domingo, 30 de dezembro de 2012

"RECEITA DE ANO NOVO" (Carlos Drummond de Andrade)

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, A que se deu o nome de ano, Foi um indivíduo genial, Industrializou a esperança, Fazendo-a funcionar No limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano Se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação E tudo começa outra vez, com outro número. E outra vontade de acreditar Que daqui por diante vai ser diferente." Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor de arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?). Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre."

" P E R D A S "

Amanhã, depois de meia noite, mudaremos de ano. É bem oportuno que façamos um balanço do que foi nossas vidas no ano que ora se finda e, ampliando mais a avaliação, do que temos feito de nossas vidas; que pensemos, sobretudo, as nossas perdas e o que temos feito para com elas conviver. As perdas são constantes em nossas vidas. A partir do nosso nascimento, começamos a experimentar uma sucessão de perdas, mas não somos preparados para lidar com elas. Mesmo constantes em nossas vidas, temos dificuldade em aceitá-las, o que nos provoca amargura e dor. Muitas vezes, usamos do recurso de compensação para amenizar os danos causados pelas perdas. Há quem, por exemplo, opte pelo consumismo, numa tentativa de preencher o vazio criado pelas perdas: gasta o que não tem e compra o que não precisa. Outros há que, sem nenhuma necessidade, começam a furtar de lojas ou de outros lugares, quando têm oportunidade para isso, numa tentativa de compensação pelo que sofreu por causa de uma perda, sobretudo a perda de alguém muito querido que morreu, ou ainda numa tentativa de preencher o vazio deixado pela perda. A morte de alguém muito próximo muitas vezes nos faz perder a direção. Diz a escritora Lya Luft que “Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização. Perder, dói! Não adianta dizer NÃO SOFRA, NÃO CHORE; só não podemos ficar parados no tempo chorando nossa dor diante das nossas percas. Com as perdas, só há um jeito: perdê-las. Com os ganhos, o proveito é saborear cada um como uma boa fruta de estação." Augusto Cury, por sua vez, nos diz que “uma pessoa imatura pensa que todas as suas escolhas geram ganhos. Uma pessoa madura sabe que todas as escolhas tem perdas.” Morte. A palavra, por si só, já carrega um peso. É a única certeza que temos na vida, a de que todos morreremos um dia. Mas é difícil se preparar para perder alguém. Algumas almas elevadas conseguem lidar bem com as perdas, mas acredito que a grande maioria das pessoas não está pronta para ver arrancado de sua vida alguém que ama. A gente sente uma saudade diferente. É uma saudade amarrada pela certeza de que nunca vai passar. É uma saudade que vai ser eterna. A gente apenas se acostuma a conviver com a ausência, mas não esquece, não deixa de sentir falta… as memórias permanecem, o peito aperta em cada lembrança, e só o tempo mesmo para acalmar o coração… A compreensão da morte vai depender da crença religiosa de cada um. Cada um interpreta o ato de morrer de uma forma diferente. Para alguns, voltaremos em uma nova encarnação; para outros, ali acaba a vida…. Teorias não faltam para tentar explicar a morte… Mas o fato é que é difícil perder alguém. Um vazio parece invadir o peito, a sensação de que você não está vivendo aquilo, uma vontade de que seja tudo um sonho, um desespero que a gente não consegue explicar… O descontrole inicial passa, e você cai na real: a pessoa já não está em sua vida, não daquele jeito a que você estava acostumado. Aquela rotina que vocês cumpriam já não existe. Você sempre espera a pessoa chegar naquela hora de costume, mas ninguém bate à porta… No horário do telefonema, ele simplesmente não toca… Ouvir a voz dando bom-dia, ouvir a voz falando qualquer coisa… As fotos trazem lágrimas, você pensa que podia ter feito tanta coisa mais, pensa que podia ter falado tanto mais, pensa que podia ter feito algo diferente, ainda que não tenha feito nada de errado… Enfrentar a morte é um processo que exige tempo para que consigamos lidar melhor com a situação, com a ausência em si… Perdemos alguém e nunca havíamos pensado no quanto dói perder alguém. Mas a vida segue seu rumo, impiedosa. Os dias continuam passando a cada 24 horas e o resto de sua vida caminha a passos largos, ainda que você precise dar um tempo de tudo. Só que hoje, não temos tempo nem para o luto. Não que ninguém deva se entregar à dor e lá ficar. Não é isso… A questão é que é impossível exigir que funcionemos como se nada tivesse acontecido. É impossível desvincular o emocional das nossas rotinas diárias. Mas a nossa sociedade apressada não quer saber disso. Não temos mais tempo para chorar. Ou então choraremos a caminho de algum lugar, ou enquanto executamos alguma atividade… A fase de luto não é fácil. Dói, machuca… nossas lembranças se viram contra nós, porque trazem à tona as imagens que gostaríamos de esquecer. O mundo não para, os segundos correm, o tempo passa… Sentimos falta de termos mais tempo pra gente. Sentimos falta de termos tempo pra ficar em casa vendo sessão da tarde e comendo pipoca… Porque um dia nós é que vamos morrer… e a perda nos faz pensar no quanto é importante nos preocupar com o que andamos fazendo das nossas vidas… E aí pensa-se: "Eu queria poder ter mais tempo pra chorar!" Um dia seremos cada um de nós, deixando esse mundo. Mas enquanto estivermos nele, escolhamos fazer o melhor pra sermos felizes e viver. Viver mesmo, dedicando tempo àquilo que nos dá prazer, a sentar com nossos amigos, a ficar deitado vendo filme… Toda perda nos faz refletir…. Vamos aproveitar cada momento que nós pudermos ter ao lado das pessoas que amamos. Aproveitar cada segundo ao lado delas… Choraremos pela perda de cada um que amamos, mas faremos brilhar no rosto um riso, por ter podido compartilhar tudo o que foi possível enquanto estávamos ao meu lado. Fazer o luto ou realizar o trabalho de elaboração simbólica da perda são expressões comuns em Psicologia e Psicanálise. Afinal, o que isso significa realmente? Uma primeira resposta é: adquirir capacidade de processar ou digerir o excesso de afetos ligados à perda, e entrar nos processos temporais, humanizando-se. Vamos partir do exemplo de uma criança que perde o pai e sente-se completamente desolada e revoltada. A ansiedade, a culpa e o penar combinados à raiva, à impotência e aos sentimentos de humilhação e desamparo tornam muito difícil aceitar, digerir e modificar os afetos que foram mobilizados. O ferimento da perda precisa ser curado, a ferida precisa ser “pensada”. Os médicos sabem que uma ferida precisa ser “pensada” com remédios e curativos. O analista, médico de feridas afetivas, pode ajudar a transformar alguns afetos, acompanhando a pessoa, escutando-a, dedicando-lhe um tempo, convidando-a a tomar uma certa distância dos acontecimentos em sua brutalidade factual, e desenvolvendo, junto a ela, palavras e pensamentos, a respeito de si e do mundo, que agem como “remédios” da alma. Os afetos transformados não deixam de ser o que são: amor, ódio, inveja, vergonha, culpa etc. Mas tornam-se digeríveis e dão colorido e riqueza à vida psíquica. Pois a dor se modifica quando a pessoa ferida começa a ser escutada com atenção e pode relatar a repercussão dos fatos em seu psiquismo e desenvolver uma interlocução que permite mudar algo na compreensão dos acontecimentos. Algo parece aprofundar-se ou ganhar nuances. Constrói-se uma nova perspectiva dentro do novo enquadramento(setting), algumas coisas se ampliam, outras se reduzem, há um remanejamento de posições e surge um insight, nova visão a respeito dos fatos, construída de forma singular pela pessoa ferida. Essa dor, pensada, é lugar de uma nova criação. Essa criação, por sua vez, ajuda a levar o tratamento um pouco mais adiante: criar é também reparar os estragos reais ou imaginários; criar é também poder agradecer pelo que se recebeu: “de um limão, fez-se a limonada”. Toda análise com base nas teorias de Melanie Klein caminha no rumo de ampliar a capacidade de o indivíduo reparar criativamente e agradecer. Ou seja, reparação e gratidão são, ao fim e ao cabo, os grandes curadores das doenças da alma. Mas curar as dores psíquicas não é anestesiar-se. Ao contrário, é ampliar as capacidades de suportá-las e transformá-las em benefício de si e dos outros. O tratamento kleiniano das ansiedades primitivas tem um inegável sentido ético. Quando isso se torna possível, o contato com a dor, em vez de mutilar ou culpabilizar de forma neurótica, torna a pessoa ferida mais capaz de assumir uma posição ativa; ela se vê compelida a descobrir seu jeito próprio de “dar a volta por cima”. A possibilidade de ser ativo, de transforma a dor em algo interessante, faz perder o medo de ser passivo; abre a possibilidade de sentir mais vivacidade e nitidez, e de se entregar a essa experiência nova – a de ser uma espécie de caixa de ressonância sensível para que a própria vida psíquica possa emergir em todas as suas tonalidades. Aos poucos, perde-se a vergonha de sentir dor psíquica, ao perceber que a dor só diminui e inspira, depois de ser acolhida, vivida, “pensada” e atravessada. As dores e perdas não são propriamente solucionadas, mas podem ser atravessadas de maneiras mais criativas e inteligentes. A dor da perda deixa de ser vista, experimentada como castigo, e passa a ser uma oportunidade de estar mais vivo, em um contato muito mais vibrante com o mundo físico e social. Trata-se de um percurso lento, que ensina a entrar nos processos temporais e a conhecer a duração, a espera. Muitas “fichas” só caem depois, um pouco mais tarde, quando houver tempo de realizar a ligação entre o que se viveu e um mundo de memórias, palavras, estímulos e sensações passadas e presentes. É preciso sonhar a perda, a morte e a situação de solidão. A realidade nua e crua da morte é muito brutal, não conduzindo a nada. É preciso fazê-la entrar em um campo de sentidos para que ela se torne aceitável. A ansiedade arcaica em bruto é uma quantidade avassaladora de afeto sem rosto e sem nome, monstruosa. Ao sonhá-la, ela entra em conexão com palavras, brincadeiras, torna-se ansiedade secundária, mais suave e suportável. Aprende-se a esperar para ver como vão ficar as coisas, o desespero diminui, e surge um tipo de esperança meio fraca, ainda acompanhada de um certo desamparo. O sentimento de ser frágil, vulnerável, não vai embora, ele obriga a descobrir um jeito de dar valor positivo à fragilidade humana, associando-a a algum ganho, tornando a pessoa mais sensível e humana. Isso tudo é o que comumente chamamos de “atravessar um luto”, é perder para ganhar em delicadeza, insight, novas formas de sentir prazer e fazer contatos. Parece elementar, mas dificilmente consegue-se atravessar tudo isso sozinho; o processo exige a companhia de alguém que suporte a travessia sem atrapalhar muito, sem ficar muito ansioso e apressado. O luto é um procedimento comum, parecido com a digestão biológica, existe para “deixar passar o passado” e para abrir o futuro. Entretanto, apesar de ser tão básico, mobiliza um montante tão insuportável de afetos que é algo do qual tentamos fugir através de todas as maneiras possíveis e imagináveis. Fugindo dele, perde-se o contato com o mundo e mergulha-se na depressão, nos estados maníaco-depressivos e na melancolia. Quem não sente a dor e não realiza o luto de suas expectativas onipotentes infantis e magalomaníacas, entra em depressão, no sentido patológico. Muitas vezes, confunde-se essa depressão melancólica com uma boa e salutar capacidade de tristeza: é preciso poder entristecer-se diante do que na vida vai sendo perdido, vai ficando para trás, mas sem o que a vida estanca e se repete, sem que nada de novo possa surgir pela frente. A “posição depressiva”, desde que bem atravessada, dá lugar à capacidade de entristecer-se sem se desesperar.

