segunda-feira, 12 de agosto de 2013

CULPA E AUTO-PERDÃO -

Toda vez em que a culpa não se mostra de maneira consciente para uma pessoa, aparecem conflitos que a mascaram, levando a inquietações e sofrimentos sem aparente causa. Todas as pessoas cometem erros de maior ou menor gravidade, alguns dos quais são arquivados no inconsciente, antes mesmo de passarem por uma análise profunda sobre os males produzidos, seja de referência à própria pessoa ou a outrem. Cedo ou tarde, ressurgem de maneira inquietadora, produzindo mal-estar, inquietação, insatisfação pessoal, em caminho de transtorno de conduta. A culpa é sempre responsável por vários processos neuróticos, e precisamos enfrentá-la com serenidade e altivez. Lembre-se: todos podem errar, e isso não acontece apenas uma vez, mas várias vezes, e temos o dever de perdoar- nos, não permanecendo no erro, no equívoco, ao mesmo tempo em que nos esforçamos para reparar o mal que fizemos. Muitos males que cometemos cometemos a nós mesmos, produzindo remorso, vergonha, ressentimento, sem que haja coragem para revivê-los e liberar-se dos seus efeitos danosos. Uma reflexão em torno da humanidade de que cada qual é possuidor vai permitir entender que existem razões que o levam a reagir,quando deveria agir, a revidar, quando seria melhor desculpar, a fazer o mal, quando lhe cumpriria fazer o bem... A terapia moral pelo auto-perdão impõe-se como indispensável para a recuperação do equilíbrio emocional e o respeito por si mesmo. Torna-se essencial, portanto, uma reavaliação da ocorrência, num exame sincero e honesto em torno do acontecimento, diluindo-o racionalmente e predispondo-se a dar-se uma nova oportunidade, de forma que supere a culpa e mantenha- se em estado de paz interior. O auto-perdão, o perdão que damos a nós mesmos, é essencial para uma existência emocional tranquila. Todos têm o dever de perdoar-se, buscando não repetir o erro, desamarrando- se dos cipós constringentes do remorso. Seja qual for a gravidade do ato infeliz, é possível repará-lo quando se está disposto a fazê-lo, recobrando, assim, o bom humor e a alegria de viver. Toda e qualquer postura que assumimos na vida se prende à maneira como olhamos o mundo fora e dentro de nós, podendo nos levar a uma sensação íntima de realização ou de frustração, de contentamento ou de culpa, de perdão ou de punição, de acordo com nosso "código moral" modelado na intimidade de nosso psiquismo. Nosso "julgador interno" foi formado sobre as bases de conceitos acumulados nos tempos passados das vidas incontáveis que vivemos, como também com os pais atuais, com os ensinamentos de professores, com líderes religiosos, com a sociedade enfim. Também, de forma sutil e quase inconsciente, no contato com informações, ordens, histórias, superstições, preconceitos e tradições assimilados dos adultos com quem convivemos em longos períodos de nossa vida. Portanto, ele, o julgador interno, nem sempre condiz com a realidade perfeita das coisas. Essa "consciência crítica" que todos nós possuímos, que julga e cataloga nossos feitos, auto censurando ou auto-aprovando, influencia a criatura a agir da mesma maneira que os adultos agiram sobre ela quando criança, punindo-a, quando não se comportava da maneira como aprendeu a ser justa e correta, ou dando toda uma sensação de aprovação e reconforto, quando ela agia dentro das propostas que assimilou como sendo certas e decentes. A origem do não-perdão a si mesmo, do perdão que negamos a nós mesmos, está baseada no tipo de informações e mensagens que acumulamos através das diversas fases de evolução de nossa existência de almas imortais. Podemos experimentar culpa e condenação, perdão e liberdade de acordo com os nossos valores, crenças, normas e regras vigentes, podendo variar de indivíduo para indivíduo, conforme seu país, sexo, raça, classe social, formação familiar e fé religiosa. Para atingir o auto-perdão, é necessário que a pessoa reexamine suas crenças profundas, sob a natureza do seu próprio ser, estudando as leis da Vida Maior, bem como as raízes de sua educação da infância atual. Uma das grandes fontes de