domingo, 8 de dezembro de 2013

AUTOCONHECIMENTO: PRIMEIRO PASSO PARA EVOLUIR

Todos nós sabemos o quanto temos hoje priorizado, dado mais atenção, ao lado material do que ao lado espiritual, contrariando as advertências de Jesus Cristo: “Não junteis tesouros na terra...”, “De que serve ao homem vir a ganhar o mundo, se perder sua alma?...”, “Vivei segundo o espírito...”. Paralelamente nós temos desenvolvido nossa verdadeira e derradeira miserabilidade. Os distúrbios psicológicos vividos por muitos companheiros do nosso tempo atestam a história de vida desses indivíduos. Insegurança produz pânico, ciúmes e egoísmo produzem a mais pura paranóia, timidez excessiva leva à impotência sexual psicológica, solidão e isolamento destrutivo. Por ser tão fácil a mudança é justamente a razão de não a efetuarmos. A razão óbvia dessa afirmativa é o julgamento nocivo de não nos acharmos merecedores. Necessitamos do stress ou desgaste intensos para que nos esforcemos para modificar nossa vida. Passamos a acreditar que apenas o sofrimento extremo nos dará o direito a algo. Todos nós aprendemos desde cedo que ainda não deu uma cota de sacrifício e que o sofrimento faz parte da vida, No entanto não nos convencemos de que a busca de um verdadeiro autoconhecimento é necessário para avançarmos na tarefa do aperfeiçoamento. A essência de muitas religiões em nossa era é a descrença absoluta em nosso potencial, em nosso valor e em nossa possibilidade de transformação no Bem. Por que será que o preenchimento da nossa carência através do consumismo é tão nocivo na atualidade? Muitos adotam o consumismo, como forma de preenchimento da carência, como forma de compensação para cada acontecimento passado de descaso ou inoperância na afetividade, solidariedade e troca. Aprender o uso correto do dinheiro por aqueles que possuem grande soma nunca deveria passar por um insano desejo de superioridade em relação aos outros, mas apenas o tornar-se independente economicamente da família ou situações de constrangimento perante as necessidades básicas, refletindo constantemente sobre quais realmente são nossos sonhos materiais que fazem diferença em nossa existência. Estar atento e estudar as raízes da insensibilidade em nosso tempo é fundamental para o autoconhecimento. Perguntar-se, por exemplo, quando tal fenômeno tomou nosso espírito? Quando uma das pessoas mais próximas não esteve disponível na ora que mais necessitávamos? Quando vimos o ódio surgir por alguém ter tirado proveito de nossa ingenuidade ou dedicação? Ou que apesar de uma pessoa nos ter feito tanto mal, mesmo assim conseguimos eliminar a mesma de nossas mais profundas lembranças de prazer ou desejo? O conflito se enquadra em praticamente todo o processo da vida e ao mesmo tempo todos tentam negá-lo. Precisamos avaliar se todo nosso esforço diário resulta na mesma proporção de prazer ou satisfação ou apenas mais tédio e falta de sentido na vida. Autoconhecimento é saber procurar ao menos em parte o lugar certo para nossas aptidões ou anseios e administrar a possibilidade de realização de nossos desejos. Por que insistimos em uma relação que só traz desafetos, conflitos e decepções? Por que insistimos num trabalho que corrói nossa força vital? Temos insistido em acumular dinheiro, prazer ou hedonismo. Hedonismo é a tendência a considerar que o prazer individual e imediato é a finalidade da vida. Intelectualidade, vaidade e narcisismo, dama e desejo de imortalidade na adulação de outrem, envelhecer com alguém, ter filhos, criá-los de um modo diferente. Essas são possibilidades em nossas vidas e realmente são muitas escolhas e poucos conseguem descobrir o que realmente dá um pleno sentido à vida. No caminho percorrido por todos nós, em nossas relações com as outras pessoas, precisamos avaliar o que mais acumulamos, amigos ou inimizades, e a razão de tal fato. Precisamos constatar se o ódio, mágoa ou rancor nos trouxe algo de positivo. Esse é , sem dúvida, um dos mais difíceis testes a serem efetuados. Tanto a pessoa que se nutre do conflito como o hipócrita que