" EU SOU A LUZ " (Oração psicografada por Chico Xavier)

"Eu sou a Luz, sob cujos raios se aclamaram a pureza de tuas intenções e nobreza de teus sentimentos! Quando se extinguir o ânimo para arrastares as vicissitudes da vida e te achares na iminência de desfalecer, chama-Me... Eu sou a Força capaz de remover as pedras do caminho e sobrepor-te às adversidades do mundo! Quando, inclementes, te açoitarem os vendavais da sorte e já não souberes onde reclinar a cabeça, corre para junto de Mim... Eu sou o Refúgio em cujo seio encontrarás guarida para o teu corpo e tranquilidade para o teu espírito! Quando te faltar calma, nos momentos de maior aflição e te considerares incapaz de conservar a serenidade de espírito, invoca-Me... Eu sou a Paciência que te faz vencer os transes mais dolorosos e triunfar nas situações mais difíceis! Quando te debateres nos paroxismos da dor e tiveres a alma ulcerada pelos abrolhos, grita por Mim... Eu sou o Bálsamo que cicatriza as chagas e te minora os padecimentos! Quando o mundo te iludir com suas promessas falazes e perceberes que ninguém pode inspirar-te confiança, vem a Mim... Eu sou a Sinceridade que sabe corresponder à franqueza das tuas atitudes e excelsitudes de teus ideais! Quando a tristeza e a melancolia te povoarem o coração e tudo te causar aborrecimento, chama por Mim... Eu sou a Alegria que insufla um alento novo e te faz conhecer os encantos de teu mundo interior! Quando um a um te fenecerem os ideais mais belos e te sentires no auge do desespero, apela por Mim... Eu sou a Esperança que te robustece a fé e te acalente os sonhos! Quando a impiedade recuar-te as faltas e experimentares a dureza do coração humano, procura-Me... Eu sou o Perdão que te levanta o ânimo e promove a reabilitação do teu espírito! Quando duvidares de tudo, até de tuas próprias convicções e o ceticismo te avassalar a alma, recorre a Mim... Eu sou a Crença que te inunda de luz o entendimento e te habilita para a conquista da felicidade! Quando já provares a sublimidade de uma afeição terna e sincera e te desiludires do sentimento de teus semelhantes, aproxima-te de Mim... Eu sou a Renúncia que te ensina a olvidar a ingratidão dos homens e a esquecer a incompreensão do mundo! E quando, enfim..., quiseres saber quem sou Eu, pergunta ao riacho que murmura e ao pássaro que canta, à flor que desabrocha e à estrela que cintila, ao moço que espera e ao velho que recorda... Chamo-Me AMOR... o remédio para todos os males que te atormentam o espírito! EU SOU JESUS!"

" JESUS, O CRISTO "

