domingo, 9 de dezembro de 2012

" DOR E SOFRIMENTO "

O surgimento de novas formas de sofrimento no mundo moderno impõe desafios a psiquiatras, psicanalistas e psicólogos, que se ocupam cada vez mais em tentar entender, em suas atividades clínicas, a origem desse sentimento. Sofre-se por falta de emprego, por falta de um amor, pelo vazio que sentimos atualmente, e, principalmente, pela ausência de projetos e perspectivas futuros. Busca-se soluções mágicas para a cura da dor, que causa do incômodo ao mal-estar na sociedade considerada normal . O ser humano é o único dotado de um sofrimento interior, decorrente do excesso, de algo que incomoda, perturba ou provoca insatisfação. Quem não sente dor? Nem me refiro às angústias, às incertezas, aos sentimentos de inadequação, rejeição, solidão que, às vezes mais, às vezes menos, irremediavelmente nos assolam. Existe um campo da Ciência que concebe a doença mental como um excesso (a que se chama de pathos), a Psicopatologia Fundamental não pretende se ocupar das doenças existentes, mas procura trabalhar com experiências vividas no dia-a-dia da atividade clínica. O sofrimento humano não é novidade, mas constitui-se em um dos principais desafios para a Psicopatologia Fundamental. Por que nós sofremos? A teoria psicanalítica de Freud já estudava a dor humana. Para Freud, o sofrimento poderia brotar de três fontes: do corpo, do mundo externo e das relações com os outros. Depois de tanto tempo, entretanto, o sofrimento não acabou, mas adquiriu novas faces, fomentando a violência. O sofrimento é uma marca indelével do ser humano. Em todas as épocas e lugares o animal humano se deparou com o sofrer, seja este ligado ao medo de situações ameaçadoras à vida existentes no mundo natural ou ao pavor frente ao sobrenatural. É impensável excluir o sofrimento como fator essencial na formação da sociedade e suas instituições, da cultura e da religião. Essas construções humanas ao mesmo tempo em que tentam absorver o sofrível, servem para expressá-lo em suas várias possibilidades. O sofrimento aqui inclui tanto o seu lado somático como o psíquico, apesar desta distinção ser artificial uma vez que o corpo é lugar privilegiado -senão o único - para a manifestação do padecer psíquico. Seja qual for a delimitação mais adequada, o sofrimento,numa visão mais geral, se manifesta sempre ativamente, se impondo ao indivíduo. Essa vertente passiva do “sofrente” aparece contemplada na acepção comum do termo sofrimento. Houaiss o define, dentre outros significados, como “experimentar com resignação e paciência; suportar; tolerar; aguentar... não evitar ou criar impedimento para; admitir, permitir, aceitar”. Nesse sentido, uma vez acometidos pelo sofrimento, não nos resta outra possibilidade senão suportá-lo, experimentá-lo. Mas de qual sofrimento estamos falando? São todos iguais os desconfortos causados por uma depressão, uma ansiedade brutal, um pavor de estar sendo perseguido? Se não existe algum antídoto contra a angústia, como é que fica o bem-estar, a felicidade tão aspirada e propósito último dos homens? Se há um consenso invisível sobre o sofrimento em sua força inescapável, a pergunta essencial que nos assalta a partir daí é: Qual a intensidade e/ou a qualidade do sofrimento que devo considerar como sendo um elemento próprio à minha existência? As novas formas de sofrimento enfrentadas pela sociedade contemporânea são criadas em torno de modificações sociais e políticas às quais fomos submetidos. Globalização, neoliberalismo, processos de ajuste econômico, tudo contribuiu para o surgimento dos novos deprimidos e angustiados no mundo pós-moderno, e é fato que a sociedade de consumo controla o indivíduo. Os shoppings, por exemplo, passaram a ser templos da nova religião que se impôs no mundo moderno e, nesse lugar, não há espaço para o sofrimento. As pessoas padecem de uma falta de identidade e, em função disso, surgem as novas patologias, as novas doenças. Outra fonte de nosso sofrimento é o amor. Ou pelo menos o que chamamos ou conhecemos como amor. "Amor é fogo que arde sem se ver/é ferida que dói e não se sente/é um contentamento descontente/ é dor que desatina sem doer". Da poesia lírica de Luís de Camões ou dos versos da música de Renato Russo, pode-se retirar a essência de um dos temas mais atuais para os estudos da psicologia e da psicanálise: o sofrimento. As manifestações da arte, como por exemplo a literatura, a música e o teatro, conseguem ser a mais completa expressão do significado exato do sofrer para os seres humanos. Tradicionalmente, na literatura, amor e paixão são sinônimos de sofrimento. O fato é que o ser humano, em geral, experimenta uma sensação eterna de incompletude. Na verdade, somos todos doentes de incompletude. Assim como mudaram as formas de sofrimento no mundo moderno, também surgiram novos casos de depressão e melancolia. Os deprimidos e melancólicos dos estudos de Freud, deixavam-se morrer. Hoje, os deprimidos, tomados por uma sensação de vazio, buscam