domingo, 3 de maio de 2015

DA CARÊNCIA E DA SOLIDÃO - (muitos autores)

Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados: a carência, a saudade, a mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora estou voltando a pé para casa, destroçado. Eu não amei aquela pessoa. Eu tenho certeza que não! Eu amei a mim mesmo naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor. O que a maioria de nós leva para o relacionamento não é a plenitude, mas a carência. A carência implica uma ausência dentro de si... A carência é uma força poderosa, capaz de criar ilusões poderosas. Ninguém pode realmente entrar dentro de você e substituir a peça que está faltando. A carência é nossa inimiga número um. Você já parou para pensar nas besteiras que faz por carência? Liga pra relacionamentos falidos, dá bola pra babacas. Se acha esperto porque pega quem quer, a hora que quer e como quer. É carente porque tudo isso é idiota, vazio e solitário. Não se deixe entusiasmar a ponto de não conseguir distinguir amor de atração, amor de carência, amor de insegurança, amor de fantasia. Porque quando você ama sente necessidade da outra pessoa. Não por dependência, carência e outras ências. Mas porque é bom estar ali, com o corpo junto, coração do lado, ouvindo a respiração. Você se sente em casa. Tem coisas que acontecem na nossa vida que não têm explicação: perdemos a chance de amar e sermos amados por medo, por estar longe, por achar que as diferenças vão atrapalhar, ou a idade, mas esquecemos que um amor perdido jamais nos voltará e que a pior coisa no mundo é viver sem um amor. Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... isto é carência! Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade! Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio! Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente para que revejamos a nossa vida... Isto é um princípio da natureza! Solidão não é um vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância! Solidão é muito mais do que isto! Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma! A solidão cria seres imaginários para suprir sua carência. E, se não perceber a tempo esse estado de morbidez, pode-se ingressar num mundo irreal que o consumirá. Tenha mais cuidado com você, não espere isso do outro. Você sabe das suas carências, das suas fases, das suas lacunas. O outro sabe das dele. Ás vezes há o encontro perfeito, o encaixe. Em outras, há a mudança brusca pedindo outras conquistas, outras evoluções. Permita-se ser a nova pessoa que acorda todos os dias com mais sede de tudo... Permita-se conhecer anova pessoa que se relaciona com você diariamente com outra disposição pra vida, pro amor, pras relações. Ah, meu amor, não tenhas medo da carência. Ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado. O amor é tão inerente quanto a própria carência. E nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente. O amor já está, está sempre, está sempre. Falta apenas o golpe da graça que se chama paixão. Por favor, não me analise. Não fique procurando cada ponto fraco meu. Se ninguém resiste a uma análise profunda, quanto mais eu! Ciumento, exigente, inseguro, carente, todo cheio de marcas que a vida deixou: veja em cada exigência um grito de carência, um pedido de amor! Amor, amor é síntese, uma integração de dados: não há que tirar nem por. Não me corte em fatias que ninguém abraça um pedaço. Me envolva todo em seus braços e eu serei perfeito, amor! “Eu te amo!”, alguém me disse mentirosamente... E, em covardia carente, acreditei na mais deliciosa das mentiras.