Véspera de Natal do Cristo. Falaremos, então,sobre o aniversariante mais ilustre do c calendário cristão. Publios Lentulus, governador da Judéia, predecessor de Pôncio Pilatos, assim descreveu Jesus, o Cristo de Deus: “É um homem de estatura regular. A sua cabeleira tem até as orelhas a cor das nozes maduras, e daí até os ombros tinge-se de um louro claro brilhante; divide-a uma risca ao meio à moda nazarena. A sua barba, da mesma cor da cabeleira, é encaracolada, não longa e também repartida ao meio. Os seus olhos severos tem o brilho de um raio de sol, ninguém O pode olhar em face. As suas mãos são belas como os seus braços. É belo. Sua mãe, aliás, é a mais bela das mulheres que já se viu neste país. Não é visto amiúde em público, e quando aparece apresenta-se modestissimamente vestido. Anda descalço e de cabeça descoberta. O seu porte é muito distinto. Em sua fisionomia se reflete tal doçura e tal dignidade que a gente se sente obrigada a amá-lo e temê-lo ao mesmo tempo. Muitos riem quando ao longe o enxergam; desde que, porém, se encontram em face dele, tremem e admiram-no. Toda a gente acha a sua conversação agradável e sedutora. Quando ele acusa ou verbera, inspira o temor, mas logo se põe a chorar. Até nos rigores é afável e benévolo. Diz-se que nunca ninguém o viu rir, mas muitas vezes derramar lágrimas. Se bem que nunca houvesse estudado, esse homem conhece todas as ciências. Dizem os hebreus que nunca viram um homem semelhante, nem doutrina igual à sua. Muitos crêem que ele seja Deus. Diz-se ainda que ele nunca desgostou ninguém, antes se esforça para fazer toda gente venturosa. Todos os dias se ouvem contar dele coisas maravilhosas. Numa palavra, ele ressuscita os mortos e cura os enfermos. O povo o considera um profeta, e os seus discípulos, o filho de Deus, criador do céu e da terra.”
No comentário ao nº 226 de O Livro dos Espíritos, o codificador Alan Kardec estabelece que, quanto ao estado no qual se encontram os espíritos podem ser encarnados, errantes ou puros. Acerca dos puros, dizem os espíritos superiores: "Não são errantes... Esses se encontram no seu estado definitivo." Tal é a condição espiritual de Jesus: a dos espíritos puros, ou seja, a dos espíritos que "percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria" (Ob.cit.,nº 113). Apesar de integrar o número dos que "não estão mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis", dos que "realizam a vida eterna no seio de Deus" (id. Ibid.), entre nós, por missão, o mestre encarnou-se. Conforme o nº 233 de O livro dos espíritos esclarece, "os espíritos já purificados descem aos mundos inferiores", a fim de que não estejam tais mundos "entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los". É bem verdade que no comentário ao nº 625 da mencionada obra, Allan Kardec apresenta Jesus como "o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na Terra", em quase exata conformidade com o que diz sobre os espíritos superiores, os quais, segundo ele: "Quando, por exceção, encarnam na Terra, é para cumprir missão de progresso e então nos oferecem o tipo da perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo" (nº 111). Contudo, o sacrifício tipicamente missionário de um retorno à Terra, mesmo quando já não há necessidade desse tipo de experiência para evoluírem, é meritório aos espíritos superiores, do ponto de vista de sua progressão, pois não integram ainda a classe dos puros espíritos, não se encontram ainda no seu "estado definitivo". Alguns entendem que este seria o caso de Jesus de Nazaré. Ele teria atingido a perfeição, ou mesmo, um grau evolutivo mais alto entre os filhos do Homem somente após o cumprimento de sua missão, o que, alias, é sugerido pelo autor da Epístola aos hebreus, o qual entende que Jesus, por seus sacrifícios, teria passado, de `sacerdote', à condição de `sumo sacerdote' da ordem de Melquisedeque. A codificação espírita, todavia, não termina em O livro dos espíritos, começa nele. Allan Kardec desenvolveu e aprimorou o conceito espírita sobre a condição espiritual de Jesus como fez com relação a outros temas. Se não, vejamos. Já mesmo em O livro dos médiuns, obra que constitui, segundo o próprio codificador, a seqüência de O livro dos espíritos, Allan Kardec passou a classificar Jesus como espírito puro. Na nota que escreve à dissertação IX do cap. XXXI, distingue, com absoluta clareza "os espíritos verdadeiramente superiores" daquele que representa "o espírito puro por excelência", por desvelada menção a Jesus Cristo. Ora, Allan Kardec diz que tais espíritos, mesmo superiores, não têm as qualidades do Cristo; de novo estabelece, portanto, diferença entre Jesus e os espíritos superiores, como fez em O livro dos médiuns, na aludida nota à dissertação IX do cap. XXXI. Segundo a revista alemã Der Spiegel o panorama estatístico de religiosos atuais do Orbe é o seguinte: Cristãos não católicos (17,0%), Cristãos católicos (16,9%), Muçulmanos (23,1%), Hindus (13,0%), Budistas (6,1%), Judeus (0,2%) e Outros (23,7%). Observa-se que 1/3 da humanidade procura seguir os ensinamentos de Jesus, e para a crença dos outros 2/3 que não "conhecem" o Cristo, apesar do mundo globalizado atual, existiram e existem outros seres luminares, porém todos foram, são e serão discípulos de Jesus. (1) Em verdade Jesus, durante milênios, enviou seus emissários para instruir povos, raças e civilizações com conhecimentos e princípios da lei natural. Além disso, há dois mil anos, veio pessoalmente ratificar os conhecimentos já existentes, deixando a Boa Nova como patrimônio para toda Humanidade. Examinando o trajeto histórico das civilizações identificamos que em todos os tempos houve missionários, fundadores de Religião, filósofos, Espíritos Superiores que aqui encarnaram, trazendo novos conhecimentos sobre as Leis Divinas ou Naturais com a finalidade de fazer progredir os habitantes da Terra. Entretanto, por mais admiráveis que tenham sido suas missões, nenhum se iguala ao Adorável Nazareno. Até mesmo porque todos eles estiveram a serviço do Mestre Incomparável, o Guia e Governador Espiritual deste mundo de expiação e provas. Kardec, na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo escolhe dentre as cinco partes o Ensino Moral, o único que não está afeito a controvérsias, podendo inclusive unir todas as crenças em torno da sua mensagem universalista. (2) Na Terra, onde se multiplicam as conquistas da inteligência (algumas resvalam e se enterram nas valas profundas das retóricas vazias) e fazem-se mais complexos os quadros do sentimento amarfanhado no materialismo, saibamos que Ele "no campo da Humanidade [foi o único] orientador completo, irrepreensível e inquestionável, que renunciou à companhia dos anjos para viver e conviver com os homens". (3) Nos tempos áureos do Evangelho o apóstolo Pedro, mediunizado, definiu a transcendência de Jesus, revelando que Ele era "o Cristo, o Filho de Deus vivo" (4) . No século XIX o Espírito de Verdade atesta ser Ele "o Condutor e Modelo do Homem" (5). Para o célebre pedagogo e gênio de Lyon, o Cristo foi "Espírito superior da ordem mais elevada, Messias, Espírito Puro, Enviado de Deus e, finalmente, Médium de Deus."(6) Não há dúvidas que Jesus foi o Doutrinador Divino (7) e por excelência o "Médico Divino", (7) segundo André Luiz.Por sua vez, Emmanuel o denomina de "Diretor angélico do orbe e Síntese do amor divino". (9) Quando Allan Kardec questionou os Espíritos sobre quem teria sido o ser mais evoluído da Terra, recebeu uma resposta tão curta quanto profunda: "Jesus!". Sua lição é não só a pedra angular do Consolador Prometido, da Doutrina dos Espíritos, mas a régua de medida, o referencial universal com que aferiremos o nosso proceder, o nosso avanço ou o nosso recuo no processo de espiritualização que nos propusermos: a visão real do que somos no íntimo de nossa consciência e quão perto ou distante estejamos do amado Mestre Jesus que nos exorta a amarmos uns aos outros como Ele nos amou. (10) Amado por uns, odiado por outros, indiferente para muitos, Jesus deixou ensinamentos muito singelos mas profundos, ele aplicou a filosofia que difundia, desconcertando os inimigos gratuitos, granjeando apoios no povo e confundindo os restantes. Aos Espíritas sinceros cumpre não perder de vista essa realidade de suma importância - a total vinculação do Espiritismo com os ensinos de Jesus, o Cristianismo primitivo, pela base moral comum a ambos, sem desvios impostos pelo interesse dos homens.
Ele vela pela nau terrestre e Se compadece de cada um de nós, facultando-nos recomeço e paz. Cada palavra que o Mestre plasmou na atmosfera terrena dirige-se a todos nós, ontem , hoje e sempre independente de onde possamos estar ou do que fazemos. O Meigo Galileu transcende as dimensões da análise convencional e do grau de desenvolvimento científico, moral ou espiritual do maior dos nossos intelectuais, porquanto Ele já era o construtor de todo o nosso Sistema Solar, quando sequer a vida neste planeta se apresentara. Hoje, ventos da transformação sopram... Há uma certa mudança no ar. E não são apenas os apelos da sociedade de consumo. Pensa-se mais no outro, pensa-se mais em presentear o outro. É o momento em que o outro toma o lugar do eu do ano inteiro. É como se houvesse no ar um certo apelo à fraternidade, como se os mensageiros de Deus viessem lembrar aos homens sua vocação para o amor e soprassem os ventos da solidariedade, da misericórdia, tão esquecidos durante o ano. Precisamos entender que esses são os valores que compõem a moeda corrente de um reino que não é deste mundo, mas que começa neste mundo, de cujo regente comemoramos o nascimento. O reino de Jesus não é deste mundo, Ele bem o disse. Sua realeza nasceu do mérito pessoal e sobrepôs-se ao tempo. Para ter lugar neste reino é preciso abnegação, humildade, caridade em toda a sua prática cristã, e benevolência para com todos. Lá não se pergunta que posição se ocupou, mas o bem que se fez, as lágrimas que se enxugou. São os atalhos mais difíceis que nos levam para lá. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” “Todo aquele que bebe da minha água não terá mais cede.” “Vinde a mim todos vós que vos achais fatigados e angustiados e eu vos aliviarei.” São as melhores certezas e promessas que Jesus nos afirma constantemente através dos séculos. Deus, em sua infinita paciência, continua a esperar que entendamos e escolhamos os caminhos que nos poderão levar a esse reino. Jesus sempre viveu em si mesmo os ensinamentos e conceitos salvadores passados ao homem terreno e o conteúdo do seu Evangelho é o mais avançado Código de Leis de aperfeiçoamento espiritual. Hoje, as criaturas estão tomadas pela desconfiança; duvidam da ciência que lhes dá o conforto material, mas não lhes ameniza a angústia do coração; descrêem de todas inovações sociais e educativas, que planejam um futuro brilhante mas não proporcionam a paz de espírito. No entanto, Jesus, o “mito” esquecido pela história profana, ainda é o único medicamento salvador do homem moral e psiquicamente enfermo do século atual. Só o Seu Amor e o seu Evangelho poderão amainar as paixões humanas e harmonizar os seres numa convivência pacífica e jubilosa. Ele deve ser recebido como um apelo a transformações profundas na nossa vida diária, sobretudo diante dos outros, irmãos porque acolhidos pelo mesmo Pai. A terra comemora a vinda daquele que veio reajustar os ensinamentos dos seus predecessores. “Já um pequenino se acha nascido para nós, e um filho dado a nós, e o nome com que se apelidará será Deus forte, Pai do futuro século, Príncipe de Paz. O seu império se estenderá cada vez mais e a Paz não terá fim”, anunciava o profeta Isaías, tocado pela graça do Senhor e pressentindo essa “descida vibratória” do Mestre. O Natal não é mais que a renovação do apelo dirigido a cada homem de boa vontade para que a missão daquele que foi enviado se concretize na realização do grande projeto de Deus que quer a perfeição para cada uma de suas criaturas. Viver o espírito de natal hoje é pendurar na árvore da própria vida valores apregoados pelo Cristo e que tem a força do brilho de mil luzes: o amor, a solidariedade, a misericórdia, a compaixão, a indulgência, a caridade...

domingo, 16 de dezembro de 2012

"O ESPIRITISMO E AS OUTRAS RELIGIÕES"

