domingo, 22 de dezembro de 2013

A INFELICIDADE EM JUNTAR COISAS -

Você já percebeu como as pessoas hoje colecionam quinquilharias? Sabia que isso pode significar uma situação de infelicidade? Essa tentativa de preencher o vazio da vida colecionando quinquilharias? Muitos desperdiçam suas vidas colecionando bobagens. Grandes coleções de cursos inacabados, amores frustrados, projetos engavetados, centenas de livros não lidos, relações sem afeto, sapatos não usados, casas de praia abandonadas. Há até quem sinta mais orgulho em mostrar sua coleção de vinhos do que em saboreá-los... No propósito de querer agradar aos pais, muitos abrem mão do que lhes é realmente importante. Desistem de realizar a própria vocação. Por isso começam a colecionar conquistas não para si, mas para os pais. É o caso da criança que não quer estudar balé, mas se rende ao fato de a mãe ter desejado, na juventude, ser bailarina. Para agradar a mãe, começa, então, a colecionar troféus até que, um dia, conclui que nada daquilo contribui para sua felicidade. Outros habituam-se a colecionar virtudes para conquistar a simpatia alheia ou para mostrar para os outros uma imagem que não corresponde ao que realmente é. O “direito à felicidade”, que se tornou uma crença partilhada tanto por religiosos quanto por ateus na nossa época, tem sido causa de considerável sofrimento. Se você acredita que tem direito à felicidade, de preferência todo o tempo, ao sentir frustração, tristeza, angústia, decepção, medo e ansiedade, só pode olhar para esses sentimentos como se fossem algo anormal . Ou seja: eles não lhe pertencem, estão onde não deveriam estar, precisam ser combatidos e eliminados. O que sempre pertenceu à condição humana passa a ser uma doença – e como doença deve ser tratado, em geral com medicamentos. Deixamos de interrogar os porquês e passamos a calar algo que, ao ser visto como patologia, deve ser “curado”, porque não faz parte de nós. É um tanto fascinante os caminhos pelos quais a felicidade vai deixando o plano das aspirações abstratas, da letra dos poetas, para ser tratada em consultório médico. Poucos fenômenos são tão reveladores sobre a forma como olhamos para a condição humana em nosso tempo como o “direito à felicidade”. Sem esquecer que este tema está relacionado a outros dois fenômenos atuais: a medicalização da vida e a judicialização dos sentimentos. Ou, dito de outro modo: tratar o que é do humano como patologia, ou seja, doença e dar aos juízes a arbitragem dos afetos. É importante – sempre é – ressaltar que obviamente existem doenças mentais e situações nas quais o uso de medicamentos é necessário e benéfico, desde que com acompanhamento rigoroso. O que se questiona aqui são os casos – infelizmente frequentes – de leviandade nos diagnósticos psiquiátricos e o consequente abuso no uso de medicamentos, que tem criado uma multidão de dependentes de drogas legais, cujas consequências só serão conhecidas nas próximas décadas. É íntima a relação deste fenômeno com a crença da felicidade que assinala nosso tempo. O que se percebe é que tem havido uma mudança na maneira como as pessoas entendem a felicidade. Num passado não muito distante a felicidade era um bem a ser conquistado, quase uma utopia. Hoje, as pessoas se sentem na obrigação de serem felizes. A psicanálise entende a nossa época como a “era do direito ao gozo”. Ou seja: hoje, todos têm o direito de gozar plenamente, sem restrições. Nesse caso, a felicidade deixou de ser uma contingência, um evento, e passou a ser um direito que supostamente deveria ser garantido. Vivemos sob a ditadura da felicidade, e, por isso, grande parte das pessoas tem dificuldade de passar por momentos de infelicidade, de frustração e de perdas com naturalidade, entendendo isso como parte da existência. As pessoas, além de sofrerem pelo motivo que as levou a procurar ajuda, sofrem ainda mais pela angústia de ter que se livrar daquele sofrimento rapidamente, a qualquer custo. Não compreendem que aquilo que sentem pode ter um significado e um motivo que precisam ser escutados, pela própria pessoa. Também sentem muita necessidade de dar um nome para o que sentem. Querem logo receber um diagnóstico. Quando alguém, por exemplo, perde um ente querido e a própria pessoa – ou alguém da família, ou até mesmo outro profissional de saúde – solicita atendimento especializado pelo fato de ele ou ela estar sofrendo ou chorando muito. Enterram o pai num dia e querem estar prontos para ir ao cinema no fim de semana seguinte. Na verdade, o que causa infelicidade às pessoas não mudou muito. Sofremos, em geral, pelo mesmo motivo apontado por Freud há quase 100 anos. Sofremos, na imensa maioria das vezes, do mal-estar resultante das nossas relações com os outros. Entretanto, o que mudou muito foi a forma como as pessoas lidam com esse mal-estar, com sua infelicidade cotidiana. Num passado não muito distante o profissional da