domingo, 3 de novembro de 2013

SAUDADE -

Muitas vezes, as lembranças da infância, as lembranças de amores passados ou de antigas conquistas profissionais nos levam a experimentar um sentimento chamado de nostalgia. Nostalgia é um sentimento muitas vezes definido como tristeza, uma tristeza causada por saudade ou falta de algo. A nostalgia refere-se a uma situação passada, real ou criada por nós, sentida como um desejo não totalmente realizado. Sentir nostalgia é como sonhar acordado. Não se trata de uma simples recordação, mas de uma lembrança idealizada sobre o que não temos neste momento, misturada a um sentimento de falta, falta de algo perdido, desperdiçado ou roubado. Por exemplo, uma mãe pensa nostalgicamente no filho quando ele era criança. Quem sabe essa aparente nostalgia pelo filho pequeno não está mais ligada ao tempo em que ela era jovem e bonita? A nostalgia é benéfica quando não nos afasta demais da situação real passada e das condições atuais. Ela pode ser um impulso para dizermos: ‘se eu tive, poderei ter de novo’. Por outro lado, será prejudicial se nos deixar completamente ligados ao passado. Um pouco de sonho nostálgico é bom, mas não se afunde nele. Toque para frente, porque atrás vem vida. Momentos de PERDA – de familiares, amigos ou materiais – podem levar muitas vezes a estados nostálgicos ou depressivos. As situações felizes, por sua vez, também podem evocar sentimentos de nostalgia, pois sempre haveria algo a ser acrescentado ou a completar o cenário. Neste caso, esses sentimentos podem servir de estímulo para buscar de novo o que se deseja. Por exemplo, se a pessoa amou alguém algum dia, poderá amar novamente. O grau de arrebatamento dependerá do desenvolvimento emocional de cada pessoa para entrar no passado amado e conseguir voltar ao presente. O curioso é que a nostalgia também pode ser sentida coletivamente. O casamento de uma princesa, por exemplo, poderá estimular muitas fantasias nostálgicas, seja de algo vivido ou não; do anel, do vestido ou do futuro da princesa. Tomemos como exemplo, as músicas nostálgicas do compositor Chico Buarque, escritas quando ele estava exilado. Essas canções eram rapidamente assimiladas por um grande número de pessoas, porque as remetia a situações felizes e distantes. Assim como a música, as artes, a moda, o design e tantas outras atividades criativas são frequentemente tomadas por ondas nostálgicas. Os espaços artísticos são propícios para sublimar nossas frustrações e, assim, tolerá-las. As artes são alternativas para se buscar a digestão de uma dor. Portanto, poderíamos dizer que a nostalgia benéfica é a arte da nossa mente. Por meio dela, tentamos idealizar uma situação feliz, vivida ou não, para sublimar e dissipar nossas dores, encontrando força para trilhar novos caminhos. Na época do Natal é comum querer estar com a família, com os amigos, lembrar o que passou. E aí, não tem jeito. O mais humano dos sentimentos chega sem avisar: a saudade. Mas quem disse que saudade é sentimento que só dói? Pode ser uma lembrança boa, um motivo para seguir adiante, inspiração. Tem coisa melhor? A saudade é um sentimento plural. Tem a saudade que dói e a que traz de volta as boas lembranças. A saudade é também torrente de paixão, essa emoção diferente que inspira poetas, compositores, namorados, gente de todas as idades. E você, do que tem saudade? Para o psicanalista Joel Birman, saudade pode até ser triste, mas é um sentimento positivo, que estimula a memória e a sensibilidade. “Não dá para viver sem saudade. A saudade é inspiradora, criativa. Não podemos pensar que a saudade é um sentimento do mal. O sentimento complicado é a perda que vira depressão, melancolia, drama. Há uma dimensão alegre na saudade”, afirma. Na verdade, nós vivemos três tempos: presente, passado e futuro. Mas o que bate mais é a saudade do passado. Até os amores perdidos ficam mais bonitos no passado. Saudade é uma espécie de lembrança nostálgica, lembrança carinhosa de um bem especial que está ausente acompanhado de um desejo de revê-lo ou possuí-lo. Rui Barbosa define saudade e ao mesmo tempo tece uma crítica à sociedade do seu tempo, quando diz: "A todo o momento uma saudade revive em nosso coração para torturá-lo. Aqui uma cadeira, o guarda-chuva deixado na sala de espera, seu copo que a criada deixou de retirar! E em todos os cômodos encontram-se coisas esparsas: suas tesouras, uma luva, um livro cujas folhas foram viradas por seus dedos, um grande número de pequenas coisas que assumem um significado doloroso, porque lembram mil pequenos acontecimentos." "Eu tenho saudade do que não vivi. Tenho saudade de lugares onde não fui e de pessoas que não conheci. Tenho saudade de uma época que não vivenciei, lembranças de um tempo que mesmo sem fazer parte do meu passado, marcou presença e deixou legado. Esse tempo, onde a palavra valia mais do que um contrato, onde a decência era reconhecida pelo olhar, onde as pessoas não tinham vergonha da honestidade, onde a justiça cega não se vendia