A palavra ‘religião’ vem do latim, do verbo 'religare', que significa 'religar'. A partir de sua própria etimologia, a função de uma religião deve ser a de tentar levar seus seguidores a estabelecer ligação com o plano espiritual. Hoje religião se mostra tão somente como um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelece os símbolos que relacionam os seus seguidores com a espiritualidade e seus próprios valores morais. Muitas religiões têm narrativas, símbolos,tradições e histórias sagradas que se destinam a dar sentido à vida ou explicar a sua origem e do universo. As religiões tendem a derivar a moralidade, a ética, as leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana, passando a ser tão somente um sistema regulador da moral daqueles que a professam, através de constantes ameaças de punição. É uma tentativa de agradar a um deus desconhecido que “precisa” ficar satisfeito para não se encolerizar e mandar castigos para aqueles que se rebelam contra sua suposta lei. Lembremo-nos que Deus É. Consequentemente, Ele não precisa de mim, nem de ninguém. Nós, na verdade, somos os necessitados. Toda religião ensina e tenta tornar seus seguidores em pessoas éticas. A ética da convivência pacífica e honesta. Ora, como se pode então conceber alguém que se diz católico, ou evangélico ou espírita e leva uma vida de desonestidades, de falta de respeito para consigo mesmo e, sobretudo, para com os seus semelhantes? Como se pode compreender alguém que professa uma ética religiosa e vive uma vida de orgulho, prepotência e arrogância? E muitos ainda ainda argumentam que assim são e os outros que os aceitem assim. Onde ficam, então, as propostas do Cristo a quem dizem ser seguidores que nos convocam a mudanças íntimas para que possamos alcançar a verdadeira felicidade? A palavra religião é muitas vezes usada como sinônimo de fé ou sistema de crença, mas a religião difere da crença privada na medida em que tem um aspecto público. A maioria das religiões tem comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui a adesão ou filiação, congregações de leigos, reuniões regulares ou serviços para fins de veneração ou adoração de uma divindade ou para a oração, lugares (naturais ou arquitetônicos) e/ou escrituras sagradas para seus praticantes. A prática de uma religião pode também incluir sermões, comemoração das atividades de um deus ou deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, iniciações, serviços funerários, serviços matrimoniais, meditação, música, arte, dança, ou outros aspectos religiosos da cultura humana. A pergunta feita atualmente e com certa frequência é “Religião salva?”. E a resposta é “NÃO”. Nem o Espiritismo ou qualquer outra religião salva. Primeiro, entendamos que ‘salvar’ é um verbo que inclui ‘de que’. Salva-se de um perigo, por exemplo. Se uma religião insiste em salvar é porque existe uma ameaça declarada ou velada para me levar a um determinado comportamento. ‘Salvar’ é tomar consciência da Verdade e o que faz o Espírito se salvar, nesse sentido, é o esforço da pessoa em praticar boas ações, instruir-se para vencer suas más inclinações, adquirir sabedoria e fazer todo o bem possível ao seu próximo. O que salva é a doutrina de Jesus, explicitada em seu Evangelho. Para os que ainda não sabem, Jesus é a entidade, ou espírito, responsável pelo nosso planeta Terra. Ele esteve aqui, no plano físico para revelar a Lei na sua maior clareza. Todo aquele que a compreende e a vivencia em espírito e verdade, entrará no Reino de Deus, ou seja, no mundo do entendimento da realidade. Antes de partir, depois de Sua experiência entre nós, Jesus Cristo nos prometeu o Consolador Prometido e o Consolador Prometido por Jesus é a Doutrina Espírita. Ela veio fazer renascer no mundo a doutrina do Cristo, o Cristianismo, que estava esquecida, abafada pela falta crença(ceticismo) do século XIX.. Trouxe as explicações necessárias às palavras de Jesus, que permaneceram envoltas em um véu desde o seu aparecimento. Alargou os horizontes do conhecimento humano falando ao homem de suas origens, de seu destino e de seu objetivo como Espírito imortal. O Espírito de Verdade é a expressão do pensamento divino manifesto nos Espíritos Superiores responsáveis pela Codificação kardequiana. É um grupo de Espíritos que trabalham em nome do Bem e para estabelecimento do Reino de Deus na face da Terra. O Espiritismo é, pois, uma doutrina cristã. O Espiritismo é muito mais do que uma religião. No Evangelho Segundo o Espiritismo, há um texto do Espírito de Verdade, no capítulo VI, item 5, que assim nos fala: "Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana...". E ainda um comentário de Alan Kardec, no capítulo XVII, item 4, que resume: "O Espiritismo não cria uma nova moral, mas facilita aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo ao dar uma fé sólida e esclarecimento aos que duvidam ou vacilam". Rejeitar o caráter cristão do Espiritismo é rejeitar toda a essência da doutrina, que é a mesma da doutrina de Jesus. Os intelectuais, de uma maneira geral, rejeitam secularmente a religião ou tudo o que se envolve com ela, pois julgam que tais instituições são castradoras da liberdade. Mas, no caso de intelectuais espíritas, tal atitude é incompreensível. Os ensinamentos dos Espíritos superiores resumem a questão, dizendo que o Espiritismo não só é cristão, como é o próprio Cristianismo que ressurge mais forte, trabalhando com a racionalidade, ampliando o conhecimento do homem e endereçando o mesmo ao entendimento de si mesmo.
O que mais é motivo de rejeição por parte dos adeptos de outras religiões, católicos e evangélicos, é a REENCARNAÇÃO. Exatamente o fato que fundamenta a justiça divina e dá mais lógica e sentido às nossas vidas. Para entender o Espiritismo, é preciso saber que a base de toda a religião está exposta nas cinco obras de Allan Kardec. O Espiritismo é uma fé e uma doutrina cujas manifestações – contato com espíritos, regressões a vidas passadas e textos psicografados – poderiam ser comprovadas através do método dedutivo herdado da ciência. Segundo o Espiritismo, todo homem é um médium, um canal de comunicação entre os vivos e os espíritos. Por isso, não existe um papa espírita nem qualquer tipo de hierarquia dentro da religião (a ausência de paramentos e cerimoniais também é uma característica “racionalista” dentro da fé espírita). Nos centros espíritas, por exemplo, a função de liderança geralmente está reservada ao médium mais experiente ou ao próprio fundador do centro. A simplicidade pregada pelo Espiritismo também estaria explicitada pela inexistência de grandes rituais de passagem como casamentos, batismos e enterros. Isso porque os espíritas acreditam ser desnecessário o vínculo com Deus – “a inteligência suprema”, como prega Allan Kardec. Céu, inferno e diabo virtualmente não existem no horizonte espírita. Isso porque o Bem e o Mal podem estar dentro de cada um, sem que haja a necessidade de uma localização para cada um. “Fora da caridade não há salvação”, prega a mais famosa frase de Allan Kardec. Pode-se discordar ou mesmo refutar desdenhosamente os princípios do Espiritismo. Porém, é virtualmente impossível fazer troça ou ignorar o legado de respeito ao próximo difundido por essa religião. Um princípio que, tranquilamente, pode ser seguido por qualquer um que habite o nosso planeta. Acredite em Deus ou não. A religião espírita não é a religião do maravilhoso, do sobrenatural, do mágico, do oculto, do mistério, pois “toda a sua extensão é alcançável através do conhecimento” (A. Grimm). Na visão espírita, a interpretação religiosa não está isolada de outros segmentos de entendimento humano, como a ciência e a filosofia. A ciência, a filosofia e a religião são interdependentes e se completam, resultando em um quadro muito mais amplo de entendimento do ser humano e da vida do que cada uma delas consideradas isoladamente. Para a Doutrina, a religião não necessita de templos, de cultos, de cerimônias, de rituais, de fórmulas, de prescrições, de sacrifícios, de promessas, de sacramentos. Ser religioso, para a Doutrina, não é pertencer a uma igreja, a uma instituição formal. Não há necessidade de sacerdotes; não há intermediários na ligação entre pessoa, criatura, e o seu Criador, Deus. O Espiritismo NÃO vincula a si, como as outras religiões fazem, os conceitos de salvação, de culpa, de castigo, de pecado, mas sim aos de consciência, responsabilidade, avaliação crítica dos atos praticados. A religião espírita é uma religião interior. É transformação individual e isso significa que ninguém poderá fazer algo por mim, para que eu me salve. O Espiritismo prega ,de maneira intensa e extensa, a modificação de comportamento da pessoa segundo valores que ampliam a consciência de sua unidade com o Criador. Modificar não para agradar a Deus, mas para que possa assim alcançar a felicidade que tanto deseja. O Espiritismo não é a doutrina da negação, da condenação, do não, mas a doutrina da responsabilidade e da transformação.

domingo, 9 de dezembro de 2012

" DOR E SOFRIMENTO "