O AFETO QUE FALTA EM NÓS -

O grande desafio de hoje em dia nas nossa vidas é viver uma vida contente, independente do que os outros dizem, acham ou acreditam. A Arte Suprema de Não se Sentir Ofendido é uma das principais habilidades necessárias para ser uma pessoa espiritualizada. Embora isso exija um pouco de prática, é um dos melhores segredos para se viver uma vida feliz. Durante uma vida, a gente é capaz de sentir de tudo, de experimentar vários sentimentos. São inúmeras as sensações que nos invadem, e delas a arte igualmente já se serviu com fartura para retratá-las. Paixão, saudade, culpa, dor-de-cotovelo, remorso, excitação, otimismo, desejo – sabemos reconhecer cada uma destas alegrias e tristezas. Não há muita novidade, já vivenciamos um pouco de cada coisa, e o que não foi vivenciado foi ao menos testemunhado através de filmes, novelas, letras de música. Há um sentimento, no entanto, que não aparece muito, não aparece em cenas de cinema, nem vira versos com frequência, e quando a gente sente na própria pele, é como se fosse uma visita incômoda e perturbadora. É a humilhação. Há muitas maneiras de uma pessoa se sentir humilhada. A mais comum é aquela em que alguém nos menospreza diretamente, nos reduz, nos coloca abaixo do nosso devido lugar e, que lugar é este que não permite movimento, travessia? Geralmente são opressões hierárquicas: patrão-empregado, professor-aluno, adulto-criança. Respeitamos a hierarquia, mas não engolimos a soberba alheia, e este tipo de humilhação só não causa maior estrago porque sabemos que ele é fruto da arrogância, e os arrogantes nada mais são do que pessoas com complexo de inferioridade. Humilham para não se sentirem humilhados. Mas, e quando a humilhação não é fruto da hierarquia, mas de algo muito maior e mais massacrante: o desconhecimento sobre nós mesmos? Tentamos superar uma dor antiga e não conseguimos. Procuramos ficar amigos de quem já amamos e caímos em velhas ciladas armadas pelo coração. Oferecemos nosso corpo e nosso carinho para quem já não precisa nem de um nem de outro. Motivos nobres, mas os resultados são vexatórios. Na maioria das vezes, é a carência afetiva que nos leva a nos submetermos a essas situações. É a fome de afeto que sentimos em alguma época da nossa vida e, alguns, durante a vida inteira. É como se algo estivesse faltando. É uma sensação de vazio interior, de isolamento, como se estivéssemos sozinhos neste mundo. Podemos estar rodeados de amigos, colegas de trabalho e com a família. A sensação pode vir até com alguns sintomas depressivos, desânimo, falta de interesse pelas atividades que antes causavam prazer, vontade mesmo de se isolar. Nós, seres humanos, temos uma grande necessidade de proteção e aconchego. Nascemos nus, dependentes e pequenos. Nossa primeira experiência de afeto é com um homem (pai) e uma mulher (mãe). Eles são os primeiros seres humanos que os amam e protegem. Ou pelos menos deveriam. No entanto, cada um tem uma história de vida diferente. Mesmo que tenham o afeto dos pais, alguns não sentem ou não identificam este amor materno ou paterno. E, se não foi desejada, a pessoa pode carregar consigo, durante toda a vida, o sentimento de rejeição, tristeza e abandono. E, nem sempre, fica sabendo que foi rejeitada na gravidez. E, a certa altura de sua vida, começa a viver um sentimento de falta, de vazio, de carência afetiva. A carência é um estado íntimo de insatisfação que surge da privação de alguma necessidade pessoal cujo principal reflexo é o sentimento de infelicidade. Na ótica afetiva é um processo de desnutrição que pode ter-se iniciado na infância e até mesmo em outras encarnações. Advém de desejos recalcados, expectativas não realizadas, frustrações não superadas... A maior carência humana é, sem dúvida, de afeto e carinho, sem os quis mais ninguém se sente humanizado. E não se sentir humanizado significa permitir a influência dos reflexos primitivos que provocam a ganância e a crueldade proveniente do instinto de conservação bastante acentuado.

