domingo, 26 de abril de 2015

A ENERGIA VEM DE ACEITAR-SE A SI MESMO - Paulo Coelho / Martha Medeiros

Não tem a menor importância o que você esconde ou mostra ao seu semelhante – porque você sabe quem é. E se não se aceita como tal, mesmo o mais profundo ensinamento filosófico será incapaz de ter qualquer efeito. Mas quem é você? Será que entende que neste momento está cercado pela eternidade, e pode usar sua energia a seu favor? Partindo do princípio que conhece suas limitações, passe também a conhecer todas as suas possibilidades, e poderá ser chamado de um guerreiro impecável. A diferença entre um guerreiro impecável e os outros, é que aquele sabe como usar a sua força. Se você anda sentindo os efeitos da insatisfação com a sua vida, pare um momento para refletir. Será que você se aceita como você é, nesse exato momento? A auto aceitação e a consequente aceitação do outro como ele é, é uma das chaves para uma vida plena. Tanto quanto o organismo vivo tem necessidade do oxigênio para continuar vivo, precisamos nos aceitar e aceitar aos outros se desejarmos descobrir o caminho para a felicidade. Aceitação significa amar a nós mesmos exatamente como somos nesse momento. E às outras pessoas, exatamente como cada uma é nesse momento. Considerando a felicidade como um estado dinâmico, encontramos na aceitação uma lei fundamental que conduz ao amor, a paz, a saúde e a todas as outras realizações. O fato é que todo mundo, independente da posição que ocupa na vida, precisa de aceitação para ser feliz. Para colocar em prática a aceitação é preciso começar pela auto aceitação. Quem não se aceita como é, não tem possibilidade de se amar. Quem não se ama fica impedido de amar a quem quer que seja. Como alguém poderia dar aquilo que não tem? A auto aceitação permite que você assuma o controle sobre o seu destino. Quando você se aceita, deixa de colocar a sua energia em desculpas, culpas, acusações e em relacionamentos infelizes. Deixa, portanto, de atrair parceiros que funcionam como “para-raios”, enquanto você projeta neles suas dificuldades e seu medo de assumir as rédeas da sua vida. A aceitação daquilo que se é abre caminho para a conquista de realizações, através do reconhecimento das próprias fraquezas e virtudes, de onde se está e de onde se deseja chegar. Você precisa amar e aceitar a si mesmo. Demora um tempo, seja paciente consigo mesmo! É difícil mudar uma vida inteira de condicionamento de um dia para o outro. Ame a si mesmo e aprenda a ignorar pensamentos negativos. Permaneça forte e concentrado. Durante as etapas para recuperar-se, você poderá encontrar obstáculos que o deixarão frustrado e com raiva. Permaneça calmo e firme e tente liberar a raiva de um modo construtivo. Experimente escrever em um papel e rasgá-lo, ou ter um mentor em quem você confie para conversar. Independência é aceitar a si mesmo antes da aprovação alheia. É defender a própria verdade e ter humildade para mudar de opinião caso seja surpreendido por melhores argumentos. Ser independente é preferir ir ao cinema com alguém, mas não perder o filme por falta de companhia. É vibrar quando lhe abrem um champanhe, mas não deixar de comemorar sozinho, se a sua alegria basta para o brinde. Ser independente é fazer tudo o que se gosta junto de quem mais se gosta, incluindo a si mesmo.

