase... de felicidade... E, sobretudo, de amar sem medida. Lembra-te: “Há pessoas que transformam o sol em uma pequena mancha amarela, porém há também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol”. Picasso

CULTURA DE SOFRIMENTO -

Em muitas pessoas tem se formado uma “cultura de sofrimento”, argumentando que a dor é necessária ao progresso de toda pessoa. Acha-se que o amor, obrigatoriamente, trás consigo sofrimento, ou, ainda, que só nos salvaremos através do sofrimento. Essas pessoas, talvez por sua incapacidade para serem felizes, chegam a afirmar que a felicidade não existe e que o sofrimento é o único caminho da vida. Que o sofrimento é algo natural. O sofrimento é muito inerente à vida aqui na terra por causa de nossas escolhas erradas. É preciso que nos conscientizemos que nossos sofrimentos são conseqüências de nossas escolhas equivocadas. Analisemos bem e chegaremos a essa verdade. As conseqüências da ideia de que o sofrimento é algo natural ser sentidas no quadro de baixa auto-estima e desacordo consigo mesmo em que se encontra grande parte dos cristãos. Aqui, incluo católicos, evangélicos e espíritas. Alimentando crenças de desmerecimento e menosprezo em relação à felicidade, mais não fazemos do que cultivar um desamor por nós mesmos e impedir o nosso crescimento pessoal. O pior efeito, a pior conseqüência, de semelhante quadro psicológico é acreditar que não merecemos ser felizes, automatizando um sistema mental de cobranças intermináveis e uma autoflagelação, de autopunição, gerando situações neuróticas de perfeccionismo e puritanismo quase incontroláveis. Esquecemos que devemos às outras pessoas e também a nós mesmos a compreensão e aceitação do que somos, da maneira como somos. Esse auto-desamor é um subproduto do tradicional religiosismo que construímos no psiquismo, em séculos de superficialidade moral e espiritual, cuja imagem condicionada na vida mental foi a de que cada um de nós é um ser pecador e miserável, indigno daquele paraíso que desejamos e, no entanto, achamos que não somos merecedores. Padres e pastores têm-nos apontado caminhos para a conquista de um pedaço do paraíso e não, como deveria ser, a conquista de nós mesmos, através do aperfeiçoamento moral, para que voltemos à pátria da espiritualidade melhores do que quando de lá viemos para essa experiência aqui na terra, nesse plano físico. Porque não aprendemos ainda o auto-amor, a nos amar, costumamos esperar compensações e favores do amor alheio, criando um alto nível de insegurança e dependência dos outros, pelo excessivo valor que depositamos no que eles pensam sobre nós. Voltamos a afirmar que a auto-estima é fator determinante das atitudes humanas. Quando temos pouca auto-estima, somos sempre escravos de complexos de inferioridade atormentadores, por mais e melhores que sejam as vantagens de nossas vidas. Passamos a cultivar hábitos que visam camuflar, disfarçar supostos “males” para que os outros não os percebam. No entanto, não conseguimos sempre nos enganar usando dessa espécie de “maquiagem” e, quando tomamos consciência dela, nos tornamos revoltados, indefesos, deprimidos e ofendidos. Essa situação tem um limite suportável até certo ponto em que nossas decisões e ações começam a ser comprometidas por estranhas formas de agir e, muitas vezes, podem criar episódios neuróticos de gravidade, com estreitos limites com as psicoses. Em muitos casos, necessário é que se diga, surgem interferências espirituais, aumentando o sofrimento desses corações, acentuando-lhes o sentimento de desmerecimento, de rejeição e desânimo, levando-nos a idéias terríveis e a escolhas infelizes. Quando não nos amamos, passamos a vida querendo agradar mais aos outros que a nós, mendigando o amor alheio, já que nos julgamos insuficientes e incapazes de nos querer bem. Muitos de nós nos comportamos como se o amor não fosse um sentimento a ser aprendido e compreendido. Agimos como se ele estivesse guardado, parado em nosso mundo íntimo, e passamos a viver à espera de alguém ou de alguma coisa que possa despertá-lo do dia para a noite. Temos dado passos e até realizado alguns atos no amor, mas raras vezes, temos sabido amar a nós próprios. Por que o amor não acontece com freqüência, com a freqüência que gostaríamos que acontecesse? Talvez porque não fomos educados para o amor. Quais têm sido as razões que nos têm feito aproximar uns dos outros? Carência, interesses, temor à solidão, temor de sermos tomados por aquilo que não somos, ou somos e não queremos ser. O amor acontece quando alguém é capaz de, pelo olhar, tocar nosso coração; quando alguém toca nossa mão e aquece nossa alma. Por outro lado, precisamos conhecer a nossa parte sombria, uma vez que nem tudo em nós é luz. Existirá amor maior a si que esse de saber lidar com essas sombras interiores que tentam ofuscar nossos desejos de Luz? Precisamos aprender esse amor e nos tornarmos mais felizes. Amar nossa “sombra”, conquistando-a e transformando-a aos poucos. Isso é possível se aprendermos a tolerar nosso passado recente ou longínquo, sem as impiedosas e cruéis recriminações. Amar-nos, apesar do nosso passado de escolhas infelizes e decisões precipitadas, é fundamental para iniciarmos um recomeço de vida espiritual rumo à liberdade. Aprender o auto-amor é arar a terra mental para “ser”. Quando o conseguirmos, recuperaremos a serenidade, o estado de gratificação com a vida, a compreensão de nós mesmos, porque o sentimento será então um espelho translúcido das potencialidades excelsas depositadas em cada um de nós pela “inteligência suprema do universo”. Na base de nossas escolhas infelizes está a baixa auto-estima. É ela que nos inspira a fazer escolhas que só nos causam danos em todos os aspectos. Escolher a droga, seja ela qual for, como fonte de prazer, é um grande atestado de que não nos amamos, de que somos conduzidos por caminhos tortuosos porque não nos amamos o suficiente para buscar fontes de prazer que não tragam prejuízos para nossas vidas, que coloquem nossas vidas em risco. Quando enchemos nossas vidas com coisas ou pessoas que em nada contribuem para o nosso crescimento, que só nos causam danos os mais variados, é sinal de baixa auto-estima, de que não nos amamos o suficiente. Vivemos um sistema de compensações pela nossa falta de amor a nós mesmos. E ainda há as opiniões sobre nós com as quais tantas vezes temos que lidar. Essas opiniões são valorosas e merecem ouvidos atentos, somente quando se tornam críticas construtivas. E uma crítica para ser construtiva precisa de sinceridade fraterna, “olhos nos olhos”, sentimento de solidariedade e, sobretudo, quem critica para ajudar deve apresentar alternativas de melhoria ou solução. Fora isso, opiniões sobre nós não passam de palavras ao vento, maledicência ou inveja. Não esqueçamos que o que o outro acha da gente é um problema dele, não nos diz respeito. Precisamos deixar de viver dependentes da opinião de quem quer que seja.