domingo, 26 de abril de 2015

A ENERGIA VEM DE ACEITAR-SE A SI MESMO - Paulo Coelho / Martha Medeiros

Não tem a menor importância o que você esconde ou mostra ao seu semelhante – porque você sabe quem é. E se não se aceita como tal, mesmo o mais profundo ensinamento filosófico será incapaz de ter qualquer efeito. Mas quem é você? Será que entende que neste momento está cercado pela eternidade, e pode usar sua energia a seu favor? Partindo do princípio que conhece suas limitações, passe também a conhecer todas as suas possibilidades, e poderá ser chamado de um guerreiro impecável. A diferença entre um guerreiro impecável e os outros, é que aquele sabe como usar a sua força. Se você anda sentindo os efeitos da insatisfação com a sua vida, pare um momento para refletir. Será que você se aceita como você é, nesse exato momento? A auto aceitação e a consequente aceitação do outro como ele é, é uma das chaves para uma vida plena. Tanto quanto o organismo vivo tem necessidade do oxigênio para continuar vivo, precisamos nos aceitar e aceitar aos outros se desejarmos descobrir o caminho para a felicidade. Aceitação significa amar a nós mesmos exatamente como somos nesse momento. E às outras pessoas, exatamente como cada uma é nesse momento. Considerando a felicidade como um estado dinâmico, encontramos na aceitação uma lei fundamental que conduz ao amor, a paz, a saúde e a todas as outras realizações. O fato é que todo mundo, independente da posição que ocupa na vida, precisa de aceitação para ser feliz. Para colocar em prática a aceitação é preciso começar pela auto aceitação. Quem não se aceita como é, não tem possibilidade de se amar. Quem não se ama fica impedido de amar a quem quer que seja. Como alguém poderia dar aquilo que não tem? A auto aceitação permite que você assuma o controle sobre o seu destino. Quando você se aceita, deixa de colocar a sua energia em desculpas, culpas, acusações e em relacionamentos infelizes. Deixa, portanto, de atrair parceiros que funcionam como “para-raios”, enquanto você projeta neles suas dificuldades e seu medo de assumir as rédeas da sua vida. A aceitação daquilo que se é abre caminho para a conquista de realizações, através do reconhecimento das próprias fraquezas e virtudes, de onde se está e de onde se deseja chegar. Você precisa amar e aceitar a si mesmo. Demora um tempo, seja paciente consigo mesmo! É difícil mudar uma vida inteira de condicionamento de um dia para o outro. Ame a si mesmo e aprenda a ignorar pensamentos negativos. Permaneça forte e concentrado. Durante as etapas para recuperar-se, você poderá encontrar obstáculos que o deixarão frustrado e com raiva. Permaneça calmo e firme e tente liberar a raiva de um modo construtivo. Experimente escrever em um papel e rasgá-lo, ou ter um mentor em quem você confie para conversar. Independência é aceitar a si mesmo antes da aprovação alheia. É defender a própria verdade e ter humildade para mudar de opinião caso seja surpreendido por melhores argumentos. Ser independente é preferir ir ao cinema com alguém, mas não perder o filme por falta de companhia. É vibrar quando lhe abrem um champanhe, mas não deixar de comemorar sozinho, se a sua alegria basta para o brinde. Ser independente é fazer tudo o que se gosta junto de quem mais se gosta, incluindo a si mesmo.