nem esmolava, onde rir não era apenas um direito do rei..." O cronista Rubem Alves diz que a saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. A escritora Marta Medeiros diz que saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento,não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Muito antes de existir a palavra “saudade”, São Tomás de Aquino falou de um sentimento que é a dor que nasce do amor e que, como ele, causa prazer ao ser sentida. Considerada por muitos como propriedade única da língua portuguesa, a saudade situa-se entre a melancolia e a esperança... O amor em sua forma mais concisa realmente causa um misto de dor e prazer. Mas, não estamos neste momento para falar dele e sim da falta dele. A saudade se situa entre a nebulosa região da perda do que já se foi e a ausência do que ainda não é. Por inúmeros e incontáveis motivos sentimos saudade. Às vezes nos pegamos saudosistas ou mesmo melancólicos, sentindo saudade da própria saudade. Conduzir esta importante expressão língua portuguesa por caminhos que acreditamos serem os corretos nem sempre é fácil. Por muitas vezes o caminho é tão longo e tortuoso que nem mesmo a saudade nos acompanha. Depois de um tempo, acredito que a saudade cede seu espaço, ou seja, pende para o lado mais “magnético”, para usar a analogia do pêndulo. Saudade é um sentimento importante mas, como a solidão, deveríamos nos beneficiar dela e não sermos consumidos por ela. Em muitos casos, descobrimos pessoas que se dizem tomadas pela saudade, quando na verdade não se trata de saudade, mas melancolia e a melancolia é o prazer usufruído através da tristeza. É freqüente a confusão que fazemos entre saudade, melancolia e depressão. Não esqueçamos que depressão é uma espécie de labirinto, com causas e conseqüências mais profundas. “Saudade é uma dor que fere nos dois mundos.”, diz Chico Xavier e isso nos faz lembrar a saudade que sentimos quando alguém de quem muito gostamos é transferido para o mundo espiritual. Quando morre alguém, sentimo-nos todos tomados por um sentimento de perda e dor. É natural, gostamos da pessoa e desejamos que continue vivendo conosco. Mas, a morte é a única certeza da vida e está enquadrada nos acontecimentos normais da existência de todo mundo. A todo instante, partem jovens e velhos, sadios e enfermos... A nossa dor é maior porque pouco sabemos a respeito da morte. Se nos preparássemos e tivéssemos conhecimento suficiente a respeito, não sofreríamos tanto porque alimentaríamos a esperança de que um dia o reencontro acontecerá entre nós e aqueles que nos precederam ao mundo dos espíritos sem a vestimenta de carne. Aprenderíamos que a morte é apenas a vida que se transfere; que se apaga aqui para acender em outra dimensão. Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Saberíamos, por exemplo, que a fé desempenha, nesse momento, um papel relevante, porque oferece a convicção de que, cessados os fenômenos pertinentes à matéria, o Espírito liberta-se, feliz, se acontece após haver cumprido os seus deveres em relação a si mesmo, ao seu próximo e a Deus. A importância do Espiritismo em nossas vidas não é porque se trata de mais uma religião ou porque queremos ter mais adeptos, mas porque, em virtude de não possuirmos dogmas, cerimoniais ou liturgias na Doutrina Espírita, não temos nenhum procedimento estabelecido para a preparação de alguém para a morte. Procuramos sim nos conscientizar, elucidando que a morte (ou desencarnação) é inevitável, porque virá no momento próprio, e, desse modo, é válido preparar-se para a sua ocorrência, que é preciso mesmo aprender a morrer. Aprendemos, por exemplo, a respeito do despertar no Além-Túmulo, quando a consciência adquire a sua plena lucidez, sugerindo que sejam tomadas desde então, providências que evitem o remorso, a culpa, a amargura. Aprendemos que sentir saudade é humano, mas o desespero causado pela ausência de um ente-querido que morreu só vai prejudicá-lo em seu período de tratamento para adquirir serenidade diante da nova vida em que se encontra. Muitas pessoas que foram privadas da presença de um filho, por exemplo, experimentam uma espécie de culpa por ainda estar vivo, como se fosse culpado por não ter evitado a partida do filho. E para compensar a dor da perda e do remorso, entrega-se a um processo de sofrimento que dura anos, como se assim apaziguasse esses sentimentos. Ah se mais soubéssemos a respeito da vida! Da vida que prossegue depois do túmulo, da vida que é única e que aqui é apenas uma espécie de estágio, de onde fatalmente sairemos todos, mais cedo ou mais tarde. Mães, pais, irmãos, amigos, tranquilizem seus corações e enviem, pelo pensamento, sentimentos de paz e serenidade para aqueles que partiram antes de vocês. A prece, a oração é o melhor recurso de que dispomos para comunicarmos a eles a nossa saudade e a dor de sua ausência. Mas sem desespero. Com a certeza de que o reencontro, mais cedo ou mais tarde, acontecerá.

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