domingo, 27 de outubro de 2013

A DESENCARNAÇÃO - Dr. Inácio Ferreira

Na Terra que se desdobra, um homem caminha por uma estrada. Tomando-se hoje em relação a ontem, a única diferença é que ele se sente um pouco mais leve. Todavia, não tão leve a ponto de planar na atmosfera algo rarefeita. Com ele, os mesmos pensamentos e as mesmas emoções. Além do que sabia instantes atrás, ele pouco consegue saber a respeito de si, e continua a precisar de um nome para se identificar. A sua condição racial, econômica, sexual e religiosa, não o privilegia em absolutamente nada. O que o salvaguarda é a consciência tranquila. Experimenta, porém, certa dificuldade, para, seja na Terra ou no Mais Além, conceber outra vida diversa daquela que sempre teve. Não lhe parece que entre uma vida e outra, possa haver diferença marcante. Terra firme sob os pés, céu aberto sobre a cabeça, a Natureza em torno... Noite e dia, Sol e estrelas! Olhando para si, tudo lhe parece normal – estará vivenciando um sonho, ou será a realidade?! Ainda não consegue falar sem articular as palavras... Tem fome e sede. O esforço que despende na caminhada lhe ocasiona relativo cansaço. Onde estarão os seus amigos?... Ah, sim, ei-los que, aos poucos, vão chegando para saudá-lo. Porém, a muitos desses amigos ele não tinha oportunidade de ver a longo tempo... Tem a impressão de que muitas faces se sobrepõem, ou, então, que alguns rejuvenesceram, e que outros envelheceram! Para ele, o Futuro parece ter chegado, e o Presente ficou no Passado. Sensações estranhas lhe dão a certeza de que ali, naquela Terra, precisa reaprender quase tudo. O berço lhe será um túmulo, ou o túmulo lhe será um berço?! Para ele, é muito difícil dizer exatamente. Saudade! Mas, em qualquer parte do Universo, a saudade é um sentimento comum a todos os seres, que, em nome do amor, sempre pulsa com a mesma intensidade, em todos os corações. Sem ponto de referência, ninguém sabe de que lado da margem do rio ele possa estar. Você saberia?! Além de fome e sede, com o tempo, experimenta desejos, tão humanos e tão divinos quanto os dos homens e os dos anjos. De repente, integra-se tão completamente ao novo ambiente em que se encontra, que a vida, que, de início, lhe parecia ter sofrido uma interrupção, prossegue com naturalidade. Olha para cima e vê o Infinito... Quanto ainda a este homem, que é o espírito desencarnado, ainda compete caminhar, na Terra que se desdobra, para, enfim, transcender a si mesmo?!...
“A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do Caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me dêem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo O que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Por que eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho... Você que aí ficou, siga em frente. A vida continua Linda e bela como sempre foi.” (A MORTE NÃO É NADA - Santo Agostinho)

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