domingo, 5 de abril de 2015

SEPARAR-SE DÓI, MAS PODE SER UMA BÊNÇÃO... - Monja Coen

Separar-se dói, mas também pode ser uma benção... É possível separar-se de alguém com respeito e com ternura. É possível um divórcio verdadeiramente amigável. Mas para isso é preciso que as duas pessoas envolvidas no processo de desfazer um laço de intimidade tenham amadurecido o suficiente para conhecer a si mesmas. Caminhamos lado a lado com algumas pessoas em alguns momentos da vida. Segundo uma professora de hatha ioga, Walkiria Leitão, “A vida é como atravessar uma ponte. Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas que nos cercam agora ou com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós.” O medo da solidão, muitas vezes, faz com que as pessoas suportem o insuportável. Ou se lamentem após uma separação, apegadas até mesmo aos conflitos conhecidos. Ainda há mulheres que sofrem violências morais e até mesmo físicas de seus companheiros ou companheiras. Ainda há homens que sofrem violências morais e até mesmo físicas de suas companheiras ou companheiros. Como dar limites? Como conhecer esses limites? Quando os limites são desrespeitados, as dificuldades começam. Dificuldades que podem levar à separação e ao divórcio. Dificuldades que podem levar ao sofrimento filhos e filhas, animais de estimação, amigos, familiares. Caminhamos lado a lado. Ou não... Quando nos afastamos e nos distanciamos, nunca é repentino. Um processo que, se desenvolvermos a clara percepção da realidade do assim como é, poderemos prever, antecipar e até mesmo alterar o desenvolvimento do processo. Entretanto, se não conseguirmos antever o que já acontece, se colocarmos lentes fantasiosas sobre a realidade, poderemos nos desiludir e nos sentirmos traídos na confiança mais íntima do ser. Professor Hermógenes, um dos pioneiros do yoga no Brasil, fala sobre a criação de uma nova religião chamada “desilusionismo”: “Cada vez que temos uma desilusão estamos mais perto da verdade, por isso temos que agradecer.” Se você teve uma desilusão é porque não estava em plena atenção. Mas não fique com raiva nem de você nem da outra pessoa. Nada é fixo. Nada é permanente. Saber abrir mão, desapegar-se – até da maneira como tem vivido – é abrir novas possibilidades para todos. Por que sofrer? Por que manter relações estagnadas ou de conflito permanente? Ou como transformar essas relações e dar vida nova ao relacionamento? Apreciar e compreender a vida em cada instante é uma arte a ser praticada. Separar-se dói, confunde, mexe com sonhos e estruturas básicas de relacionamentos. Separação pode ser também uma bênção, uma libertação de uma fantasia, de uma ilusão. Observe em profundidade. Será que ainda é possível restaurar o vaso antigo? No Japão, as peças restauradas são mais valiosas do que as novas. Tem história, emoção, sentimento. Cuidado com o eu menor. Cuidado com sentimentos de rancor, raiva, vingança. Esses sentimentos destroem você, mais do que as outras pessoas. Desenvolva a mente de sabedoria e de compaixão. Queira o bem de todos os seres. Isso inclui você. Cuide-se bem e aprecie a sua vida – assim como é –, renovando-se a cada instante e abrindo portais para o desconhecido, o novo – que pode ser antigo, mas novo a cada instante. Mantenha viva a chama do amor incondicional e saiba se separar (se assim for) com a mesma ternura e respeito com que se uniu. Esse é o princípio de uma cultura de paz e de não violência ativa. Que assim seja, para o bem de todos os seres.
-Monja Coen é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen-Budista, com sede em São Paulo, onde promove diferentes atividades, como práticas de meditação, cursos e palestras, além de casamentos e outras cerimonias religiosas.

