domingo, 18 de janeiro de 2015

TOLERÂNCIA PARA COM O DIFERENTE -

Hoje a tolerância é uma virtude extremamente necessária para o exercício das coisas pequenas do dia a dia. A tolerância implica em estar a favor de ideias atividade contra tudo que se reprime, oprime, discrimina, que não respeita as diferenças humanas, sejam de raça, de cultura, de religião, de situação econômica, de orientação sexual, etc. Quem se pretende possuir “a verdade”, ou melhor, “a certeza”, termina sendo intolerante em aceitar outros posicionamentos, se fechando à escuta de tudo que se apresente como diferente ou incompreensível ao seu esquema de conceitos de fala e ação. E essa postura de “certeza” que muitos carregam traz sempre consigo uma atitude de prejulgamento e de preconceito. Diz a Madre Teresa de Calcutá que “quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las.” O fato é que nos atrevemos a ser juízes dos outros e julgar os outros quando eles estão apenas tentando acertar e que, como nós, estão distantes da santidade que exigimos do outro e que ainda não desenvolvemos em nós. Muitos de nós têm o hábito de julgar o outro, como se fossem detentores da salvação e pudessem manipular a verdade e manipular até Deus, transferindo para Ele seus conceitos e atos mesquinhos. Dois mil anos se passaram e ainda não aprendemos a lição do “amai-vos uns aos outros”. Ainda julgamos principalmente aqueles que não pensam e nem rezam segundo nossa cartilha. Quando uma pessoa faz julgamentos sobre alguém é de se esperar que tenha conhecimentos de causa e elementos para tal, que tenha uma visão mais ampla e acertada do outro e, principalmente, que tenha ao menos uma proposta melhor para oferecer, no que diz respeito ao fato que motivou a sua reação crítica. Quem de nós pode oferecer proposta de melhor quando se trata da felicidade do outro, quando nós mesmos temos dificuldades para nos fazer felizes? Ao avaliar fria e francamente o hábito de julgar, convenhamos que não estamos habilitados nem sequer a ajuizar sobre nossas próprias intenções. Quantas e quantas vezes praticamos determinadas ações ou tomamos atitudes das quais nos arrependemos posteriormente e, perguntados por que agimos de tal maneira, respondemos com honestidade: “Não sei!”? Claro, ainda não temos sabedoria ou inteligência, justiça e equidade para podermos avaliar justamente nem a nós mesmos, nem o outro. É nesse sentido que o Evangelho de Jesus Cristo nos alerta para o fato de que, da mesma forma como julgamos o próximo, seremos nós avaliados, medidos e pesados; segundo o mesmo critério que utilizamos com o outro seremos nós amparados ou punidos, premiados ou castigados no tribunal das nossas consciências. Ora, como seremos julgados com benevolência por nossas consciências, se passamos toda uma existência julgando o próximo com mesquinhez, severidade e malevolência? Por essa razão, o Evangelho ainda nos oferece sábio e inteligente aconselhamento, que consiste simplesmente em não julgar, uma vez que não estamos devidamente capacitados, no aspecto moral, nem tampouco detemos conhecimento pleno da maioria das situações e pessoas que pretendemos julgar. É comum o julgamento, sem reservas nem ressalvas, principalmente por parte daqueles que pretendem ser proclamadores da verdade e defensores da lei, da moral ou da religião... Muitas pessoas, para defender sua visão de mundo e seu sistema de crenças, atacam o outro pelo julgamento, sem piedade. É impressionante como os que se dizem seguidores do Cristo envolvem-se em intrigas, disputas e, por fim, formam grupos que disputam por seu lugar no céu ou por seu patrimônio espiritual, como se esse fosse o único modo de ver o mundo e viver a espiritualidade. Ignoram outras verdades, e pior, fazem isto por escola própria, porque deliberadamente fecham os olhos à diferença, não abrem espaço para conviver com os que são diferentes. Muitas vezes, isso faz com que vejam seus irmãos, parentes e membros da comunidade um alvo a ser convertido, avaliado, julgado, principalmente quando o outro não adota a perspectiva desejada. Aí, então , o indivíduo transformado em seu alvo mental torna-se proscrito da espiritualidade, um herege que merece ser punido de alguma maneira. E métodos de punição não faltam na mente do homem que se sente ultrajado e injuriado porque seu ponto de vista foi recusado. Vocês já pararam para observar como as pessoas que têm segurança em relação a si mesmas quanto a religião, raça, ou orientação sexual desenvolvem uma serenidade que não é perturbada