domingo, 9 de junho de 2013

AMOR E CARÊNCIA

- “Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando a pé pra casa, avariada. (…) Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.” (Martha Medeiros) - "O que a maioria de nós leva para o relacionamento não é a plenitude, mas a carência. A carência implica uma ausência dentro de si... A carência é uma força poderosa, capaz de criar ilusões poderosas. Ninguém pode realmente entrar dentro de você e substituir a peça que está faltando." (Deepak Chopra) - "Ah, meu amor, não tenhas medo da carência: Ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, O amor é tão inerente quanto a própria carência, E nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão." (Clarice Lispector) - "A carência é nossa inimiga número um. Você já parou para pensar nas besteiras que faz por carência? Liga pra relacionamentos falidos, dá bola pra babacas . Eu sou esperta porque pego quem eu quero, a hora que eu quero e como eu quero. Eu sou carente porque tudo isso é idiota, vazio e solitário...(Tati Bernardi) - "Por favor, não me analise Não fique procurando cada ponto fraco meu Se ninguém resiste a uma análise profunda, quanto mais eu! Ciumento, exigente, inseguro, carente todo cheio de marcas que a vida deixou: Veja em cada exigência um grito de carência, um pedido de amor! Amor, amor é síntese, uma integração de dados: não há que tirar nem pôr. Não me corte em fatias, (ninguém abraça um pedaço), me envolva todo em seus braços E eu serei perfeito, amor!" (Mirthes Mathias)