O AMOR EM NOSSAS RELAÇÕES DE AFETO -

Qual é a coisa mais importante da nossa existência? Queremos empregar nossos dias da melhor maneira, pois ninguém mais pode viver por nós. Então precisamos saber para onde devemos dirigir nossos esforços, qual o grande objetivo a ser alcançado? Na nossa luta para alcançar esse objetivo, colocamos um outro, ou não será o próprio objetivo?, a nossa realização no amor. O amor é realmente o que nos motiva, o que nos impulsiona a vida. Na verdade, é o amor que rege nossas vidas. Em casa, no trabalho, na sociedade, todos somos motivados, de uma maneira ou de outra, pelo amor. Está tão entranhado em nossas vidas que dele nem damos conta porque achamos que ele é algo fora de nossa realidade. Devemos entendê-lo como O Sentimento Divino que alcançamos a partir da conscientização de nossa condição de operários na obra universal, um “estado afetivo de plenitude”, incondicional, imparcial e crescente. As literaturas do mundo inteiro falam das dores do amor não realizado, a esperança do amor que quer se realizar ou a solidão do homem que não encontrou a extensão de si. Este deve ser nosso objetivo no mundo: aprender a amar. E há muito o aprender ainda. A vida nos oferece milhares de oportunidades para aprender a amar. Todo homem e toda mulher, em todos os dias de suas vidas, tem sempre uma boa oportunidade de entregar-se ao Amor. A vida não é um longo feriado, mas um constante aprendizado. E a mais importante lição que temos é: aprender a amar. Amar não apenas cada vez mais, mas cada vez melhor. O amor não é um momento de entusiasmo. O amor é uma rica, forte e generosa expressão de nossas vidas: a personalidade do homem em seu mais completo desenvolvimento. E, para construir isso, precisamos de uma prática constante. Amar é uma aprendizagem. Uma aprendizagem em que a teoria tem pouca importância. É o exercício que nos habilitará para o amor. Ninguém ama só de sentir. Amor verdadeiro é vivido. O atestado de Amor verdadeiro é lavrado nas atitudes de cada dia. Sentir é passo primeiro, mas se a seguir não vêm as ações transformadoras, então nosso Amor pode estar sendo confundido com fugazes momentos de felicidade interior, ou com os tenros embriões dos novos desejos no bem que começamos a acalentar recentemente. Mesmo entre aqueles em quem a simpatia brota instantaneamente, Amor e convivência sadia serão obras do tempo, no esforço diário do entendimento e do compartilhamento mútuo do desejo de manter essa simpatia do primeiro contato, amadurecendo-a com o progresso dos elos entre ambos. Um dos maiores sofrimentos em nossa maneira de nos relacionarmos são as sérias dificuldades na comunicação. O crescimento emocional e a maturidade afetiva são a base das relações saudáveis e de uma sociedade madura. Na verdadeira comunhão aconchega-se a mudança mais potente. A vida afetiva humana, com suas interações, relações e sua problemática intrínseca, é a trama que sustenta o mundo em todas suas esferas, tanto privadas como públicas. No entanto, as potencialidades afetivas são frequentemente asfixiadas, subestimadas, descuidadas, quando não ignoradas. Amadurecer e crescer são, antes de mais nada, tarefas individuais, e seu reflexo mais fiel se projeta no espelho da sociedade. Não se pode evoluir e crescer como ser humano íntegro sem desenvolver e amadurecer emocionalmente. Não há sociedade madura sem indivíduos íntegros. A imaturidade política, social e educativa que rege nossa cultura é expressão da imaturidade emocional dos indivíduos que a integram; sob a aparência de adultos, a grande maioria são seres que evolutivamente mal superaram a infância precoce ou a puberdade. Desenvolver o núcleo mais íntimo de nosso ser, desenvolver a própria identidade como a capacidade de formar e manter relações, constituem as propriedades mais importantes de todo ser humano. Se um ser se transforma realmente em adulto, se a pessoa atinge certa liberdade, é também livre em seus comportamentos e isto implica uma fluidez de papéis e responsabilidades nas relações interpessoais. A capacidade de amar profundamente e estabelecer autênticas relações humanas é imprescindível. Também somos capazes de criar diferentes tipos de relações e estas adquirem muitas formas: relações superficiais e sem um verdadeiro contato, modelos de dependência nos vínculos que bloqueiam a individualidade ou distorções e perturbações na comunicação. Mas, o mais importante passa inadvertido: psicologicamente, continuamos prolongando a precoce dependência emocional da infância, e com essa profundidade psíquica encaramos o mundo e a própria vida. É complexo viver, mas a maior parte da pena e do conflito é consequência direta do estado de imaturidade psicológica em que nos encontramos e que nem sequer é advertida como tal. OS TEMPOS DA VIDA Se o destino natural de todo ser humano é crescer e amadurecer: por que se torna tão difícil atingir uma verdadeira maturidade afetiva? Muitos nem sequer se propõem isso; vivem tão ocupados em atingir o sucesso, o poder, o dinheiro e o reconhecimento, projetos meramente externos, que nunca conseguem relacionar suas ânsias e suas angústias profundas com a falta de crescimento afetivo e espiritual. E muitos outros guardam o desejo de amadurecer e evoluir, mas são muitos os obstáculos que encontram, e confundidos, frustrados ou resignados, vagueiam na busca interior ou acabam consumindo fórmulas mágicas e alheias que, inevitavelmente, afastam e desviam do próprio caminho vital. O caminho do amadurecimento é um processo de diferenciação e individuação psicológica; para crescer e amadurecer como verdadeiros seres livres e íntegros é necessário separar-se emocionalmente dos pais. Nenhum ser humano pode ser atributo, objeto ou complemento submetido à dependência de outro. Quantos filhos estão fechados ao seu próprio desejo e vitalidade por pais que os pressionam com solicitação abusiva e mandatos esclerotizantes. O maior dom que os pais —verdadeiros ou substitutos— podem brindar aos filhos é separar-se e diferenciar-se deles — “cortar o cordão umbilical”— para que possam ter acesso a sua própria identidade, a um desenvolvimento emocional individual. Não só os filhos devem “deixar o pai e a mãe”. São os pais, sobretudo, que devem deixar os filhos irem embora. Alguns pais, muito poucos, permitem o crescimento e a abertura à vida, mas a grande maioria, devido às estruturas familiares rígidas e às carências emocionais próprias, freiam o processo natural de separação e diferenciação de todo crescimento. Deste modo, cresce na tensão e na culpa e, sem saber, sob um estresse crônico que será a base de muitas relações emocionais perturbadoras. A maioria das pessoas continuam sendo psicologicamente filhos –“os filhos da infância”– e a maioria dos pais continuam exercendo o papel de “pais da infância”. Assim, a relação entre pais e filhos permanece ancorada nos primeiros anos infantis ou, no melhor dos casos, na adolescência.