nunca pela diferença de experiência de vida do outro, do próximo? Pessoas como Chico Xavier, Madre Teresa de Calcutá, Dom Hélder Câmara, etc. são grandes exemplos. Para essas pessoas a diferença no outro era motivo de aprendizagem e nunca de ameaça. Quando empregamos nosso tempo para compreender, para ouvir, silenciar outras vezes e amparar o próximo, não há espaço para julgamentos. Será que não foi isso que o Cristo quis exemplificar quando nos disse: “Não julgueis, e não sereis julgados. Não condeneis, e não sereis condenados”? Talvez as palavras de Jesus Cristo mereçam reflexão, como se faz a partir de uma recomendação inteligente; talvez seu exemplo deva ser visto como a atitude mais sensata a adotar, porque produz satisfação e felicidade, em vez de ser tomado como fórmula religiosa de santificação. Crueldade é atributo da criatura que sente prazer em atormentar severamente os outros, utilizando atitudes rigorosas e inflexíveis para lidar com o mundo em seu derredor. Toda crueldade nasce da fraqueza e da incapacidade das pessoas que não sabem relacionar-se com elas mesmas, com seu mundo interior. Isentamos de responsabilidade sobre os fatos violentos, dando nome de paixão, de honra, de ordem social, de verdade única, para dissimular os pontos fracos e desajustados que possuímos. A história nos mostra que as leis religiosas do passado mantiveram a humanidade sob o jugo de uma crueldade incalculável, com a imposição do sofrimento e da mortificação, justificando-os como sendo uma das maneiras que a Divina Providência utilizava para corrigir e reparar possíveis erros do presente e do passado. O que era um absurdo, pois, na verdade, Deus é amor, misericórdia e compreensão em abundância. A História nos conta ainda que todos aqueles que se atreveram a contrariar os padrões, normas ou dogmas(que são verdades incontestáveis) estabelecidos por uma doutrina ou por uma grupo tiveram as mãos e as línguas decepadas e o corpo marcado com ferro. Quantos julgamentos sumários de supostos hereges e feiticeiros acusados de crimes contra a fé! Quantos impiedosos apedrejamentos, quantas práticas perversas, quantos órgãos retalhados, quantos olhos queimados com brasa! Longos foram os tempos de domínio pela crueldade, pelo medo e pela exploração emocional. Homens insensíveis utilizaram os mais variados métodos desumanos para manipular e controlar, de forma abominável, as pessoas em nome do bem-estar, da tradição, da religião, da família, dos bons costumes. O castigo nunca evita o crime, somente a educação e o amor corrigem as almas – eis a grande proposta da Divina Providência. No entanto, o homem, de tanto ser cruel consigo mesmo, aprendeu a projetar a crueldade no mundo que o rodeia. De tanto se julgar de forma tirânica, aprendeu a ser déspota também com os outros. Os “requintes de perversidade” estão introduzidos na sociedade de forma tão sutil e imperceptível que, muitas vezes, não conseguimos identificá-los de imediato. Não existem mais inquisidores propriamente ditos; mas, ainda persistem restos da atmosfera dessas ideias preconcebidas. Não existem mais fogueiras e guilhotinas, mas todos podemos nos converter em controladores e juízes da moral alheia, se as circunstâncias foram propícias, se forem favoráveis. Alguns de nós usam técnicas indiretas e passivas, consideradas elegantes e sutis, mas, no seu conteúdo profundo, são frias, brutais e desumanas. Todo comportamento cruel está, na realidade, estabelecendo não somente uma sentença ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juízo, um valor, um peso e uma medida de como trataremos a nós mesmos. Assim nos esclarece a Doutrina Espírita quando esclarece que todos os “estratagemas cruéis” se voltarão contra a própria fonte criadora. Julgamentos impiedosos que fazemos em relação aos outros informam sobre tudo aquilo que realmente temos por dentro. Em outras palavras, a “forma” e o “material” utilizados para julgar ou condenar os outros residem dentro de nós. No Evangelho de João, diz o Mestre de Nazaré: “Se alguém ouvir minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo, pois não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo”. Jesus não julgava, não media ou sentenciava ninguém. Quem aprende a não condenar os outros não mais se condenará. Ele, o nosso Divino Senhor e Mestre, deixou-nos as lições da compreensão, da compaixão, da mansuetude e do amor como forma de vivermos bem, não somente com os outros mas também com nós mesmos.

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