domingo, 5 de abril de 2015

SEPARAR-SE DÓI, MAS PODE SER UMA BÊNÇÃO... - Monja Coen

Separar-se dói, mas também pode ser uma benção... É possível separar-se de alguém com respeito e com ternura. É possível um divórcio verdadeiramente amigável. Mas para isso é preciso que as duas pessoas envolvidas no processo de desfazer um laço de intimidade tenham amadurecido o suficiente para conhecer a si mesmas. Caminhamos lado a lado com algumas pessoas em alguns momentos da vida. Segundo uma professora de hatha ioga, Walkiria Leitão, “A vida é como atravessar uma ponte. Nem sempre as pessoas com quem iniciamos a travessia são as mesmas que nos cercam agora ou com quem chegaremos do outro lado. Mas sempre há alguém por perto. Nunca estamos sós.” O medo da solidão, muitas vezes, faz com que as pessoas suportem o insuportável. Ou se lamentem após uma separação, apegadas até mesmo aos conflitos conhecidos. Ainda há mulheres que sofrem violências morais e até mesmo físicas de seus companheiros ou companheiras. Ainda há homens que sofrem violências morais e até mesmo físicas de suas companheiras ou companheiros. Como dar limites? Como conhecer esses limites? Quando os limites são desrespeitados, as dificuldades começam. Dificuldades que podem levar à separação e ao divórcio. Dificuldades que podem levar ao sofrimento filhos e filhas, animais de estimação, amigos, familiares. Caminhamos lado a lado. Ou não... Quando nos afastamos e nos distanciamos, nunca é repentino. Um processo que, se desenvolvermos a clara percepção da realidade do assim como é, poderemos prever, antecipar e até mesmo alterar o desenvolvimento do processo. Entretanto, se não conseguirmos antever o que já acontece, se colocarmos lentes fantasiosas sobre a realidade, poderemos nos desiludir e nos sentirmos traídos na confiança mais íntima do ser. Professor Hermógenes, um dos pioneiros do yoga no Brasil, fala sobre a criação de uma nova religião chamada “desilusionismo”: “Cada vez que temos uma desilusão estamos mais perto da verdade, por isso temos que agradecer.” Se você teve uma desilusão é porque não estava em plena atenção. Mas não fique com raiva nem de você nem da outra pessoa. Nada é fixo. Nada é permanente. Saber abrir mão, desapegar-se – até da maneira como tem vivido – é abrir novas possibilidades para todos. Por que sofrer? Por que manter relações estagnadas ou de conflito permanente? Ou como transformar essas relações e dar vida nova ao relacionamento? Apreciar e compreender a vida em cada instante é uma arte a ser praticada. Separar-se dói, confunde, mexe com sonhos e estruturas básicas de relacionamentos. Separação pode ser também uma bênção, uma libertação de uma fantasia, de uma ilusão. Observe em profundidade. Será que ainda é possível restaurar o vaso antigo? No Japão, as peças restauradas são mais valiosas do que as novas. Tem história, emoção, sentimento. Cuidado com o eu menor. Cuidado com sentimentos de rancor, raiva, vingança. Esses sentimentos destroem você, mais do que as outras pessoas. Desenvolva a mente de sabedoria e de compaixão. Queira o bem de todos os seres. Isso inclui você. Cuide-se bem e aprecie a sua vida – assim como é –, renovando-se a cada instante e abrindo portais para o desconhecido, o novo – que pode ser antigo, mas novo a cada instante. Mantenha viva a chama do amor incondicional e saiba se separar (se assim for) com a mesma ternura e respeito com que se uniu. Esse é o princípio de uma cultura de paz e de não violência ativa. Que assim seja, para o bem de todos os seres.
-Monja Coen é a Primaz Fundadora da Comunidade Zen-Budista, com sede em São Paulo, onde promove diferentes atividades, como práticas de meditação, cursos e palestras, além de casamentos e outras cerimonias religiosas.