domingo, 29 de março de 2015

A REALIDADE DO AMOR -

Considerado o “Poderoso Chefão” dos sentimentos, todo mundo quer encontrar o grande amor. Mas, ao mesmo tempo, ninguém quer dividir tristezas e desilusões, sentir as incansáveis dores físicas, passar por torturas psicológicas ou ficar noites sem dormir. Ninguém quer ter que aguentar o outro de mau humor, suportar as diferenças, compartilhar e ceder. As pessoas querem mesmo é viver apaixonadas, curtir aquele desejo e vontade de fazer sexo todas as noites, tomar sol em uma casa de veraneio na praia ao som dos pássaros cantando e viver o sonho da família Doriana. Por isso, os amores de hoje são tão descartáveis. A cada esquina se acha alguém para se apaixonar, mas ninguém para amar. Cadê as pessoas que estão dispostas a suportar, no dia a dia, as imperfeições e que estão afim a criar problemas e, depois, resolvê-los juntas? Está tão clichê dizer eu te amo e fazer amor (que nem pode mais se chamar de amor), que andar de mãos dadas não reflete companheirismo e um elo, mas sim, só mais duas mãos e alguns passos, que podem seguir separados. O que mais me impressiona não é nem o fato do “felizes para sempre” estar quase que em extinção, mas a coragem que as pessoas têm de, quando não conseguirem fazer as coisas darem certo e enfrentarem dificuldades juntas, se consolarem com o simples “Não era pra ser…”. Porque afinal, a culpa toda é do destino. Esses dias estava tentando resolver um cubo mágico e me irritei tão fácil que obviamente não cheguei nem na primeira lateral de cores. Fiquei pensando na quantidade de coisas na vida que deixamos passar por falta de força de vontade. Com o amor é assim. Não queremos unir o azul, o amarelo, o verde, o branco e o vermelho, queremos só o vermelho e pronto. Mas para tudo e todo tipo de amor, sejam entre homens e mulheres, amigos e familiares é preciso de uma união de cores, sentimentos e mais do que isso, paciência. Tudo precisa se encaixar no lugar certo. Só que nós precisamos fazer nossa parte para que isso aconteça. Tentar, quem sabe? Muitas vezes nos contentamos em amar pela metade só porque achamos que felicidade é se manter apaixonado, sempre. Paixões são instantâneas. Isso vai e vem. São lindas, concordo, e fragmentos do amor, mas, meu caro, apesar de estourar fogos de artifício no seu estômago infelizmente não durarão por uma vida inteira. Não é só somando alegrias e momentos bonitos que se ama, é no meio da turbulência que se descobre o verdadeiro amor. Tem uma frase de Clarice que eu adoro que diz o seguinte: “Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.” E acho que isso resume tudo. Paixão e carinho caminham juntos, mas para amar precisa-se de muito mais. Não esqueça: AMOR DE VERDADE A GENTE CONSERTA, NÃO JOGA FORA...