O surgimento de novas formas de sofrimento no mundo moderno impõe desafios a psiquiatras, psicanalistas e psicólogos, que se ocupam cada vez mais em tentar entender, em suas atividades clínicas, a origem desse sentimento. Sofre-se por falta de emprego, por falta de um amor, pelo vazio que sentimos atualmente, e, principalmente, pela ausência de projetos e perspectivas futuros. Busca-se soluções mágicas para a cura da dor, que causa do incômodo ao mal-estar na sociedade considerada normal . O ser humano é o único dotado de um sofrimento interior, decorrente do excesso, de algo que incomoda, perturba ou provoca insatisfação. Quem não sente dor? Nem me refiro às angústias, às incertezas, aos sentimentos de inadequação, rejeição, solidão que, às vezes mais, às vezes menos, irremediavelmente nos assolam. Existe um campo da Ciência que concebe a doença mental como um excesso (a que se chama de pathos), a Psicopatologia Fundamental não pretende se ocupar das doenças existentes, mas procura trabalhar com experiências vividas no dia-a-dia da atividade clínica. O sofrimento humano não é novidade, mas constitui-se em um dos principais desafios para a Psicopatologia Fundamental. Por que nós sofremos? A teoria psicanalítica de Freud já estudava a dor humana. Para Freud, o sofrimento poderia brotar de três fontes: do corpo, do mundo externo e das relações com os outros. Depois de tanto tempo, entretanto, o sofrimento não acabou, mas adquiriu novas faces, fomentando a violência. O sofrimento é uma marca indelével do ser humano. Em todas as épocas e lugares o animal humano se deparou com o sofrer, seja este ligado ao medo de situações ameaçadoras à vida existentes no mundo natural ou ao pavor frente ao sobrenatural. É impensável excluir o sofrimento como fator essencial na formação da sociedade e suas instituições, da cultura e da religião. Essas construções humanas ao mesmo tempo em que tentam absorver o sofrível, servem para expressá-lo em suas várias possibilidades. O sofrimento aqui inclui tanto o seu lado somático como o psíquico, apesar desta distinção ser artificial uma vez que o corpo é lugar privilegiado -senão o único - para a manifestação do padecer psíquico. Seja qual for a delimitação mais adequada, o sofrimento,numa visão mais geral, se manifesta sempre ativamente, se impondo ao indivíduo. Essa vertente passiva do “sofrente” aparece contemplada na acepção comum do termo sofrimento. Houaiss o define, dentre outros significados, como “experimentar com resignação e paciência; suportar; tolerar; aguentar... não evitar ou criar impedimento para; admitir, permitir, aceitar”. Nesse sentido, uma vez acometidos pelo sofrimento, não nos resta outra possibilidade senão suportá-lo, experimentá-lo. Mas de qual sofrimento estamos falando? São todos iguais os desconfortos causados por uma depressão, uma ansiedade brutal, um pavor de estar sendo perseguido? Se não existe algum antídoto contra a angústia, como é que fica o bem-estar, a felicidade tão aspirada e propósito último dos homens? Se há um consenso invisível sobre o sofrimento em sua força inescapável, a pergunta essencial que nos assalta a partir daí é: Qual a intensidade e/ou a qualidade do sofrimento que devo considerar como sendo um elemento próprio à minha existência? As novas formas de sofrimento enfrentadas pela sociedade contemporânea são criadas em torno de modificações sociais e políticas às quais fomos submetidos. Globalização, neoliberalismo, processos de ajuste econômico, tudo contribuiu para o surgimento dos novos deprimidos e angustiados no mundo pós-moderno, e é fato que a sociedade de consumo controla o indivíduo. Os shoppings, por exemplo, passaram a ser templos da nova religião que se impôs no mundo moderno e, nesse lugar, não há espaço para o sofrimento. As pessoas padecem de uma falta de identidade e, em função disso, surgem as novas patologias, as novas doenças. Outra fonte de nosso sofrimento é o amor. Ou pelo menos o que chamamos ou conhecemos como amor. "Amor é fogo que arde sem se ver/é ferida que dói e não se sente/é um contentamento descontente/ é dor que desatina sem doer". Da poesia lírica de Luís de Camões ou dos versos da música de Renato Russo, pode-se retirar a essência de um dos temas mais atuais para os estudos da psicologia e da psicanálise: o sofrimento. As manifestações da arte, como por exemplo a literatura, a música e o teatro, conseguem ser a mais completa expressão do significado exato do sofrer para os seres humanos. Tradicionalmente, na literatura, amor e paixão são sinônimos de sofrimento. O fato é que o ser humano, em geral, experimenta uma sensação eterna de incompletude. Na verdade, somos todos doentes de incompletude. Assim como mudaram as formas de sofrimento no mundo moderno, também surgiram novos casos de depressão e melancolia. Os deprimidos e melancólicos dos estudos de Freud, deixavam-se morrer. Hoje, os deprimidos, tomados por uma sensação de vazio, buscam ativamente a destruição. Os melancólicos e deprimidos são os que possuem menor tolerância a estados de falta de satisfação. Pessoas com experiências infantis dolorosas levam-nas a uma depreciação completa de si mesmas. Para esses deprimidos, existe o ‘eu’ ideal e o ‘eu’ real, que se encontram muito distantes um do outro. Assim, os prazeres possíveis não valem a pena porque não são suficientes para fechar a distância que separa os dois ‘eus’ .. Lembremo-nos ainda que doenças orgânicas podem ser desencadeadas por estados depressivos e/ou melancólicos. Em sentido geral, dor é a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anormal de um órgão. Por extensão, o termo se aplica a sentimentos de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que podem repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar. Por outro lado, sofrimento é a dor física ou moral. Segundo o Espiritismo, quando enfrentado pelo indivíduo com coragem e resignação torna-se fator de aperfeiçoamento espiritual De acordo com a medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas. Falemos da NECESSIDADE DA DOR - A dor física anuncia que algo em nós não vai bem e precisa de melhora. Embora sempre queiramos fugir dela, ela nos oferece a oportunidade de reflexão — volta para o nosso interior —, objetivando o conhecimento de nós mesmos. Dada a grande coerência da dor, tanto sofrem os grandes gênios e como as pessoas mais apagadas. Nesse sentido, observe o sofrimento anônimo daqueles que dão exemplo de santidade aos que lhe sentem os efeitos, mesmo ocultos e sigilosos. Aprendamos que a dor não é castigo: é contingência inerente à vida. DOR X SOFRIMENTO -
A dor é fisiológica; o sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na dor. A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda. A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. O sofrimento, mais profundo do que a simples dor sensível e que afeta toda a existência, também tem a sua razão de ser. É através dele que o homem se insere na vida mística e religiosa. Por mais real que seja a razão de um sofrimento, não basta apenas a coragem para enfrentá-lo; necessitamos também do estímulo místico, ou seja, da religião. (Idígoras, 1983) "O sofrimento é próprio do nosso estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria". "O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida". "O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação". "Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador". "O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida". "É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor". (Equipe Feb, 1995) As religiões, em geral, nos ensinam a noção de castigo que está relacionada com a ofensa a Deus. Dependendo do grau da ofensa, o castigo pode ser eterno. Ao ofender a Deus, o crente sofre e, com isso, a sua vida se torna um vale de lágrimas. O Espiritismo, ao contrário, ensina-nos que todos os nossos sofrimentos estão afeitos à lei de ação e reação. Allan Kardec, no capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata do problema das aflições, mostrando-nos a sua justiça. Fala-nos das causas atuais e anteriores das aflições, do suicídio, do bem e mal sofrer, da perda de pessoas amadas, dos tormentos voluntários etc. Estudando pormenorizadamente este capítulo vamos aprender que Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, deixa sempre uma porta aberta ao arrependimento e o ressarcimento da falta cometida. É da Lei Divina que o ser humano receba, em si mesmo, o que plantou, nesta ou em outras encarnações. A lei de causa e efeito nos mostra que tudo o que fizermos de errado nesta ou em outras vidas deve ser reparado. O primeiro passo é o remorso. O remorso é um estado de alma que nos faz remoer o que fizemos de errado, mostrando as nossas falhas e os nossos deslizes com relação à lei natural. O arrependimento, que vem em seguida, torna-nos mais humildes e mais obedientes a Deus. Depois de remoída e arrependida, a falta deve ser reparada, por isso o resgate. Remorso, arrependimento e resgate fecham o ciclo de uma determinada dor, de um determinado sofrimento. Embora possamos receber ajuda externa (por exemplo, de um mentor espiritual), a solução está dentro de nós mesmos, pois implica determinação na mudança de atitude e comportamento. Allan Kardec, no cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz-nos que todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Naquele que não crê na vida futura, as aflições se abatem com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem suavizar-lhe a amargura. O jugo será leve desde que obedeçamos à lei. Mas, que lei? A lei áurea deixada por Jesus: "Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito". Praticando-a, vamos atualizando as nossas potencialidades de justiça, amor e caridade, primeiramente com relação a Deus e, em seguida, com relação a nós mesmos e ao nosso próximo.

" D E F I N I T I V O "

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"Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido juntos e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos, não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos, não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias, se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos, não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento,perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional..." - (Texto atribuído a Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