O AMOR EM NOSSAS RELAÇÕES DE AFETO -

Qual é a coisa mais importante da nossa existência? Queremos empregar nossos dias da melhor maneira, pois ninguém mais pode viver por nós. Então precisamos saber para onde devemos dirigir nossos esforços, qual o grande objetivo a ser alcançado? Na nossa luta para alcançar esse objetivo, colocamos um outro, ou não será o próprio objetivo?, a nossa realização no amor. O amor é realmente o que nos motiva, o que nos impulsiona a vida. Na verdade, é o amor que rege nossas vidas. Em casa, no trabalho, na sociedade, todos somos motivados, de uma maneira ou de outra, pelo amor. Está tão entranhado em nossas vidas que dele nem damos conta porque achamos que ele é algo fora de nossa realidade. Devemos entendê-lo como O Sentimento Divino que alcançamos a partir da conscientização de nossa condição de operários na obra universal, um “estado afetivo de plenitude”, incondicional, imparcial e crescente. As literaturas do mundo inteiro falam das dores do amor não realizado, a esperança do amor que quer se realizar ou a solidão do homem que não encontrou a extensão de si. Este deve ser nosso objetivo no mundo: aprender a amar. E há muito o aprender ainda. A vida nos oferece milhares de oportunidades para aprender a amar. Todo homem e toda mulher, em todos os dias de suas vidas, tem sempre uma boa oportunidade de entregar-se ao Amor. A vida não é um longo feriado, mas um constante aprendizado. E a mais importante lição que temos é: aprender a amar. Amar não apenas cada vez mais, mas cada vez melhor. O amor não é um momento de entusiasmo. O amor é uma rica, forte e generosa expressão de nossas vidas: a personalidade do homem em seu mais completo desenvolvimento. E, para construir isso, precisamos de uma prática constante. Amar é uma aprendizagem. Uma aprendizagem em que a teoria tem pouca importância. É o exercício que nos habilitará para o amor. Ninguém ama só de sentir. Amor verdadeiro é vivido. O atestado de Amor verdadeiro é lavrado nas atitudes de cada dia. Sentir é passo primeiro, mas se a seguir não vêm as ações transformadoras, então nosso Amor pode estar sendo confundido com fugazes momentos de felicidade interior, ou com os tenros embriões dos novos desejos no bem que começamos a acalentar recentemente. Mesmo entre aqueles em quem a simpatia brota instantaneamente, Amor e convivência sadia serão obras do tempo, no esforço diário do entendimento e do compartilhamento mútuo do desejo de manter essa simpatia do primeiro contato, amadurecendo-a com o progresso dos elos entre ambos. Um dos maiores sofrimentos em nossa maneira de nos relacionarmos são as sérias dificuldades na comunicação. O crescimento emocional e a maturidade afetiva são a base das relações saudáveis e de uma sociedade madura. Na verdadeira comunhão aconchega-se a mudança mais potente. A vida afetiva humana, com suas interações, relações e sua problemática intrínseca, é a trama que sustenta o mundo em todas suas esferas, tanto privadas como públicas. No entanto, as potencialidades afetivas são frequentemente asfixiadas, subestimadas, descuidadas, quando não ignoradas. Amadurecer e crescer são, antes de mais nada, tarefas individuais, e seu reflexo mais fiel se projeta no espelho da sociedade. Não se pode evoluir e crescer como ser humano íntegro sem desenvolver e amadurecer emocionalmente. Não há sociedade madura sem indivíduos íntegros. A imaturidade política, social e educativa que rege nossa cultura é expressão da imaturidade emocional dos indivíduos que a integram; sob a aparência de adultos, a grande maioria são seres que evolutivamente mal superaram a infância precoce ou a puberdade. Desenvolver o núcleo mais íntimo de nosso ser, desenvolver a própria identidade como a capacidade de formar e manter relações, constituem as propriedades mais importantes de todo ser humano. Se um ser se transforma realmente em adulto, se a pessoa atinge certa liberdade, é também livre em seus comportamentos e isto implica uma fluidez de papéis e responsabilidades nas relações interpessoais. A capacidade de amar profundamente e estabelecer autênticas relações humanas é imprescindível. Também somos capazes de criar diferentes tipos de relações e estas adquirem muitas formas: relações superficiais e sem um verdadeiro contato, modelos de dependência nos vínculos que bloqueiam a individualidade ou distorções e perturbações na comunicação. Mas, o mais importante passa inadvertido: psicologicamente, continuamos prolongando a precoce dependência emocional da infância, e com essa profundidade psíquica encaramos o mundo e a própria vida. É complexo viver, mas a maior parte da pena e do conflito é consequência direta do estado de imaturidade psicológica em que nos encontramos e que nem sequer é advertida como tal. OS TEMPOS DA VIDA Se o destino natural de todo ser humano é crescer e amadurecer: por que se torna tão difícil atingir uma verdadeira maturidade afetiva? Muitos nem sequer se propõem isso; vivem tão ocupados em atingir o sucesso, o poder, o dinheiro e o reconhecimento, projetos meramente externos, que nunca conseguem relacionar suas ânsias e suas angústias profundas com a falta de crescimento afetivo e espiritual. E muitos outros guardam o desejo de amadurecer e evoluir, mas são muitos os obstáculos que encontram, e confundidos, frustrados ou resignados, vagueiam na busca interior ou acabam consumindo fórmulas mágicas e alheias que, inevitavelmente, afastam e desviam do próprio caminho vital. O caminho do amadurecimento é um processo de diferenciação e individuação psicológica; para crescer e amadurecer como verdadeiros seres livres e íntegros é necessário separar-se emocionalmente dos pais. Nenhum ser humano pode ser atributo, objeto ou complemento submetido à dependência de outro. Quantos filhos estão fechados ao seu próprio desejo e vitalidade por pais que os pressionam com solicitação abusiva e mandatos esclerotizantes. O maior dom que os pais —verdadeiros ou substitutos— podem brindar aos filhos é separar-se e diferenciar-se deles — “cortar o cordão umbilical”— para que possam ter acesso a sua própria identidade, a um desenvolvimento emocional individual. Não só os filhos devem “deixar o pai e a mãe”. São os pais, sobretudo, que devem deixar os filhos irem embora. Alguns pais, muito poucos, permitem o crescimento e a abertura à vida, mas a grande maioria, devido às estruturas familiares rígidas e às carências emocionais próprias, freiam o processo natural de separação e diferenciação de todo crescimento. Deste modo, cresce na tensão e na culpa e, sem saber, sob um estresse crônico que será a base de muitas relações emocionais perturbadoras. A maioria das pessoas continuam sendo psicologicamente filhos –“os filhos da infância”– e a maioria dos pais continuam exercendo o papel de “pais da infância”. Assim, a relação entre pais e filhos permanece ancorada nos primeiros anos infantis ou, no melhor dos casos, na adolescência.