APRENDER A ADMINISTRAR O CIÚME -

Muitos consideram que o ciúme, raiva ou inveja não são sentimentos nobres e que não podem conviver com outros sentimentos assim considerados. Ciúme e amor, no entanto, não se excluem, irmãos podem sentir ciúmes um do outro e ao mesmo tempo amarem-se. Neste ponto, não diferem dos adultos. Alguns pais ficam receosos quando decidem ter o segundo filho, por não se considerarem preparados para dividir a atenção entre eles. Outros temem causar qualquer tipo de sofrimento ao primogênito. É comum os pais se reportarem a suas próprias experiências infantis e lembrarem como se sentiram com relação aos irmãos e ao afeto de seus pais. Um recém-nascido demanda uma atenção mais intensa e imediata e o que acaba acontecendo é o primogênito sentir-se prejudicado por não ter mais a atenção exclusiva dos pais. Ciúmes segundo a Psicopatologia é uma reação frente a uma ameaça real ou imaginária, e visa eliminar os riscos da perda do ser amado. Também podemos entender o ciúme como uma emoção provinda da noção de que a pessoa amada desvia sua atenção para outro, o que coloca em risco nossa segurança afetiva. Em síntese, podemos definir ciúme como uma emoção, que pode ir do ataque físico ao choro, como uma forma de desabafar. É uma emoção normal dependendo do contexto e da intensidade. Para Freud o ciúme faz parte da natureza humana e se instala na infância, tendo como ponto central o complexo de Édipo, ou seja, o ciúme que a criança sente do pai que ama, pois este entra como um terceiro na relação entre o bebê e sua mãe. Já para alguns autores o ciúme seria o medo disfarçado em amor, ou fruto de relações narcisistas na infância. Ele passa a ser considerado anormal quando o amor entre duas pessoas visa o preenchimento narcísico daquele que sente ciúme. Para estas pessoas é muito difícil para não dizer quase impossível desenvolver e cultivar um amor verdadeiro, pois todas as suas relações (inclusas as de amizade) baseiam-se no cultivo de uma necessidade preencher um vazio próprio. Poderíamos dizer que elas não amam, apenas si amam. O relacionamento com pessoas que o ciumento julga serem inferiores a ele, geralmente se mostram perfeitamente normais, mas quando se relacionam com pessoas que ela julga serem superiores a si (no intelecto, socialmente, profissionalmente, culturalmente, etc.), é comum o resgate de sentimentos como de serem esmagadas, pisoteadas, humilhadas. Nestes casos o indivíduo se estrutura dentro de um mecanismo de defesa que visa evitar as situações de risco, passando a se relacionar apenas com pessoas que preencham suas necessidades e não ofereçam risco, neste caso há homens que só se relacionam com mulheres, indivíduos que procuram relacionamentos somente com pessoas mais novas ou com aquelas que normalmente encontram problemas relacionados a situações de discriminações (raciais, sexuais, ideológicas, etc.). Nestes casos ela se sente segura e em suas fantasias inconscientes sabe (ou pensa) que não irá sofrer. Por que as pessoas sentem ciúmes? O ciúme romântico acontece geralmente quando uma situação é interpretada pela pessoa como ameaçadora ao seu relacionamento amoroso. Para manter o relacionamento ou diminuir o ciúme, a pessoa entra em um processo que envolve vários comportamentos e pensamentos, que podem ser eficazes ou não. É normal ter ciúme? Sim, ele é uma ferramenta evolutiva que serve como um sensor de perigo e sua função é preservar o relacionamento. A ausência dele também pode prejudicar a relação a dois, deixando o parceiro com a sensação de não ser amado o suficiente. Quem é mais ciumento: o homem ou a mulher? Ambos os sexos sentem ciúmes, a diferença estaria nos motivos ou atribuições que levam ao ciúme para cada sexo, no que é sentido como a ameaça. Ciúme é doença? O ciúme não é uma doença, mas pode se tornar patológico (excessivo) ou ser sintoma de alguns transtornos, como transtorno obsessivo compulsivo, alcoolismo, demência, esquizofrenia, por exemplo. O ciúme normal seria transitório, específico e baseado em fatos reais e o patológico seria uma preocupação