quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A DOR DE TODOS NÓS -

Você que tem 40, 50, 60 ou 70 anos já percebeu como tem surgido novas doenças ultimamente? Novas formas de sofrimento no mundo em que vivemos? Muitos buscam psiquiatras, psicanalistas, psicólogos e eles se ocupam cada vez mais em tentar entender, em suas atividades clínicas, a origem desse sentimento. Sofre-se por falta de emprego, por falta de um amor, pela incapacidade de lidar com o amor, pelo vazio que sentimos atualmente e, principalmente, pela ausência de planos e perspectivas para o futuro. E muitas vezes buscamos soluções mágicas para a cura da dor, dor que causa do incômodo ao mal-estar, na sociedade considerada normal. O ser humano é o único dotado de um sofrimento interior, decorrente do excesso, de algo que incomoda, perturba ou provoca insatisfação. Quem não sente dor? Nem me refiro às angústias, às incertezas, aos sentimentos de inadequação, rejeição, solidão que, às vezes mais, às vezes menos, irremediavelmente nos atingem. Existe um campo da Ciência que concebe a doença mental como um excesso (a que se chama de pathos), a Psicopatologia Fundamental não pretende se ocupar das doenças existentes, mas procura trabalhar com experiências vividas no dia-a-dia da atividade clínica. O sofrimento humano não é novidade, mas constitui-se em um dos principais desafios para a Psicopatologia Fundamental. Por que nós sofremos? A teoria psicanalítica de Freud já estudava a dor humana. Para Freud, o sofrimento poderia brotar de três fontes: do corpo, do mundo externo e das relações com os outros. Depois de tanto tempo, entretanto, o sofrimento não acabou, mas adquiriu novas faces, fomentando a violência. O sofrimento é uma marca bem própria do ser humano. Em todas as épocas e lugares o animal humano se deparou com o sofrer, seja este ligado ao medo de situações ameaçadoras à vida existentes no mundo natural ou ao pavor frente ao sobrenatural. Não se pode pensar em excluir o sofrimento da vida humana. Ele é fator essencial na formação da sociedade e suas instituições, da cultura e da religião. Essas construções humanas ao mesmo tempo em que tentam absorver o sofrível, servem para expressá-lo em suas várias possibilidades. O sofrimento aqui inclui tanto o seu lado somático como o psíquico, apesar desta distinção ser artificial uma vez que o corpo é lugar privilegiado -senão o único - para a manifestação do padecer psíquico. Seja qual for a delimitação mais adequada, o sofrimento,numa visão mais geral, se manifesta sempre ativamente, se impondo ao indivíduo. Essa vertente passiva do sofrente aparece contemplada na acepção comum do termo sofrimento. Houaiss o define, dentre outros significados, como “experimentar com resignação e paciência; suportar; tolerar; agüentar... não evitar ou criar impedimento para; admitir, permitir, aceitar”. Nesse sentido, uma vez acometidos pelo sofrimento, não nos resta outra possibilidade senão suportá-lo, experimentá-lo. Mas de qual sofrimento estamos falando? São todos iguais os desconfortos causados por uma depressão, uma ansiedade brutal, um pavor de estar sendo perseguido? Se não existe algum antídoto contra a angústia, como é que fica o bem-estar, a felicidade tão aspirada e propósito último dos homens? Se há um consenso invisível sobre o sofrimento em sua força inescapável, a pergunta essencial que nos assalta a partir daí é: Qual a intensidade e/ou a qualidade do sofrimento que devo considerar como sendo um elemento próprio à minha existência? As novas formas de sofrimento enfrentadas pela sociedade contemporânea são criadas em torno de modificações sociais e políticas às quais fomos submetidos. Globalização, neoliberalismo, processos de ajuste econômico, tudo contribuiu para o surgimento dos novos deprimidos e angustiados no mundo pós-moderno, e é fato que a sociedade de consumo controla o indivíduo. Os shoppings, por exemplo, passaram a ser templos da nova religião que se impôs no mundo moderno e, nesse lugar, não há espaço para o sofrimento.

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