auto-agressão vem da busca apressada de uma perfeição absoluta, como se todos devêssemos ser deuses ou deusas de um momento para outro. Aliás, a exigência de perfeição é considerada a pior inimiga da criatura, pois a leva a uma constante hostilidade contra si mesma, exigindo-lhe capacidades e habilidades ainda não adquiridas por ela. Se padrões muito severos de censura foram estabelecidos por pais perfeccionistas à criança, ou se lhe foi imposto um senso de justiça implacável, entre regulamentos disciplinadores e rígidos, provavelmente ela se tornará um adulto inflexível e irredutível para com os outros e consigo mesmo. Quando sempre esperamos perfeição em tudo e confrontamos o lado "inadequado" de nossa natureza humana, sentir-nos-emos fatalmente diminuídos e envolvidos por uma sombra de fracasso. Não tomar consciência de nossas limitações é como se admitíssemos que os outros e nós mesmos devêssemos ser oniscientes e todo-poderosos. Afirmam algumas pessoas: "Recrimino por ter sido tão ingênuo naquela situação..." "Tenho raiva de mim mesmo por ter aceitado tão facilmente aquelas mentiras..."; "Deveria ter previsto estes problemas atuais"; "Não consigo perdoar-me, pois pensei que ele(ou ela) mudaria...". São maneiras de expressarmos nossa culpa e o não-perdão a nós mesmos – exigências desmedidas atribuídas a pessoas perfeccionistas. Os viciados em perfeição acham que podem fazer tudo sempre melhor e, portanto, rejeitam quase tudo o que os outros fazem ou fizeram. Não aceitam suas limitações e não enxergam a "perfeição em potencial", que existe dentro deles mesmos, perdendo assim a oportunidade de crescimento pessoal e de desenvolvimento natural, gradativo e constante, que é a técnica das leis do universo. A falta de afeto por nós próprios nasce quando nós não nos aceitamos como somos. Somente a auto-aceitação leva uma pessoa a sentir uma plena segurança frente aos fatos e às ocorrências do seu cotidiano, ainda que os indivíduos a seu redor não a aceitem e nem entendam suas melhores intenções. Deveremos compreender que cada um de nós está cumprindo um destino só seu, e que as atividades e modos das outras pessoas ajustam-se somente a elas mesmas. Estabelecer padrões de comportamento e modelos idealizados para os nossos semelhantes é puro desrespeito e incompreensão frente ao mecanismo da evolução espiritual. Admitir e aceitar os outros como eles são nos permite que eles nos admitam e nos aceitem como somos. Perdoar-nos resulta no amor a nós mesmos – a condição essencial para alcançarmos a plenitude do "bem-viver". Deus não julga e nem condena ninguém; somos o nosso próprio juiz e carrasco. À medida que, a cada encarnação, aprimoramos o nosso senso de justiça, mais exigentes nos tornamos quanto ao cumprimento da lei em nós mesmos. Entretanto, se, da mesma forma que aprimoramos o nosso senso de justiça, ampliamos o nosso amor, deixamos de nos punir com o sofrimento e passamos a usar a caridade e o amor ao próximo para cobrir a multidão dos nossos pecados. O perdão é a caridade por excelência! É a caridade para conosco e para com os outros. É realmente o caminho para a nossa felicidade. Muitas vezes, quando faltamos com o perdão, condenamo-nos a sofrimentos desnecessários e que poderiam ser evitados. Embora o nosso consciente não registre o processo auto-punitivo existente em nosso subconsciente, podemos exercer um trabalho consciente a fim de nos libertarmos desse processo altamente negativo. Deus não quer seus filhos entregues a um remorso excessivo tornando-os improdutivos, mas sim, ativos, buscando, nas realizações louváveis, o equilíbrio da própria consciência. Porém, mesmo que exercitemos o auto-perdão, nenhum resultado alcançaremos se ainda alimentamos alguma mágoa por alguém, mas quando, mesmo sem exercitarmos o auto-perdão, conseguimos perdoar aqueles que nos magoaram e fizermos do perdão uma constante em nossas atitudes, automaticamente, estaremos caminhando em direção ao perdão de nós mesmos. Por isso mesmo, insistimos em afirmar que o perdão é o caminho para a nossa felicidade.

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