domingo, 27 de outubro de 2013

Lembremos, inicialmente, que, através da reencarnação, o Espírito vive muitas vidas, passando por provas e por oportunidades de corrigir os erros cometidos no passado. Na Sua justiça, Deus não nos condena a sofrermos eternamente por causa dos erros. Dá-nos a oportunidade de repará-los por nós mesmos. Assim, entenderemos, com conhecimento de causa, que a prática do bem nos traz felicidade; enquanto a do mal, com certeza nos levará, cedo ou tarde, ao sofrimento. Deus nos dá a liberdade de agir como quisermos. A isso se dá o nome de livre arbítrio. Penso que dá um certo conforto aqueles que perderam algum ente querido saber que o túmulo não é o fim de tudo. Saber que a vida continua e que a morte é apenas uma transferência, uma mudança de tipo de vida e que um dia reencontraremos nossos entes queridos que nos precederam no retorno à vida espiritual. A reencarnação não foi inventada pelo Espiritismo. Antes mesmo de Jesus, povos asiáticos e indianos já detinham a crença, porém de maneira diferente, pois acreditavam em reencarnações de seres humanos em animais, e vice-versa. Essa crença influenciou de alguma maneira o povo judaico, já que muitos faziam uma mistura de reencarnação com ressurreição. Numa conversa entre Jesus e Nicodemos, um fariseu que tinha profunda admiração pelo Mestre, Jesus afirmou: "Na verdade te digo, que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus... Não te maravilhes de te ter dito. Necessário vos é nascer de novo". "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do Espírito." ( João, III; 1 a 12). Nesta passagem, Jesus diz muito mais do que mostram as letras. Nascer da água para os antigos significava o nascimento carnal, pois tinham como crença de que a água era o princípio absoluto, ou seja, de que todos viemos no início da mesma. Baseavam-se no que está escrito no libro bíblico "Gênesis", onde se lê: "O Espírito de Deus era levado sobre as águas... que o firmamento seja feito sobre as águas". Portanto, a água era colocada como o símbolo da natureza material. Enquanto nascer do Espírito significava a parte inteligente do ser. Assim, como explica Kardec no capítulo 4 de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", nascer da água e do Espírito quer dizer: nascer com seu corpo e sua alma. Ao contrário do que afirmam os descrentes da reencarnação, Jesus, portanto, não poderia apenas estar falando do renascimento moral, ou seja, daquele provindo do arrependimento do homem e sua mudança de conduta na mesma vida. Dizia sim do renascimento material e espiritual, um renascimento em uma nova vida. Tanto é assim, que completa: "...Não sabe donde vem, nem para onde vai...", ou seja, quando o Espírito renasce em uma nova encarnação, não sabemos como foi sua última existência, nem para onde irá após o desencarne, pois dependerá de sua forma de viver. Além disso, Jesus deixa claro a Nicodemos que ele não conseguiria compreender a profundidade da Lei da reencarnação, pois diz: "Se lhe falo das coisas da terra e não compreendes, o que dirá então das coisas do Espírito?!". Se Nicodemos, que era um profundo conhecedor da religião da época, não tinha condições de compreender, muito menos o povo. Por isso, Jesus lhes falava por parábolas, inclusive sobre a reencarnação. Mais uma vez, a compreensão do que dizia Jesus nos esclarece profundamente sobre a existência do ser. Com a luz da Doutrina Espírita poderemos entender melhor tudo o que o Mestre falava a respeito da reencarnação. Segundo A Doutrina Espírita, todos nascemos simples e ignorantes. Caberá a cada um de nós escolher o caminho a seguir. Como não temos o conhecimento, pois só o adquiriremos com a vivência, com a experiência, acabamos por agir em todos os campos da vida, tanto o da ignorância, do mal, quanto o do bem. E ter o entendimento de tudo que nos cerca é impossível conseguir em 70, 80 ou 100 anos de vida. Por isso, seriam necessárias várias existências. Segundo o Livro dos Espíritos, o objetivo da reencarnação é expiação, prova, melhoramento progressivo da humanidade, pois, sem isso, onde estaria a justiça? Deus é justo, misericordioso e Pai. E por isso, não haveria justiça, se em apenas uma encarnação pudéssemos definir nosso futuro espiritual. Temos que ter a consciência de que quem acredita em Jesus, acredita na vida espiritual, independente da religião. Isso porque o Mestre falou muitas vezes que a verdadeira vida era a espiritual. Portanto, vivem nela os espíritos dos homens, após o falecimento do corpo. E Deus seria injusto se levasse ao sofrimento ou glorificação eternos quem teve oportunidades diferentes quando sobre a Terra. O rico, que não precisou roubar para comer, pode ter mais merecimento que o pobre que, com desespero, roubou ou matou para sustentar sua família? Ou a criança que nasceu com deformidades, terá as mesmas condições de desenvolvimento moral e intelectual que a que nasceu sadia? Assim, são casos diferentes, que em apenas uma só existência não poderiam ter o mesmo tratamento. A reencarnação explica e resolve essas questões, mostrando que todos nós teremos oportunidades iguais de desenvolvimento, e que nossas dores ou dificuldades dessa vida, são frutos que colhemos de atitudes erradas cometidas em outras existências. Não são castigos de Deus, pois Ele não castiga. Mas sim, são resultados de nossa conduta contrária à Lei que permeia a todos os seres: a Lei de Ação e Reação ou Causa e Efeito. O que é A Lei de Causa e Efeito? É a Lei espiritual criada por Deus para regular a convivência de todos os seres humanos durante as reencarnações. Jesus faz referência a ela, no episódio de sua prisão, quando o apóstolo Pedro com uma espada tenta ferir um soldado que queria prender Jesus. E o Mestre lhe diz: "Mete a tua espada na bainha, pois todos que lançarem mão da espada, pela espada perecerão" (Mateus, capítulo 26). Isso quer dizer que tudo que fizermos de bom ou ruim para o próximo, receberemos em nós mesmos. Com isso, aprenderemos, encarnação após encarnação, a respeitarmo-nos e entendermos que fazer ao outro o que desejamos para nós é o grande objetivo desta Lei. O Espírito da Verdade esclarece bem o sentido da reencarnação na questão de "O Livro dos Espíritos" citada abaixo: 171- Em que se funda a lei da reencarnação? R: Na justiça de Deus e na revelação. Incessantemente repetimos: o bom pai sempre deixa aberta uma porta para o arrependimento. A razão não vos indica que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna aqueles aos quais não se deram todas as oportunidades para se melhorarem? Não são filhos de Deus todos os homens? Somente entre egoístas são comuns a iniquidade, o ódio implacável e os castigos eternos. ( O Livro dos Espíritos) A bondade e justiça de Deus são confirmadas pela reencarnação. O esquecimento momentâneo de nossas outras existências serve para que possamos ter a liberdade de agir na atual. Porém, sempre trazemos em nosso ser, em nosso inconsciente, as aptidões, as virtudes e os defeitos adquiridos em outras vidas, e são eles que nos impelem para nossas atitudes diárias. Nunca regrediremos espiritualmente, pois tudo que aprendemos ficará gravado em nosso espírito. Assim, em toda reencarnação, por pior que o Espírito tenha sido, em algo ele evoluiu em relação à encarnação anterior. Mas poderemos deixar de evoluir por um tempo, dependendo de como agirmos frente à vida. Caberá a nós cedermos ou não para as tendências que trazemos dentro de nós, que servirão para nos elevar (se forem boas) ou nos estacionar (se forem más) na senda do progresso espiritual. Existem algumas passagens da Bíblia onde o entendimento do sentido das mesmas mostrará que a reencarnação era conhecida, embora superficialmente, pelos Judeus, e profundamente por Jesus. Na Bíblia: -Que dizem sobre o Filho do Homem? (Mateus, XVI; 13 a 17) Aqui, mostra-se a confusão entre reencarnação e ressurreição, pois Pedro diz a Jesus que o povo achava que o Mestre era um dos antigos profetas "ressuscitado". Ora, a ressurreição diz que a Espírito retorna com o mesmo corpo que havia vivido. E Jesus era nascido de Maria, e em nada tinha em semelhança física com os profetas desencarnados há mais de 500 anos. Portanto, o povo acreditava na volta do Espírito à vida material, mas não sabiam bem como isso se dava. -Ele é um dos profetas que ressuscitou. (Marcos, VI; 14 e 15 / Lucas, IX; 7 a 9) É o mesmo caso citado acima, pois até o rei Herodes, romano que comandava a região onde vivia Jesus, acreditava que o Mestre poderia ser a "ressurreição" de João Batista. Mas João havia sido decapitado a mando de Herodes, além de ter convivido com Jesus, ter sido seu primo e quem o batizou. Como, então, seria a ressurreição? Era a falta de compreensão de como se processava a reencarnação, confundindo ambas.. -João Batista é Elias. (Mateus, XVII; 10 a 13 / Marcos, XVIII; 10 a 12) É a passagem mais contundente, onde Jesus afirma com todas as palavras que João Batista era na verdade a reencarnação do Profeta Elias, que viveu cerca de 900 anos antes de Jesus. Inclusive, Elias havia mandado em sua época decapitar os seguidores de falsos deuses. João, por sua vez, 900 anos mais tarde, foi decapitado. Ou seja, é a Lei de Ação e Reação, que atinge a todos nós, inclusive aos grandes profetas da humanidade. -Cego de nascença. (João,IX; 1 a 41) Nesta passagem, também os apóstolos mostram conhecer sobre a reencarnação, mas com limitações. Perguntam a Jesus quem havia pecado para que a criança nascesse cega: ela ou seus pais. Ou seja, se a criança nasceu cega, como poderia ter pecado? Só se fosse em outra vida. Neste caso, Jesus disse que ninguém havia pecado, mas sim que a criança tinha nascido cega para que se manifestasse nele a obra de Deus. Quer dizer, tratava-se de uma provação para o ser, que foi cessada com a intervenção do Mestre. Notemos que Jesus não repreendeu seus discípulos, ou mesmo foi contrário ao que eles perguntavam. Isso mostra que entre eles, o tema reencarnação era discutido, pois senão não haveria sentido para a pergunta. "Eu vim para que os que não vêem, vejam; e para que os que vêem sejam cegos" (Jesus). A Doutrina Espírita nos esclarece com propriedade sobre o tema reencarnação e Jesus falava sobre o mesmo para quem tinha condições de entender, "olhos de ver". Cabe a nós compreendermos a necessidade de aproveitarmos a oportunidade reencarnatória e assim encontrarmos a paz que tanto procuramos.

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