domingo, 14 de abril de 2013

A RAIVA NOSSA DE CADA DIA -

Toda vez que alguém ou alguma coisa ameaça, interfere ou incomoda o bem-estar de outra pessoa, imediatamente faz acender a chama da raiva. Esta poderá, passados os primeiros momentos, diminuir ou abrandar-se logo ou virar incêndio, dependendo da área que tenha atingido. A raiva é a reação emocional imediata à sensação de se estar sendo ameaçado, podendo esta ameaça produzir algum tipo de dano ou prejuízo. A princípio, ela funciona como uma reação de defesa em relação a alguma ameaça. Não há quem já não tenha sido vítima da raiva. Todos os dias nos deparamos com diversas pessoas, no trabalho, no trânsito, nas conversações cotidianas... sendo estas as mais diversas, portadoras dos mais variados estados de ânimo. Não raro, alguma palavra mal empregada, algum tom de voz equivocado, e então nos sentimos ofendidos, tendo a raiva como reação imediata. Lembremo-nos, no entanto, que algumas vezes não há intenção da outra pessoa em nos ferir. Algumas vezes acontece por causa do nosso estado de sensibilidade, de fragilidade, de pré-disposição para a ofensa. Sentir raiva é atitude natural e normal no quadro das experiências aqui na terra. Canalizá-la bem, esclarecendo-a até que ela desapareça, é característica de uma pessoa que é saudável e lúcida. Mas como impedir que esta sensação inquietante se alastre e não ocupe tanto os espaços na nossa mente e sentimentos? O primeiro passo a ser dado é a aceitação de se estar sentindo raiva. Não há motivos para nos envergonhar da raiva e do fato de senti-la. Camuflá-la ou disfarçá-la com atitudes de falsa humildade e dissimulação são atitudes de quem ilude a si próprio, escolhendo parecer em vez de ser. Em seguida, devemos nos perguntar: “ Por que fiquei tão bravo ou brava com a atitude daquela pessoa? Por que me deixei atingir tanto? O que esta pessoa fez de tão desagradável a ponto de conseguir me desequilibrar o restante do dia?” Neste momento inicia-se a racionalização da raiva, e aí, então, é que percebemos que nós mesmos tivemos uma participação ativa na sua elaboração. Não foi o outro que produziu raiva em mim, pois somos nós que estamos sentindo raiva. Logo, nós mesmos a produzimos. Está em nós a sua origem e não no exterior. Como dissemos, a raiva é uma reação emocional que ocorre toda vez que alguém vai de encontro ao nosso bem-estar, de maneira que nos sentimos ameaçados. O que então nos deixou tão ameaçados? Que área do meu ser aquela palavra que foi dita pelo ofensor atingiu de maneira tão precisa? Por que aquilo que foi dito significou tanto para nós? A partir desse momento nós começamos a perceber que na verdade a sensação de inferioridade ou de ofensa não foi produzida pelo outro, ela já existia dentro de nós. Seria como se a palavra empregada fosse a chave certa para uma determinada ideia já existente dentro de nós mesmos –ela já estava ali – bastava acioná-la. Segundo Joanna de Ângelis, “a raiva é o lançamento de uma cortina de fumaça sobre nossos próprios defeitos, a fim de que eles não sejam percebidos pelos outros”, sendo que, quanto maior for o complexo de inferioridade da pessoa, mais vulnerável, mais sensível ela será a tudo o que for direcionado a ela do mundo exterior. Canalizar bem a raiva significa, assim, refletir sobre o porquê de nosso desequilíbrio momentâneo. Da mesma forma, outro recurso deve ser empregado: refletir sobre a origem do ato na outra pessoa. Isso significa perceber que a pessoa estava em desarmonia no momento em que agiu, de forma impensada, produzindo o conflito. Significa tentar perceber que o outro agiu sem nenhuma intenção de produzir o dano que nós agora sentimos. Isso não significa, de maneira alguma, que devamos ser coniventes e concordarmos com o desrespeito e ironia das pessoas ao nosso redor, as quais agem sem pensar nas conseqüências de seus atos. Mostrar-se ofendido, mostrar-se desgostoso com a situação, demonstrar os sentimentos de contrariedade e até mesmo a raiva inerente à ofensa são reações perfeitamente normais, de quem respeita a si mesmo e se considera merecedor do respeito e consideração dos seus semelhantes. Da mesma forma, dar uma corrida, realizar exercícios físicos ou algum trabalho que leve à exaustão, são recursos valiosos para se diluir ou fazer desaparecer a raiva. Extravasar, contar para os amigos como se sente, também são atitudes saudáveis e terapêuticas. O que não se deve fazer é camuflá-la, reprimi-la, disfarçá-la, pois então estaremos dando oportunidade para o surgimento da mágoa e do ressentimento.

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