NOSSAS CARÊNCIAS E SUAS CAUSAS -

Você já sentiu um vazio, uma espécie de buraco dentro de você e que precisa URGENTEMENTE ser preenchido, para que possa se sentir melhor, para que possa se sentir igual aos outros? Certamente não se trata de fome. Ou, se quisermos, podemos definir como fome de afeto. É a tal da carência afetiva que todos nós, em maior ou menor grau, sentimos em alguma época da nossa vida e, alguns, durante a vida inteira. Parece que algo está faltando. É uma sensação de vazio interior, de isolamento, como se estivéssemos sozinhos neste mundo. Podemos estar rodeados de amigos, colegas de trabalho e com a família. A sensação pode vir até com alguns sintomas depressivos: desânimo, falta de interesse pelas atividades que antes causavam prazer, vontade de se isolar. Nós, seres humanos, temos uma grande necessidade de proteção e aconchego. Nascemos nus, dependentes e pequenos. Nossa primeira experiência de afeto é com um homem (pai) e uma mulher(mãe). Eles são os primeiros seres humanos que nos amam e protegem. Ou pelo menos deveriam. No entanto, cada um tem um histórico de vida diferente. Mesmo que tenham o afeto dos pais, alguns não sentem ou não identificam este amor materno ou paterno. E se não foi desejada, a pessoa pode carregar consigo, durante toda a vida, o sentimento de rejeição, tristeza e abandono. E, nem sempre, fica sabendo que foi rejeitada na gravidez. E, a certa altura de sua vida, começa a viver um sentimento de falta, de vazio, de carência afetiva. “A carência é um estado íntimo de insatisfação que surge da privação de alguma necessidade pessoal cujo principal reflexo é o sentimento de infelicidade”. “Na ótica afetiva é um processo de desnutrição que pode ter-se iniciado na infância e até mesmo em outras encarnações. Advém de desejos recalcados, expectativas não realizadas, frustrações não superadas...”. “A maior carência humana é de afeto e carinho, sem os quais mais ninguém se sente humanizado. E não se sentir humanizado significa permitir a influência dos reflexos primitivos que provocam a ganância e a crueldade proveniente do instinto de conservação bastante acentuado. “Uma das situações que podem dar origem às carências pode ser encontrada na ausência de preparo para lidar com as perdas. Na Terra não se prepara a criança para lidar com a perda. A educação é quase toda destinada a fazer ‘campeões sociais’ vitoriosos em tudo. Pais frustrados tentam se realizar no sucesso de seus filhos, exigindo deles o que não conquistaram, tentando consertar erros e fracassos através da criação de um ‘super-herói’ dentro de casa”. “Pela pressão dos responsáveis pela educação, as habilidades inatas são desconhecidas ou desconsideradas. Aqueles de psiquismo frágil que aspiram ideais diferentes das imposições sucumbem em comportamentos desajustados no vício ou no desequilibro dos costumes como forma de encontrar alguma gratificação e prazer a título de compensação”. “Crianças muito mimadas ou recompensadas excessivamente para cumprirem os seus deveres querem tudo o que desejarem na vida adulta, inclusive o afeto alheio, e para isso mascaram-se de mil modos no jogo das aparências como se estivessem em uma disputa da qual jamais admitem sair perdedores’. “Outras carências surgem como ilusões da vida moderna estimuladas pela mídia e pelos costumes...”