" PERDOAR " - Joanna de Ângelis

Sim, deves perdoar! Perdoar e esquecer a ofensa que te colheu de surpresa, quase dilacerando a tua paz. Afinal, o teu opositor não desejou ferir-te realmente, e, se o fez com essa intenção, perdoa ainda, perdoa-o com maior dose de compaixão e amor. Ele deve estar enfermo, credor, portanto, da misericórdia do perdão. Ante a tua aflição, talvez ele sorria. A insanidade se apresenta em face múltipla e uma delas é a impiedade, outra o sarcasmo, podendo revestir-se de aspectos muito diversos. Se ele agiu, motivado pela ira, usando as armas da calúnia e da agressão, foi vitimado por cilada infeliz da qual poderá sair desequilibrado ou comprometido organicamente. Possivelmente, não irá perceber esse problema, senão mais tarde. Quando te ofendeu deliberadamente, conduzindo o teu nome e o teu caráter ao descrédito, em verdade se desacreditou ele mesmo. Continuas o que és e não o que ele disse a teu respeito. Conquanto justifique manter a animosidade contra tua pessoa, evitando a reaproximação, alimenta miasmas que lhe fazem mal e se sacia da alienação com indisfarçável presunção. Perdoa, portanto, seja o que for e a quem for. O perdão beneficia aquele que perdoa, por propiciar-lhe paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental. Felizes são os que possuem a fortuna do perdão para a distribuir largamente, sem limite. O perdoado é alguém em débito; o que perdoou é espírito em lucro. Se revidas o mal, és igual ao ofensor; se perdoas, estás em melhor condição; mas se perdoas e amas aquele que te maltratou, avanças em marcha invejável pela rota do bem. Todo agressor sofre em si mesmo. É um espírito envenenado, espalhando o tóxico que o vitima. Não desças a ele, senão para o ajudar. Há tanto tempo não experimentavas aflição ou problema - graças à fé clara e nobre que aflora em tua alma - que te desacostumaste ao convívio do sofrimento. Por isso, estás considerando em demasia a agressão com que te atingiram, valorizando a ferida que podes de imediato cicatrizar. Pelo que se passa contigo, medita e compreenderás o que ocorre com ele, o teu ofensor. O que te é Inusitado, nele é habitual. Se não te permitires a ira ou a rebeldia - perdoarás! A mão que, em afagando a tua, crava nela espinhos está ferida ou se ferirá simultaneamente. Não lhe retribuas a atitude, usando estiletes de violência para não aprofundares as lacerações. A natureza violentada pela tormenta responde ao ultraje reverdescendo tudo e logo multiplicando flores e grãos. E o pântano infeliz, na sua desolação, quando se adorna de luar, parece receber o perdão da paisagem e a benéfica esperança da oportunidade de ser drenado brevemente, transformando-se em jardim. Que é o "Consolador", que hoje nos conforta e esclarece, conduzindo uma plêiade de Embaixadores dos Céus para a Terra, em missão de misericórdia e amor, senão o perdão de Deus aos nossos erros, por intercessão de Jesus?! Perdoa, sim, e intercede ao Senhor por aquele que te ofende, esquecendo todo o mal que ele supõe ter-te feito ou que supões que ele te fez, e, se o conseguires, ama-o, assim mesmo como ele é.

" MÁGOA E PERDÃO "

Você vai acumulando sentimentos de mágoa e uma hora você estoura! Pois é, esse não é o único problema, mais grave é quando você acumula a mágoa e desconta nos outros as dores que são suas, magoando as pessoas ao seu redor. Para evitar que isso aconteça e para lhe ajudar a extravasar, sugerimos o seguinte: 1.Aceite que algo lhe incomoda sem medo de expor seus sentimentos, assim você não intensifica a dor remoendo mágoa dos outros. 2. Detecte o que de fato lhe fez mal para não sair atirando para todos os lados. 3. Não crie expectativas em relação ao outro para não se decepcionar depois. Só você pode curar sua dor, não adianta achar que o outro vai lhe livrar do sofrimento. 4.Busque em você e na sua vida todos os recursos que podem lhe ajudar a superar sua dor: amigos, praticar esportes, terapia, entre outros. Se pergunte quais destas possibilidades fariam mais efeito na hora de trabalhar a dor que está lhe maltratando e corra atrás dela. Nem sempre o que lhe indicam é o melhor para você e, às vezes, uma conversa franca é mais útil do que uma consulta. 5-Trabalhe sua auto estima: As pessoas lhe maltratam, se você deixa que isso aconteça. É você quem escolhe as relações que quer estabelecer com as pessoas, por isso, em vez de culpar o outro pelo seu sofrimento, olhe para si mesmo e se ajude. 6-Perdoe. Perdoar não é esquecer o que lhe fez mal e sim superar e se libertar daquele sentimento ruim: só nos curamos quando viramos a página e, para isso, é preciso disposição e paciência. Não dá para achar que superou, só porque você quer se sentir assim; você tem que ser sincero para ser verdadeiro.
A CURA PELO PERDÃO - Pesquisas e estudos vêm comprovando os benefícios, tanto mentais quanto físicos, do ato de perdoar. Segundo o dicionário (Dicionário Michaelis), a palavra perdão significa “conceder perdão, absorver, remitir (culpa, dívida, pena, etc.), desculpar e poupar-se”. Sim! O ato de perdoar envolve tudo isso e ainda muito mais. Pesquisas e estudos vêm sendo desenvolvidos nesses últimos anos para mostrar e comprovar o poder e os benefícios do perdão. Porém, não é justo dizer que somente agora o mundo está se dando conta do poder do perdão. No aspecto científico, talvez, mas crença e religiões já pregam a importância do perdão há muitos e muitos anos, principalmente como um ato importante para a saúde do espírito. No ano passado, foi feita, em Michigan, EUA, uma experiência com 71 voluntários. Nela, foi pedido a eles que se lembrassem de alguma ferida antiga, uma mágoa que os tivesse feito sofrer. Nesse instante, foi registrado o aumento da pressão sanguínea, dos batimentos cardíacos e da tensão muscular, reações idênticas às que ocorrem quando as pessoas sentem raiva. E quando foi pedido que eles se imaginassem entendendo e perdoando as pessoas que lhes haviam feito mal, eles se mostraram mais calmos, e com pressão e batimentos menores. A questão principal, porém, é que o ato de perdoar não é uma das tarefas mais fáceis para nós, seres humanos. Tribos, sociedades, países, famílias e amigos já travaram e ainda travam batalhas, e verdadeiras guerras, por causa de diferenças entre as pessoas, ou devido a algum ato que desagradasse ou prejudicasse, espalhando pelo mundo ainda mais rancor e nem um pouco de paz. Mas o perdão não é impossível, nem mesmo nos casos mais graves. EM 1999, o Dr. Fred Luskin, autor de O PODER DO PERDÃO e doutor em aconselhamento clínico e psicologia da saúde pela Universidade de Stanford, criou o PROJETO DA UNIVERSIDADE DE STANFORD PARA O PERDÃO, tendo combinado em sua pesquisa dissertativa uma técnica psicoterapêutica, focando a emotividade racional, com alguns estudos sobre o impacto das emoções negativas, como raiva, mágoa e ressentimento no sistema cardíaco. Suas técnicas foram aplicadas em várias experiências, sendo uma delas com dois grupos de pessoas que foram atingidas pelos conflitos entre protestantes e católicos, na Irlanda: um grupo, de mães que tiveram seus filhos mortos; outro, de homens e mulheres que perderam algum parente. Para esse projeto, Luskin contou com a cooperação de Carl Thoreses, PhD em Psicologia, e contou com o apoio de uma militante irlandesa que há trinta anos trabalha pela paz em seu país. Os participantes foram separados em grupos experimentais e supervisionados, e passaram seis semanas tendo aulas sobre as técnicas de perdão de Luskin. Os primeiros resultados indicaram que os participantes apresentavam redução do nível de estresse, viam-se menos irados e mais confiantes e que, no futuro, eles perdoariam mais e mais facilmente. Além disso, o estudo mostrou que o perdão pode promover uma melhora na saúde física, pois esse grupo de pessoas apresentou uma diminuição significante em sintomas como dores no peito, na coluna, náuseas, dores de cabeça, insônia e perda de apetite. Os dois médicos afirmam que essa melhora psicológica e física persiste pelo menos por quatro meses; em alguns casos, ao longo desses quatro meses, a melhora continua a progredir. Luskin descreve o perdão como sendo uma forma de se atingir a calma e a paz, tanto com o outro quanto consigo mesmo. A terapia que ele propõe encoraja as pessoas a terem maior responsabilidade sobre suas emoções e ações, e serem mais realistas sobre os desafios e quedas de suas vidas. Em O Poder do Perdão, ele explica o processo de formação de uma mágoa e demonstra como tal fato possui um efeito paralisante na vida das pessoas, baseado suas afirmações em suas investigações e pesquisas, principalmente em seu Projeto da Universidade de Stanford para o Perdão. Como pode ser definido, de fato, o ato de perdoar? É simples. Perdoar é a arte de fazer as pazes quando algo não acontece como queríamos. É fazer as pazes com a palavra NÃO. O acúmulo de mágoas pode causar problemas físicos e psicológicos. Rancor e desesperança são particularmente perigosos para o bem-estar. A vida tem dificuldades frequentes. Precisamos de um caminho para superá-las e, assim, nos libertarmos... é para isso que existe o perdão. O perdão pode ser considerado como uma cura para doença físicas e mentais advindas de problemas emocionais ou psicológicos. Ele reduz a agitação que leva a problemas físicos. Perdoar reduz o estresse que vem de pensar em algo doloroso, mas não pode ser mudado. Ele também limita a ruminação que leva a sentimento de impotência que reduz a capacidade de alguém cuidar de si mesmo. O perdão é uma cura... às vezes. Ele ajuda? Muitas vezes. É possível que as pessoas possam perdoar alguém, mesmo ainda estando irada ou magoada com ela? A diminuição da ira e da mágoa vem de se vivenciar o perdão. O perdão é a experiência interior de se recuperar a paz e o bem-estar. Pode acontecer de alguém perdoar um dia, e a raiva volta depois, e isso é normal. Dessa forma, o perdão é um processo que deve ser praticado. Se você permanece falando ou pensando com rancor de alguém, então o perdão ainda não aconteceu. Existe um momento certo para dar início ao processo do perdão. O momento é logo depois do tempo necessário para vivenciar a perda. Se a pessoa perdoar de imediato, ela pode ficar com a sensação de que a pessoa perdoada estava com a razão, ou com a sensação de que um direito seu foi atingido. Como afastar ou ultrapassar essa ideia? Às vezes, a pessoa foi realmente prejudicada. O perdão não elimina esse fato; apenas o torna menos importante. A mágoa é um processo de valorização do fato. Talvez o fato não mereça que o valorizemos tanto e soframos por causa dele. O perdão implica que se pode ficar em paz, mesmo tendo sofrido um mal. Não podemos escapar de todos os males. Faz a pessoa continuar intranquila porque o problema ainda persiste. O perdão reconhece o mal, mas permite que o prejudicado leve a vida em frente. O perdão pode conviver com a injustiça e não impede que se faça as coisas justas ou adequadas. Você apenas não as faz de uma perspectiva rancorosa ou transtornada. Quando a pessoa se encontra num “processo” de perdoar alguém, pode acontecer dela perceber que ela mesma também tem culpa na situação e pode ter causado algum mal ao outro. Muitas situações são complexas e não se pode simplesmente distinguir nelas uma pessoa boa e uma ruim, mas sim duas pessoas que criaram juntas uma situação difícil. É bom lembrar que o perdão pode ser estendido à própria pessoa e que, às vezes, o perdão implica em reconciliar um relacionamento, e outras vezes, em abrir mão desse relacionamento. A ausência de perdão causa estresse sempre que se pensa em alguém que nos feriu e com quem não fizemos as pazes. Isso prejudica o corpo e provoca emoções negativas. O perdão é, pois, benéfico à saúde da pessoa que se sente magoada. O perdão tem valor em dificuldades muito variadas; dificuldades que podem envolver esposas ou maridos que enganam maridos ou esposas, crianças que sofreram abuso, sócios fraudulentos e até pessoas que tiveram seus filhos assassinados.
OS NOVE PASSOS DO PERDÃO - Segundo o Dr. Fred Luskin: 1. Saiba exatamente como você se sente sobre o que ocorreu e seja capaz de expressar o que há de errado na situação. Então, relate a sua experiência a umas duas pessoas de confiança. 2. Comprometa-se consigo mesmo a fazer o que for preciso para se sentir melhor. O ato de perdoar é para você e ninguém mais. Ninguém mais precisa saber sua decisão. 3. Entenda seu objetivo. Perdoar não significa necessariamente reconciliar-se com a pessoa que o perturbou, nem se tornar cúmplice dela. O que você procura é paz. 4. Tenha uma perspectiva correta dos acontecimentos. Reconheça que o seu aborrecimento vem dos sentimentos negativos e desconforto físico de que você sofra agora, e não daquilo que o ofendeu ou agrediu dois minutos - ou dez anos - atrás. 5. No momento em que você se sentir aflito, pratique técnicas de controle de estresse para atenuar os mecanismo de seu corpo. 6. Desista de esperar, de outras pessoas ou de sua vida, coisa que elas não escolheram dar a você. Reconheça as “regras não cobráveis” que você tem para sua saúde ou para o comportamento seu e dos outros. Lembre a si mesmo que você pode esperar saúde, amizade e prosperidade e se esforçar para consegui-los. Porém você sofrerá se exigir que essas coisas aconteçam quando você não tem o poder de fazê-las acontecer. 7. Coloque sua energia em tentar alcançar seus objetivos positivos por um meio que não seja através de experiência que o feriu. Em vez de reprisar mentalmente sua mágoa, procure outros caminhos para seus fins. 8. Lembre-se de que uma vida bem vivida é a sua melhor vingança. Em vez de se concentrar nas suas mágoas – o que daria poder sobre você à pessoa que o magoou – aprenda a buscar o amor, a beleza e a bondade ao seu redor. 9. Modifique a sua história de ressentimento de forma que ela o lembre das escolhas heróicas que é perdoar. Passe de vítima a herói na história que você contar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO SOBRE A MÁGOA

"Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado. Às vezes nos falta esperança. Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa. Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar...é nossa razão de existir. Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino. Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa. Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto. É a força da natureza nos chamando para a vida. Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, lhe traíram sem qualquer piedade. Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo. Você descobre que algumas pessoas nunca disseram ‘eu te amo’, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram... Descobre também que outras disseram ‘eu te amo’ uma única vez. E agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrado. Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatores importantes: a relação com a família, as condições econômicas nas quais se desenvolveu. (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter), os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento, seus sonhos, ideais e objetivos. Não deixe de acreditar no amor. Mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá. Manifeste suas ideias e planos, para saber se vocês combinam. E certifique-se de que quando estão juntos, aquele abraço vale mais que qualquer palavra. Esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa lhe deixar, então nada irá lhe restar. Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco. Pois em algum outro momento essa pessoa irá lhe deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado. Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário. Existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo. A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna. A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem..."

A MÁGOA SEGUNDO CHICO XAVIER -

“Fico triste quando alguém me ofende, mas, com certeza, eu ficaria mais triste se fosse eu o ofensor... Magoar alguém é terrível! Uma mágoa não é motivo pra outra mágoa. Uma lágrima não é motivo pra outra lágrima. Uma dor não é motivo pra outra dor. Só o riso, o amor e o prazer merecem revanche. O resto, mais que perda de tempo... é perda de vida." Aquele que persegue, ou seja, o provocador que faz gerar a mágoa, sofre desequilíbrios que desconhecemos e não é justo que nos afundemos, com ele, no fosso da sua animosidade. Seja qual for a dificuldade que nos impulsione à mágoa, procuremos reagir, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores. Através do cultivo de pensamentos salutares, nos manteremos acima das viciações mentais que agasalham esse magnetismo mortífero que, infelizmente, se alastra pela Terra de hoje, pestilencial, danoso, aniquilador. Incontáveis problemas que culminam em tragédias quotidianas são decorrência da mágoa, que virulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário. Buscando, através da fé sincera e raciocinada, os programas da renovação interior, é fundamental apurarmos aspirações e não nos afligirmos. Quando a provocação vier, por parte do ofensor, convém acionarmos todo o nosso empenho na direção do bem. Malsinados pela incompreensão, desculpemos. Feridos nos melhores brios, perdoemos. Se meditarmos na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não teremos outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras da nossa vida as balizas da sua província infeliz. Lembremos como nos alerta o Divino Mestre Jesus Cristo, incomparável conhecedor da alma humana, em sua mensagem dirigida aos corações de todos os tempos, através de seu exemplo incomparável de perdão: ‘Quando estiverdes orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas’.”

"COMO LIDAR COM A MÁGOA"

