domingo, 26 de janeiro de 2014

DOR E SOFRIMENTO -

As pessoas padecem de uma falta de identidade e, em função disso, surgem as novas patologias, as novas doenças.
Outra fonte de nosso sofrimento é o amor. Ou pelo menos o que chamamos ou conhecemos como amor. "Amor é fogo que arde sem se ver/é ferida que dói e não se sente/é um contentamento descontente/ é dor que desatina sem doer". Da poesia lírica de Luís de Camões ou dos versos da música de Renato Russo, pode-se retirar a essência de um dos temas mais atuais para os estudos da psicologia e da psicanálise: o sofrimento. As manifestações da arte, como por exemplo a literatura, a música e o teatro, conseguem ser a mais completa expressão do significado exato do sofrer para os seres humanos. Tradicionalmente, na literatura, amor e paixão são sinônimos de sofrimento. O fato é que o ser humano, em geral, experimenta uma sensação eterna de incompletude. Na verdade, somos todos doentes de incompletude. Assim como mudaram as formas de sofrimento no mundo moderno, também surgiram novos casos de depressão e melancolia. Os deprimidos e melancólicos dos estudos de Freud, deixavam-se morrer. Hoje, os deprimidos, tomados por uma sensação de vazio, buscam ativamente a destruição. Os melancólicos e deprimidos são os que possuem menor tolerância a estados de falta de satisfação. Pessoas com experiências infantis dolorosas levam-nas a uma depreciação completa de si mesmas. Para esses deprimidos, existe o ‘eu’ ideal e o ‘eu’ real, que se encontram muito distantes um do outro. Assim, os prazeres possíveis não valem a pena porque não são suficientes para fechar a distância que separa os dois ‘eus’ .. Lembremo-nos ainda que doenças orgânicas podem ser desencadeadas por estados depressivos e/ou melancólicos. A depressão, aliás, está na pauta da OMS (Organização Mundial da Saúde) como um dos mais importantes males do futuro. Hoje, o transtorno já é a quarta causa de incapacitação no mundo. Em 2020, será a segunda -atrás apenas do grupo de doenças cardíacas. Estima-se que 121 milhões de pessoas ao redor do mundo estejam, neste momento, deprimidas. Historicamente, a procura do bem-estar pela droga é antiga. No século 19, atingidos pelo "mal do século", como é chamada a depressão, os homens buscaram no ópio a solução para a sua fragilidade diante das dificuldades da vida. Em sentido geral, dor é a sensação desagradável e penosa, resultante de uma lesão, contusão, ferimento ou funcionamento anormal de um órgão. Por extensão, o termo se aplica a sentimentos de tristeza, mágoa, aflição, pesar, que podem repercutir de maneira mais ou menos intensa sobre o organismo, causando mal-estar. Por outro lado, sofrimento é a dor física ou moral. Segundo o Espiritismo, quando enfrentado pelo indivíduo com coragem e resignação torna-se fator de aperfeiçoamento espiritual De acordo com a medicina, a dor tem duas características importantes: a) fenômeno dual, em que de um lado está a percepção da sensação e, do outro, a resposta emocional do paciente a ela; b) dor sentida como aguda. Nesse caso, ela pode ser passageira ou crônica (persistente). O combate à dor física é feito com diagnósticos, exames, remédios e cirurgias auxiliadas pelas modernas técnicas computadorizadas. A dor física anuncia que algo em nós não vai bem e precisa de melhora. Embora sempre queiramos fugir dela, ela nos oferece a oportunidade de reflexão — volta para o nosso interior —, objetivando o conhecimento de nós mesmos. Dada a grande coerência da dor, tanto sofrem os grandes gênios e como as pessoas mais apagadas. Nesse sentido, observe o sofrimento anônimo daqueles que dão exemplo de santidade aos que lhe sentem os efeitos, mesmo ocultos e sigilosos. Aprendamos que a dor não é castigo: é contingência inerente à vida. A dor é fisiológica; o sofrimento, psicológico. O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor. Em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano. A dor influi no sofrimento e o sofrimento influi na dor. A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda. A dor é um alerta da natureza, que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo. O sofrimento, mais profundo do que a simples dor sensível e que afeta toda a existência, também tem a sua razão de ser. É através dele que o homem se insere na vida mística e religiosa. Por mais real que seja a razão de um sofrimento, não basta apenas a coragem para enfrentá-lo; necessitamos também do estímulo místico, ou seja, da religião. (Idígoras, 1983)

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