. “As matrizes profundas da carência podem ser encontradas no subconsciente. É o vício milenar de exigir e esperar ser amado sem disposição altruísta suficiente para amar. Resulta de uma construção lenta e gradual com bases no egoísmo”. “O carente, em verdade, é um doente que deseja ardentemente amar sem conseguir. Não conseguindo, passa a exigir ser amado, criando relações complicadas e frágeis; é alguém à míngua de amor, um constante cultivador da esperança de ser compensado”. “A carência surge quando desconectamos o mundo dos sentimentos daquilo que realmente preenche e gratifica, priorizando o falso conceito de realização estipulado pela sociedade”. “Nada na criação foi criado com carências, tudo de fato foi criado para pulsar para fora.” Pais e mães muito repressores, que não conseguem demonstrar seus sentimentos de carinho e amor, podem provocar nos filhos carência afetiva. Se é menino, pode crescer inseguro e vacilante. Seu relacionamento íntimo com outras pessoas será sempre superficial. Muitas vezes, quando se relaciona, por exemplo, com mulheres, parece que vê em cada uma delas, a mãe autoritária e repressora. Se é uma menina cresce tímida e exigente. Sempre desejando atenção das amigas e procurando nos relacionamentos afetivos, proteção e carinho. Como se visse no homem amado, o pai carinhoso que nunca teve. Está sempre triste e insegura. Ou então, atrai um companheiro exigente e autoritário à semelhança do pai. Algumas pessoas sentem muita dificuldade de expressar amor ou vivenciá-lo. Elas se sentem pouco à vontade para isso. Elas exigem muito carinho e nunca estão satisfeitas. Outras são carentes porque estão há muito tempo sozinhas. Uma procura febril pelo companheiro ou companheira que satisfaça essa carência afetiva, pode resultar num desastre. Ávidas por carinho, entregam-se a qualquer pessoa. Sentem-se incompletos e colocam suas esperanças na outra pessoa, numa tentativa de acabar com essa carência. A carência afetiva é a “culpada” por esse sentimento tão “desagradável” que nos incomoda, nos mais variados momentos da nossa vida. No entanto, ela pode vir DISFARÇADA, e é aí que mora o perigo, já que é no seu não reconhecimento que muitas besteiras são realizadas. Muitas pessoas, por exemplo, procuram suprir sua carência afetiva incitando, irresponsavelmente, outras pessoas a apaixonar-se ou ter interesse por elas, com a intenção de se sentirem poderosas e desejadas. Muitos são os homens, por exemplo, que passam a vida toda desempenhando o papel de Don Juan, o mais famoso dos conquistadores, e, sob a sombra do donjuanismo, passam a vida em conquistas, única e exclusivamente na tentativa de suprir a sua carência afetiva, da qual eles nem têm consciência. E ainda tem aqueles que escolhem os caminhos das drogas lícitas ou ilícitas, como se assim fossem suprir, preencher o vazio que sentem. Depois do efeito, o buraco está ainda pior que antes. Sem falar dos danos físicos que acontecem consigo. A carência afetiva, frequentemente, é a causa de péssimas escolhas que fazemos, já que nos encontramos fragilizados, vulneráveis, pra baixo..., portanto a MAIOR probabilidade é escolhermos algo que nos fará mal e aqui incluo: mulheres e homens errados, complicados e inconsequentes; trabalhos que não têm nada a haver com nossas habilidades e expectativas profissionais, programas de diversão que só nos trazem danos e, quase sempre, compulsão por comprar coisas sem a mínima necessidade e sem condições para pagar. Quem não conhece a expressão de que não devemos ir ao supermercado fazer compras quando estamos com fome, pois assim compraremos muito mais do que realmente necessitamos? Com o amor acontece algo semelhante. Quando o nosso coração não é nutrido, sentimos fome de amor. Fome de segurança. Fome de se sentir útil. Fome de ideais. Então compramos objetos, redecoramos nossas casas e redecoramos nossos escritórios. Quando esquecemos de fazer a decoração interna e o rearranjo de nós