infundada, irracional e descontextualizada. A respeito desses transtornos, como o ciúme pode se dar? Alguns dos critérios do Transtorno da Personalidade Paranóide que podem ser relacionados com ciúmes são a suspeita sem fundamento suficiente, de estar sendo enganado pelos outros; interpretar significados ocultos de caráter humilhante ou ameaçador, em observações ou acontecimentos benignos e, mais óbvio, ter suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. Os pacientes com demência costumam ter delírios de ciúmes, além de delírios com outros conteúdos. Em pacientes com esquizofrenia, o delírio de ciúmes é um dos sintomas positivos que podem surgir. No alcoolismo pode haver idéias delirantes de ciúmes, fazendo parte de um conjunto de fenômenos psicóticos durante ou imediatamente após o consumo. Existe algum tratamento? O tratamento pode ser feito com psicoterapia (a linha cognitiva comportamental tem boa aceitação nesse sentido) e, no caso do ciúme patológico, também medicação psiquiátrica, como neurolépticos. Quando é necessário procurar ajuda profissional? Quando o ciúme está fora de controle, prejudicando o relacionamento e/ou trazendo sofrimento, a psicoterapia é indicada. Às vezes, a pessoa ciumenta demais tem ciência de que suas reações são exageradas, mas ou não consegue controlar seu impulso de defender sua relação ou sofre calada, com mil pensamentos o tempo todo sobre o que seu par está fazendo, o que ele já fez, o que ele fará. Outras vezes, a pessoa acha que seu comportamento e suas desconfianças estão certas, fundamentada em suas crenças sobre quem é seu par, como as pessoas devem agir, como os homens e as mulheres são, se o outro é confiável ou não. Em ambos os casos, o foco da psicoterapia cognitiva comportamental são esses pensamentos que atormentam ou levam ao sofrimento (seja do ciumento, seja de seu parceiro) e os pressupostos dos quais esses pensamentos vêm, as crenças sobre si, o(a) parceira(o) e os relacionamentos em geral, para tentar diminuir e controlar o ciúme. Outro foco são os comportamentos de vigiar, limitar, brigar, vasculhar, etc e as emoções associadas. Qual é a importância do tratamento para o ciúme excessivo? O ciúme excessivo passa a minar o namoro/casamento/noivado, prejudicando ambos os parceiros. Além disso, o ciúme é um dos motivos mais comuns para homicídios, sendo a vítima na maior parte das vezes a mulher (mas não exclusivamente), frequentemente como resultado do término do casamento. E a pessoa que sofre com o ciúme do parceiro? O que fazer? Quando alguém é acusado injustamente de algo, ele começa a tentar se defender, nem sempre de maneiras legais e a situação começa a ficar insuportável. A pessoa que é vítima do ciúme deve conversar com seu parceiro, explicar seus motivos para ter agido dessa ou daquela maneira na(s) situação(es) que desencadeou(aram) o ciúme, desfazer os mal entendidos, não dar motivos (reais) para que ele sinta-se inseguro e reafirmar seu interesse e amor pelo parceiro, demonstrando isso das maneiras que se adequem ao seu caso em particular. Caso o ciúme do parceiro persista é necessário procurar ajuda profissional (ver exemplo a esse respeito). Quais os primeiros sintomas do ciúme? No ciúme há avaliações cognitivas e reações emocionais. Ele envolve um misto de emoções, como medo, tristeza, raiva, ansiedade, indignação, culpa, constrangimento, dependendo da pessoa. As avaliações cognitivas podem envolver preocupação sobre o parceiro ser atraído por outros e suspeita da existência de um outro relacionamento, por exemplo. Não há "sintomas" do ciúmes, ao contrário, ele pode ser um "sintoma". Gostaria de banir o ciúme de minha mente. É possível? É possível controlar o ciúme e só senti-lo em situações contextualizadas. Banir o ciúme de vez, ou qualquer outra emoção (como ansiedade, tristeza, etc) não é possível em pessoas com o sistema nervoso íntegro e também não seria producente, já que existe um motivo para termos as emoções, são termômetros que ajudam na nossa sobrevivência e não senti-las seria tão ruim quanto sofrer com elas.