almeja uma espécie de unanimidade em torno de sua imagem são pessoas prepotentes e frustradas. Ambos centralizam tudo em seu ego, se esquecendo da sua tarefa individual e social de proporcionarem também um espaço para que outros possam adquirir algum ganho no contato com eles; infelizmente essa é uma das maiores mazelas de nossa era, a recusa de se doar algo positivo ao outro. Assim como alguns ou muitos ascenderam economicamente, apesar de constantes crises, no plano pessoal também encontraremos pessoas com sua capacidade para amar preservada e sem medo de deixar fluir seus sentimentos. Nossa realidade não é composta somente pela miséria, nem tampouco por ilusão. O sofrimento não pode se tornar a medida fixa e imutável da generalização. Os infortúnios não podem ser vistos como combustível para o processo da depressão ou desesperança, mas apenas nos dizem de nosso dever da continuidade, afinal de contas esta é a mais simples regra da vida. Devemos ser honestos e francos, estamos diariamente tão absortos no processo da competição que como resultado não conseguimos utilizar o “melhor” para nós mesmos, criando o conflito psicológico diário, este é sem dúvida alguma o núcleo do chamado stress. Precisamos estar atentos para que a questão mais angustiante não passe por nada material. Poucos têm consciência do “soberano” de nossa alma: o medo. Nunca tão inato aparato se desenvolveu de tantas formas no psiquismo humano. Praticamente todas as nossas ações diárias têm a intenção de afugentá-lo, e o efeito é drasticamente o oposto. São tantos acontecimentos do tipo: obsessões, auto-imolação, pensamentos catastróficos, pânico súbito e incompreensível. Sem dúvida um prato cheio para a indústria do remédio. O fato que todos devem se perguntar é se o envelhecimento mudou ou está mudando algo em nossa vida. Conseguimos com o tempo ser menos bloqueados, menos inseguros, menos avarentos, menos covardes, ou apenas aumentamos tudo isso? Será que o final de uma vida não poderia trazer algo mais reconfortante do que a pura e simples morte? O que a realidade nos mostra é que as coisas todas se acabam, apesar de que a nossa relação com elas seja a de alguém que acredita ser elas eternas. E quando observamos essa finitude das coisas e pessoas, o que sobra certamente é a busca inesgotável e inata em todo ser humano por compreensão, independente de sua cultura, neurose ou estado de espírito. Ou evoluímos mental e espiritualmente, ou apenas ficaremos com o avanço da medicina em prolongar por mais dez, vinte ou trinta anos alguns prazeres fisiológicos e materiais, mas também será prolongado todo nosso tédio, raiva e consternação perante a inutilidade de estruturas sociais e pessoais que vivemos criticando, mas que somos os maiores responsáveis por sua perpetuação. O conhecimento de si mesmo é a chave do melhoramento individual. Muitos de nós usam de argumentos para justificar sua falta de disposição para novas atitudes. O avaro, por exemplo, acredita ser simplesmente econômico e previdente; o orgulhoso acredita somente ter dignidade. Quando estivermos indecisos sobre o valor de uma de nossas ações, perguntemo-nos como a qualificaríamos se fosse feita por outra pessoa; se a censuramos nos outros, não poderá ser mais legítima em nós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça. Procuremos, assim, saber o que os outros pensam, e não esqueçamos a opinião dos opositores, porque estes não têm nenhum interesse em dissimular a verdade e, muitas vezes, Deus os coloca ao nosso lado como um espelho, para nos advertir com mais franqueza do que faria um amigo. Que aquele que tem a vontade séria de se melhorar consulte sua consciência, a fim de arrancar de si as más tendências, como arranca as más ervas de seu jardim. Que faça o balanço de sua jornada moral, como o mercador faz a de suas perdas e lucros, e tenhamos a certeza de que isso resultará em seu benefício. Se puder dizer a si mesmo que seu dia foi bom, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida.

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