mesmos, corremos o risco de cair na armadilha do consumismo. A carência afetiva é a inimiga número um do amor. E há quem diga também que é a inimiga número um do bolso. Mas, de onde vem essa carência? Da nossa falta de amor a nós mesmos, da falta de reconhecimento do nosso valor como pessoa, como homem, como mulher, como profissional. Muitas vezes, ENTERRAMOS o nosso valor em inúmeras situações, achando-nos um lixo, uma porcaria, alguém que não sabe nada e nem serve pra nada. É necessário observar que esse sentimento “triste” é a consequência de alguma circunstância de rejeição, de abandono, de perda. Logo, a causa é REAL e, por isso, devemos, para o bem da nossa saúde emocional, em um primeiro momento, nos dar o direito de sentir a dor, chorar, reclamar, e até xingar. Mas, isso não pode levar mais que duas semanas; depois disso, você corre o risco, além de se tornar um chato, ou uma chata por falar a mesma coisa repetidas vezes, de desenvolver a carência afetiva PATOLÓGICA , CRÔNICA, DOENTIA e, por conseguinte, a fazer as escolhas erradas só para tentar suprir a falta, preencher o buraco, preencher o vazio. Mais adiante, no entanto, você terá que colher os frutos dessas escolhas, o que o tornará, certamente, até bem mais triste, MAIS CARENTE e o ciclo poderá recomeçar e consumir anos da vida de uma pessoa que, evidentemente, se tornará amarga e até com transtornos emocionais mais graves. Portanto, quando a vida lhe fizer perder algo ou alguém, lembre-se: HOJE foi você e mais milhões de pessoas. Ou seja, você não foi o único a experimentar a perda. Amanhã serão mais outras tantas pessoas. Então, chore, xingue, grite, curta, ponha para fora a sua dor. Mas, depois procure se fortalecer e, principalmente, goste de você mesmo, vá à luta, volte à vida, porque, acredite, ela é boa e é bonita, é bonita e é bonita, como diz o poeta. Tem muita coisa boa para acontecer, todavia é preciso estar aberto para reconhecer e receber essas maravilhosas oportunidades. Não podemos esquecer que nascemos sozinhos e morreremos sozinhos. Vivemos rodeados por pessoas. Vivemos relacionamentos sofridos ou felizes. Temos amigos que compartilham a nossa vida. A família também é uma estrutura de amadurecimento interior em nossas vidas. No entanto, toda experiência que vivenciamos é muito solitária. Convivemos com o nosso ego, nosso eu, todos os dias. Não podemos fugir dos nossos sentimentos mais íntimos. Não somos uma metade que precisa encontrar outra metade. Se pensarmos assim, nunca seremos felizes. A nossa criança interior será sempre triste e sozinha. Somos pessoas inteiras. Com o conhecimento de si mesmo, você pode encontrar a raiz da sua carência afetiva. Quando se sentir muito sozinho ou carente, preste atenção no outro. Ajudar um amigo em dificuldade, um parente solitário, uma pessoa necessitada, cuidar de um animalzinho doente, trará sempre muito benefício. Voltar-se para os outros com desprendimento é uma espécie de nutrição da alma. Esquecemos de nossos problemas, quando nos voltamos para o outro. Precisamos, vez ou outra, nos desgrudar de nós mesmos e ir ao encontro do outro. Não se preocupe, se, em determinados momentos, se sentir sozinho ou carente. Pode ser uma sensação passageira. Nesta fase, fique perto de amigos sinceros, familiares protetores, enfim, não se isole muito. Se a sensação vier com sintomas de depressão, tristeza permanente, procure ajuda profissional. Quanto mais se auto-conhecer e amadurecer a idéia de que não são os outros que vão lhe completar, mais será um homem ou mulher amorosa e completa. Quanto mais você aceitar as pessoas como são, sem ilusões, não se decepcionará.

domingo, 2 de junho de 2013

SAUDADES - Clarice Lispector

"Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades... Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei... Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser... Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro... Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser... Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre! Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências... Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer! Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar! Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar, Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade. Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que... não sei onde... para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi... Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades Em japonês, em russo, em italiano, em inglês... mas que minha saudade, por eu ter nascido no Brasil, só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota. Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados... para contar dinheiro... fazer amor... declarar sentimentos fortes... seja lá em que lugar do mundo estejamos. Eu acredito que um simples "I miss you" ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha. Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades... Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência..." - SAUDADE É ISSO QUE SENTIMOS, ENQUANTO VOCÊ ESTEVE LENDO O TEXTO DE CLARICE LISPECTOR E O QUE VOCÊ DEVE PROVAVELMENTE ESTAR SENTINDO AGORA, DEPOIS QUE ACABOU DE LER. POR ISSO QUE DIZEM QUE "QUEM INVENTOU A DISTÂNCIA NUNCA SOFREU A DOR DE UMA SAUDADE!!!"

A DOR QUE TRANSFORMA -

A dor e o sofrimento provocam mudanças no psiquismo daquele por eles atingido e o coloca em uma situação de humilhação. É como se ele se sentisse abatido, vencido diante da vida. Daí a necessidade de acompanhamento terapêutico para ajudá-lo a aprender a lidar com essa nova situação e acomodar a perda como experiência de vida. Aos poucos, perde-se a vergonha de sentir dor psíquica, ao perceber que a dor só diminui e inspira, depois de ser acolhida, vivida, “pensada” e atravessada. As dores e perdas não são propriamente solucionadas, mas podem ser atravessadas de maneiras mais criativas e inteligentes. A dor da perda deixa de ser vista, experimentada como castigo, e passa a ser uma oportunidade de estar mais vivo, em um contato muito mais vibrante com o mundo físico e social. Trata-se de um percurso lento, que ensina a entrar nos processos temporais e a conhecer a duração, a espera. Muitas “fichas” só caem depois, um pouco mais tarde, quando houver tempo de realizar a ligação entre o que se viveu e um mundo de memórias, palavras, estímulos e sensações passadas e presentes. É preciso sonhar a perda, a morte e a situação de solidão. A realidade nua e crua da morte é muito brutal, não conduzindo a nada. É preciso fazê-la entrar em um campo de sentidos para que ela se torne aceitável. A ansiedade arcaica em bruto é uma quantidade avassaladora de afeto sem rosto e sem nome, monstruosa. Ao sonhá-la, ela entra em conexão com palavras, brincadeiras, torna-se a ansiedade secundária, mais suave e suportável. Aprende-se, então, a esperar para ver como vão ficar as coisas, o desespero diminui, e surge um tipo de esperança meio fraca, ainda acompanhada de um certo desamparo. O sentimento de ser frágil, vulnerável, não vai embora, ele obriga a descobrir um jeito de dar valor positivo à fragilidade humana, associando-a a algum ganho, tornando a pessoa mais sensível e humana. Isso tudo é o que comumente chamamos de “atravessar um luto”, é perder para ganhar em delicadeza, insight, novas formas de sentir prazer e fazer contatos. Parece elementar, mas dificilmente consegue-se atravessar tudo isso sozinho; o processo exige a companhia de alguém que suporte a travessia sem atrapalhar muito, sem ficar muito ansioso e apressado. O luto é um procedimento comum, parecido com a digestão biológica, existe para “DEIXAR PASSAR O PASSADO" PARA ABRIR O FUTURO. Entretanto, apesar de ser tão básico, mobiliza um montante tão insuportável de afetos que é algo do qual tentamos fugir através de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Fugindo dele, perde-se o contato com o mundo e mergulha-se na depressão, nos estados maníaco-depressivos e na melancolia. Quem não sente a dor e não realiza o luto de suas expectativas onipotentes infantis e magalomaníacas, entra em depressão, no sentido patológico. Muitas vezes, confunde-se essa depressão melancólica com uma boa e salutar capacidade de tristeza: é preciso poder entristecer-se diante do que na vida vai sendo perdido, vai ficando para trás, mas sem o que a vida estanca e se repete, sem que nada de novo possa surgir pela frente. A “posição depressiva”, desde que bem atravessada, dá lugar à capacidade de entristecer-se sem se desesperar.