saúde mental era, em geral, procurado para ajudar a pessoa a compreender seus mal-estares, decifrá-los. Hoje, um número cada vez mais crescente de pessoas procura os terapeutas com um único objetivo: se livrar dos mal-estares. Não querem saber nada sobre seus sofrimentos ou sobre sua infelicidade, não desejam decifrá-los ou interrogá-los. Querem apenas que o sofrimento e a infelicidade silenciem, e ainda exigem dos terapeutas uma resposta rápida, eficaz e, especialmente, que não lhe exija muito esforço. Estamos nos tornando uma geração de humanos que temem sua própria humanidade. Vivemos numa sociedade que pretende negar e rejeitar toda espécie de tragicidade que a condição humana carrega consigo. Para a psicanálise, nossos mal-estares são oportunidades que temos para reconduzir e aperfeiçoar nosso processo de subjetivação, de construção de nós mesmos, processo este que nunca cessa. São esses mal-estares que nos fazem repensar nossos valores, objetivos, nosso modo de ser e nossas relações. As lagartas, para se transformarem em borboletas, precisam antes passar pela fase do casulo. Se quisermos aproveitar esta metáfora para entender o processo de subjetivação humano, diríamos que somos capazes de viver esse processo de transformação um sem número de vezes. De lagarta para borboleta, de borboleta para lagarta, e assim sucessivamente. Estas transformações, por sua vez, só acontecem quando questionamos nosso modo de ser e de estar no mundo. Quando paramos de nos interrogar, perdemos a oportunidade de passar por essas transformações, ficando paralisados, fixados em uma só condição: ou lagarta, ou borboleta. E é muito melhor quando podemos aproveitar todas as possibilidades de estar nesse mundo.
Estamos a dois dias do Natal e não poderia deixar de falar hoje da maior festa do calendário cristão. Quando chega dezembro, parece que acontece uma transformação nas pessoas, no movimento, no ar. É como se ventos da transformação soprassem... Há uma certa mudança no ar. E não são apenas os apelos da sociedade de consumo. As pessoas ficam mais sensíveis à necessidade do outro, como se a fraternidade fosse um imperativo em suas vidas.Pensa-se mais no outro, pensa-se mais em presentear o outro. É o momento em que o outro toma o lugar do eu do ano inteiro. É como se os mensageiros de Deus viessem lembrar aos homens sua vocação para o amor e soprassem os ventos da solidariedade, da piedade, da misericórdia, tão esquecidos durante o ano. Precisamos compreender definitivamente que esses são os valores verdadeiros, que eles são a moeda corrente de um reino que não é deste mundo, mas que começa aqui e agora, de cujo regente comemoramos o nascimento. O reino de Jesus não é deste mundo, Ele bem o disse. Sua realeza nasceu do mérito pessoal e sobrepôs-se ao tempo. Para ter lugar nesse reino é preciso abnegação, humildade, caridade em toda a sua prática cristã, e benevolência para com todos. E não adianta nos iludirmos e até tentarmos uma negociação com Deus para conquistarmos um bom lugar. Lá não seremos questionados sobre que posição ocupamos aqui, nem sobre que religião professamos, mas sobre o bem que praticamos, as lágrimas que enxugamos. São os atalhos mais difíceis da vida que nos levarão para lá. “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância.” “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” “Todo aquele que bebe da minha água não terá mais cede.” “Vinde a mim todos que vos achais fatigados e angustiados e eu vos aliviarei.” Tudo isso pode ser lido no Evangelho de Jesus Cristo e expressam as melhores certezas e promessas que Jeus nos afirma constantemente através dos séculos. Deus, em sua infinita paciência, continua a esperar que entendamos e escolhamos os caminhos que nos poderão levar a esse Reino. Jesus sempre viveu em si mesmo os ensinamentos e conceitos salvadores passados ao homem terreno e o conteúdo do seu Evangelho é o mais avançado Código de Leis de aperfeiçoamento espiritual. Hoje as pessoas estão tomadas pela desconfiança; veneram a ciência que lhes dá o conforto material, mas não lhes ameniza a angústia do coração; adotam os projetos de inovações sociais e educativas, que planejam um futuro brilhante, mas não proporcionam a paz de espírito. Esquecemos que o único medicamento salvador do homem moral e psiquicamente enfermo do século atual é Jesus Cristo, através do seu projeto de vida, expresso em seu Evangelho. Só seu Amor e o seu Evangelho poderão amainar as paixões humanas e harmonizar as pessoas numa convivência pacífica. O cristo deve ser recebido como um apelo a transformações profundas na nossa vida diária, sobretudo diante dos outros, irmãos porque acolhidos pelo mesmo Pai. A terra comemora a vinda d'Aquele que veio reajustar os ensinamentos dos seus antecessores. “Já um pequenino se acha nascido para nós, e um filho dado a nós, e o nome com que se apelidado será Deus forte, Pai do futuro século, