domingo, 6 de janeiro de 2013

" DEPRESSÃO E SÍNDROME DO PÂNICO "

Uma em dez pessoas já passou pela depressão pelo menos uma vez na vida, em geral aconteceu em conseqüência de uma situação infeliz, stress constante ou, em alguns casos, por uma doença grave ou por morte de alguém muito próximo e querido. Outras vezes, quando a causa não está em um agente externo, ou seja exógena, falamos em depressão endógena. De acordo com os neurobiólogos, o distúrbio seria conseqüência da falta de certa substância química, chamada de neurotransmissores no cérebro. Há vários neurotransmissores: dopamina, noradrenalina e, principalmente, a serotonina, que são hormônios reguladores de nossos sentimentos. Quando acontece essa falta dos neurotransmissores e essa carência sai dos eixos, os psiquiatras receitam antidepressivos, como fluoxetina e sertralina, que podem intervir de forma controlada e melhorar o humor. Hoje em dia, quase tudo é depressão. A síndrome foi convertida em uma maneira de explicar o homem moderno. Confunde-se, porém, o quadro depressivo clinicamente verificável com manifestações isoladas que podem ser apenas reações comuns de qualquer sujeito diante de situações adversas. Essa indiscriminação acaba por encobrir sintomas de pessoas infelizes, incapazes de se beneficiar da “felicidade total” prometida pela sociedade industrial, com seus monumentais progressos tecnológicos e ofertas fáceis de alegria que podem ser compradas a crédito. A palavra “depressão” substitui o uso comum que se fazia das expressões “doença dos nervos” e “sistema nervoso”. Ela tem a finalidade de descrever qualquer tipo de sensação ou mal-estar do indivíduo. Se é possível verificar clinicamente se o sujeito está deprimido pelo mapeamento dos prejuízos físicos e psíquicos que o estado depressivo ocasiona, também o é, e com grande freqüência, pela classificação de reações e padrões de comportamentos corriqueiros. O diagnóstico positivo da síndrome pode significar apenas que o indivíduo está ocasionalmente triste ou que nele se instalou um quadro passível e possível de ser verificado clinicamente, no qual indícios denotam que o sujeito está sem condições de superar seu mal-estar. Há uma grande diferença entre classificar o sujeito como depressivo, quase um jeito de ser, e/ou como deprimido, uma espécie de estado superável, do qual ele com certeza sairá. É importante dizer que, em princípio, o desenvolvimento dos medicamentos pareceu colocar ao homem a possibilidade de recuperar sua liberdade, seja do encarceramento em manicômios, seja do enclausuramento que a doença psíquica provoca. Em relação aos ansiolíticos e antidepressivos, pessoas que sofriam distúrbios neuróticos limitantes tiveram a oportunidade de se sentir melhor. Porém, com a utilização indiscriminada dessas drogas, as pessoas foram gradativamente condenadas a uma nova forma de alienação com a promessa do fim do sofrimento psíquico por meio de pílulas que apenas suspendem sintomas para reorganizá-los de outro modo. É como se o sujeito precisasse ser curado da condição humana. Pacientes, psicanalistas, psicoterapeutas, psiquiatras e médicos em geral passaram a recorrer às terapêuticas medicamentosas, supostamente eficazes, já que solucionariam em grande parte os problemas dos sujeitos deprimidos. A psicofarmacologia colocou-se imperiosamente em campo, determinando diagnósticos e tratamentos inquestionavelmente baseados em substâncias químicas oferecidas no mercado. Tornou-se assim o símbolo da ciência triunfante, capaz de explicar o irracional e curar o incurável. O medicamento antidepressivo se transformou ruidosamente na pílula mágica, na alternativa de cura para os mais diversos males. A mesma medicação antidepressiva é ministrada a sujeitos que apresentam distúrbios graves (melancolia ou transtornos psicóticos do humor) e a pessoas que não sofrem de distúrbios psíquicos significativos, apenas enfrentam imprevistos, tragédias ou infortúnios. As pílulas foram inventadas e podem trazer benefícios inegáveis, mas transformá-las em solução radical seria condenar o homem a se contentar com os estados de embriaguez e êxtase. Mais grave ainda seria retirar do ser humano a capacidade de reagir, de se defender e de encontrar formas de nomear as suas experiências. Quando o medo é a dor maior, acontece o famigerado transtorno do pânico. O transtorno do pânico é definido como crises recorrentes, ou seja repetidas, de forte ansiedade ou medo. As crises de pânico são intensas, repentinas e inesperadas que provocam nas pessoas sensação de mal estar físico e mental, juntamente a um comportamento de fuga do local onde se encontram, seja indo para um pronto socorro, seja buscando ajuda de quem está próximo. A reação de pânico é uma reação normal quando existe uma situação que favoreça seu surgimento - estar num local fechado onde começa um incêndio, estar afogando-se ou em qualquer situação com eminente perigo de morte. Nas situações em que a própria vida está ameaçada, o organismo toma medidas que normalmente não tomaria, perdendo o medo de pequenos perigos para livrar-se de um perigo maior. Para fugir de um leão podemos subir numa árvore mesmo tendo medo de altura ou fazendo esforços incomuns, sofrendo pequenos ferimentos que no momento não são percebidos. O estado de pânico é, portanto uma reação absolutamente normal e necessária para a auto preservação. Aqueles que fogem mais rapidamente do perigo de morte têm mais chances de sobreviver. Desta forma é feita a seleção natural em nosso planeta. O pânico passa a ser identificado como patológico, e por isso ganha o título de transtorno do pânico, quando essa mesma reação acontece sem motivo, espontaneamente.

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