Na origem de nossos males – por mais que insistamos em culpar os outros - , sempre está a própria criatura, herdeira de si mesma. Alguém nos desprezou profundamente. Lançou sobre nossa alma o punhal da ironia. Do escárnio. Julgou-nos impiedosamente, afirmando que o fracasso era destino fatal em nossa vida. Olhou-nos com desdém e, com leve sorriso sarcástico, deu-nos as costas como se não tivéssemos nenhuma importância. Nesse momento, nosso peito se inflamou pela dor do descaso, o coração ardeu envolvido numa estranha aura de desamparo. Eis a mágoa. A mágoa, como já dissemos no programa anterior, pode surgir de muitos motivos: por rompimento afetivo, por maledicência, por preconceito em relação a idade, trabalho, raça, sexo, modo de ser, por ingratidão, por abandono, por traição amorosa, por discriminação social, sobretudo quando se é pobre. Aliás, ninguém consegue viver sem nunca se magoar com alguém ou com alguma coisa. A mágoa é uma das muitas emoções humanas e só não se emocionam os corpos feitos de pedra, uma vez que as emoções nas criaturas vivas revelam a importância que elas dão a si mesmas, aos outros e aos acontecimentos. Se nada nos importasse, nunca teríamos mágoa, mas isso é impossível. A importância que damos a tudo que existe mede o grau de sentimento que possuímos por algo ou por alguém. Como definir a mágoa? A palavra, que tem origem no latim macula, representa um sentimento de desgosto, pesar, sensação de amargura, tristeza, ressentimento. É um descontentamento que, embora frequentemente leve e brando, pode deixar marcas que podem durar um bom tempo. Por vezes é possível percebê-lo no semblante, nas palavras e nos gestos de uma pessoa. Aconselhar uma pessoa ofendida a imediatamente esquecer, não se magoando com a ofensa, seria o mesmo que pedir-lhe que agisse como se a agressão sofrida nunca tivesse acontecido. “Nunca se magoar e sempre esquecer” é um conselho dado por muitos. E essa pode ser uma ideia equivocada, pois a não-aceitação de uma emoção real resulta no seu deslocamento para coisas fora do mundo interior – o fato desagradável fica focalizado no exterior, e a verdadeira causa da emoção permanece no escuro. Essa postura de comportamento recebe o nome de ocultação de sentimentos ou repressão. Só conseguiremos trabalhar melhor nossas mágoas não as reprimindo nem as intensificando, mas desprendendo-nos, deslingando-nos, ou melhor, colocando-nos a certa distância mental e emocional dos fatos ocorridos e das pessoas que neles se envolveram. Isso não significa que devemos nos afastar hostil e friamente, viver alienados e impermeáveis aos problemas ou nos deixando de importar com tudo o que aconteceu, mas podemos viver mais tanquilos e menos transtornados para analisar e, por consequência, concluir que, as situações e os acontecimentos que nos cercam são reflexos ou criações materializadas dos nossos pensamentos e convicções. Acreditamos que, ao fazer o proposto “distanciamento psicológico”, teremos sempre mais possibilidades para perceber o processo interno que há por trás de toda mágoa. Paulo de Tarso nos diz, em uma carta aos efésios: “Irai-vos, mas não pequeis: não se ponha o sol sobre a vossa ira”. As palavras do apóstolo vêm confirmar essa ideia. “Irai-vos, mas não pequeis” quer dizer: admita a mágoa, não viva com emoções recalcadas, porque quem assim vive transita cotidianamente em contante irritabilidade, sem saber de onde veio, para onde vai e quanto tempo vai ficar. “Por o sol sobre a vossa ira” significa não intensificar, não reavivar fatos doloridos, não transportá-los do passado para o presente. Não se magoar é impossível, mas perpetuar ou ignorar o fato desagradável pode ser comparado ao comportamento do escorpião que, quando enraivecido, injeta veneno em si mesmo com o próprio ferrão. Perdoar não significa apenas esquecer as mágoas ou mesmo fechar os olhos pra as ofensas alheias. Perdoar é desenvolver um sentimento profundo de compreensão e aceitação dos sentimentos humanos, por saber que nós e os outros ainda estamos distantes de agir corretamente. A Doutrina Espírita possui vasta informação sobre a ação perturbadora ocasionada pela mágoa, uma vez que a concebe enraizada no orgulho e no egoísmo. Estuda a fundo seus mecanismos desequilibradores e também os meios de combate. Joanna de Angelis, espírito que psicografa através de Divaldo Pereira Franco, compara-a à ferrugem perniciosa que destrói o metal em que se origina, classificando-a como síndrome alarmante de desequilibro. A presença da mágoa, segundo a Doutrina Espírita, faculta a fixação de graves enfermidades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha. Normalmente, o sentimento de mágoa se instala nos redutos do amor-próprio ferido e aos poucos se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vitimar o hospedeiro. Ou seja, a pessoa que abriga a mágoa. Joanna de Angelis nos adverte que, se permitirmos a mágoa habitar os tecidos do sentimento, desdobra-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engendrando cânceres morais irreversíveis. Ao seu lado, instala-se, quase sempre, a aversão, que estimula o ódio, etapa grave do processo destrutivo. A mágoa, além de desgovernar aquele que a vitaliza, emite verdadeiros dardos negativos que atingem outras vítimas imprudentes, aquelas que fizeram as causadoras conscientes ou não do seu nascimento. Sua ação entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo a ação do consolo. Quem se sente magoado disfarça-se, habilmente, utilizando-se de argumentos bem arquitetados para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento. Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa que, gerando altas cargas tóxicas sobre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo psíquico com lamentáveis conseqüências nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso... À semelhança de ácido que corrói a superfície na qual se encontra, a mágoa desgasta, pouco a pouco, as peças delicadas das engrenagens orgânicas do homem, destrambelhando-lhe os equipamentos muito delicados da organização psíquica. A mágoa é conselheira impiedosa e artesã de males cujos efeitos são imprevisíveis. Penetra no âmago do ser e envenena-o, impedindo-lhe o recebimento dos socorros do otimismo, da esperança e da boa vontade em relação aos fatores que o machucam. Instalando-se, arma a sua vítima de impiedade e rancor, levando-a a atitudes desesperadas, desde que lhe satisfaça a programação vil. Exala amargura e desconforto, expulsando as pessoas que intentam contribuir para a mudança de estado, graças às altas cargas vibratórias negativas, que exteriorizam mau humor e azedume. Quem acumula mágoas coleciona lixo mental. O melhor que temos a fazer é reagir às tentativas de alojamento da mágoa nos nossos sentimentos. Nós não estamos no mundo por acaso. Estamos aqui com finalidades antes estabelecidas a que devemos tender e fazer de cada experiência, mesmo as mais amargas, oportunidade de crescimento e aperfeiçoamento. Acompanha a marcha do Sol e enriquece-te de luz, não mergulhando na sombra dos ressentimentos destrutivos. Sorri ante o infortúnio, agradecendo a oportunidade de superá-lo através dos valores éticos e educativos que já possuis, poupando-te à consumação de que é portadora a mágoa." Somos, sem dúvida, aquilo que vitalizamos pelo pensamento. Nossas ideias, nossas aspirações constituem o campo vibratório no qual transitamos e em cujas fontes nos nutrimos. Depreciando os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar a pessoa ressentida, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes de outras pessoas. O melhor meio de combatermos os malefícios da mágoa é detectarmos implacavelmente os indícios de sua presença inferior, que conspiram contra a paz íntima. O ofensor merece nossa compaixão, nunca o nosso revide. Os sentimentos ruins são frutos de expectativas frustradas. Colocamos no outro ou naquela oportunidade a responsabilidade de resolver nossos problemas como se eles não fossem consequências dos nossos próprios atos, daí a mágoa e o ressentimento.
Na medida em que não extravasamos este sentimento e vamos dando a ele uma conotação negativa maior do que de fato ele deveria ter, sufocamos nossos limites emocionais e daí aparecem os sintomas físicos. "Todos nós criamos expectativas sobre a vida e toleramos até certo limite algumas frustrações. Quando elas extrapolam este limite, que é pessoal, e nos fazem sofrer, significa que algo está em desequilíbrio e é preciso resolver. O problema é que a maioria das pessoas acha que resolver os ressentimentos é resolver com o outro aquilo que está pendente, o que deve ser feito mesmo, porém, antes disso, é preciso entender o que de fato lhe fez mal e porque ganhou tamanha dimensão na sua vida para daí buscar o equilíbrio. DUAS PERGUNTAS QUE TALVEZ VOCÊ MESMO FARIA: Por que não consigo expressar meus sentimentos? Muita gente costuma guardar a mágoa e os sentimentos ruins por não conseguir extravasar, daí vem a tristeza e a angústia. Isso acontece porque temos temperamentos e limites diferentes fazendo com que alguns enfrentem, sem traumas, as decepções do dia a dia, enquanto outros guardem e fiquem remoendo as dores. É algo muito pessoal a forma que cada um reage às adversidades. Se você é tímido, reage de um jeito; se é inseguro, age de outra maneira. O importante nesta questão é perceber que quem cria a conotação negativa que gera a mágoa e o ressentimento somos nós. A pessoa pode até ter errado com você, mas a intensidade disso na sua vida quem dá é você mesmo. Sentimento reprimido é igual a saúde em perigo? A dor emocional se torna física quando a intensidade que damos ao fato que nos magoa chega a interferir na atividade cerebral de modo a dificultar o envio de estímulos nervosos responsáveis pela execução de algumas funções de nosso organismo. "O cérebro deixa de comandar alguma função e o corpo reage sinalizando onde está o problema", explica. A gente se adapta as novas situações, isso é um processo natural, porém, quando algo nos machuca a ponto de extrapolar nossos limites, a dor emocional bloqueia alguma função física que já é propensa a ter problemas ou intensifica os sintomas de alguma doença já existente. Os sintomas emocionais podem acometer três áreas interdependentes das nossas vidas de modo a influenciar umas as outras de acordo com a origem do problema emocional. "Quando a pessoa tem uma doença que tem origem emocional, dificilmente consegue desempenhar com total desenvoltura suas atividades sociais e começa a dar sinais físicos. É um conjunto de fatores que se somam e vão se acumulando. Quando o corpo reage com sintomas de alguma doença é porque a pessoa extrapolou seu limite emocional e o organismo responde tentando eliminar a dor. Você vai acumulando sentimentos de mágoa e uma hora você estoura! Pois é, isso não é o problema, o grave é quando você o faz e desconta nos outros as dores que são suas, magoando as pessoas ao seu redor. Para evitar que isso aconteça e para lhe ajudar a extravasar, sugiro o seguinte: 1. Aceite que algo lhe incomoda sem medo de expor seus sentimentos, assim você não intensifica a dor remoendo mágoa dos outros. 2. Detecte o que de fato lhe fez mal para não sair atirando para todos os lados. 3. Não crie expectativas em relação ao outro para não se decepcionar depois. "Só você pode curar sua dor, não adianta achar que o outro vai te livrar do sofrimento", diz Denise. 4.Busque em você e na sua vida todos os recursos que podem lhe ajudar a superar esta dor: amigos, praticar esportes, terapia, entre outros. "Se pergunte quais destas possibilidades fariam mais efeito na hora de trabalhar a dor que está te maltratando e corra atrás dela. Nem sempre o que lhe indicam é o melhor para você e, às vezes, uma conversa franca é mais útil do que uma consulta", explica. 5-Trabalhe sua auto estima: "As pessoas lhe maltratam se você deixa que isso aconteça. É você quem escolhe as relações que quer estabelecer com as pessoas, por isso, em vez de culpar o outro pelo seu sofrimento, olhe para si mesmo e se ajude. 6-Perdoe. Perdoar não é esquecer o que lhe fez mal e sim superar e se libertar daquele sentimento ruim: só nos curamos quando viramos a página e, para isso, é preciso disposição e paciência. Não dá para achar que superou só porque você quer se sentir assim, você tem que ser sincero para ser verdadeiro.