ativamente a destruição. Os melancólicos e deprimidos são os que possuem menor tolerância a estados de falta de satisfação. Pessoas com experiências infantis dolorosas levam-nas a uma depreciação completa de si mesmas. Para esses deprimidos, existe o ‘eu’ ideal e o ‘eu’ real, que se encontram muito distantes um do outro. Assim, os prazeres possíveis não valem a pena porque não são suficientes para fechar a distância que separa os dois ‘eus’ .. Lembremo-nos ainda que doenças orgânicas podem ser desencadeadas por estados depressivos e/ou melancólicos. Em sentido geral, dor é a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anormal de um órgão. Por extensão, o termo se aplica a sentimentos de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que podem repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar. Por outro lado, sofrimento é a dor física ou moral. Segundo o Espiritismo, quando enfrentado pelo indivíduo com coragem e resignação torna-se fator de aperfeiçoamento espiritual De acordo com a medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas. Falemos da NECESSIDADE DA DOR - A dor física anuncia que algo em nós não vai bem e precisa de melhora. Embora sempre queiramos fugir dela, ela nos oferece a oportunidade de reflexão — volta para o nosso interior —, objetivando o conhecimento de nós mesmos. Dada a grande coerência da dor, tanto sofrem os grandes gênios e como as pessoas mais apagadas. Nesse sentido, observe o sofrimento anônimo daqueles que dão exemplo de santidade aos que lhe sentem os efeitos, mesmo ocultos e sigilosos. Aprendamos que a dor não é castigo: é contingência inerente à vida. DOR X SOFRIMENTO -
A dor é fisiológica; o sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na dor. A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda. A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. O sofrimento, mais profundo do que a simples dor sensível e que afeta toda a existência, também tem a sua razão de ser. É através dele que o homem se insere na vida mística e religiosa. Por mais real que seja a razão de um sofrimento, não basta apenas a coragem para enfrentá-lo; necessitamos também do estímulo místico, ou seja, da religião. (Idígoras, 1983) "O sofrimento é próprio do nosso estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria". "O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida". "O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação". "Em todo o universo o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador". "O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida". "É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor". (Equipe Feb, 1995) As religiões, em geral, nos ensinam a noção de castigo que está relacionada com a ofensa a Deus. Dependendo do grau da ofensa, o castigo pode ser eterno. Ao ofender a Deus, o crente sofre e, com isso, a sua vida se torna um vale de lágrimas. O Espiritismo, ao contrário, ensina-nos que todos os nossos sofrimentos estão afeitos à lei de ação e reação. Allan Kardec, no capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, trata do problema das aflições, mostrando-nos a sua justiça. Fala-nos das causas atuais e anteriores das aflições, do suicídio, do bem e mal sofrer, da perda de pessoas amadas, dos tormentos voluntários etc. Estudando pormenorizadamente este capítulo vamos aprender que Deus, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas, deixa sempre uma porta aberta ao arrependimento e o ressarcimento da falta cometida. É da Lei Divina que o ser humano receba, em si mesmo, o que plantou, nesta ou em outras encarnações. A lei de causa e efeito nos mostra que tudo o que fizermos de errado nesta ou em outras vidas deve ser reparado. O primeiro passo é o remorso. O remorso é um estado de alma que nos faz remoer o que fizemos de errado, mostrando as nossas falhas e os nossos deslizes com relação à lei natural. O arrependimento, que vem em seguida, torna-nos mais humildes e mais obedientes a Deus. Depois de remoída e arrependida, a falta deve ser reparada, por isso o resgate. Remorso, arrependimento e resgate fecham o ciclo de uma determinada dor, de um determinado sofrimento. Embora possamos receber ajuda externa (por exemplo, de um mentor espiritual), a solução está dentro de nós mesmos, pois implica determinação na mudança de atitude e comportamento. Allan Kardec, no cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz-nos que todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Naquele que não crê na vida futura, as aflições se abatem com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem suavizar-lhe a amargura. O jugo será leve desde que obedeçamos à lei. Mas, que lei? A lei áurea deixada por Jesus: "Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito". Praticando-a, vamos atualizando as nossas potencialidades de justiça, amor e caridade, primeiramente com relação a Deus e, em seguida, com relação a nós mesmos e ao nosso próximo.

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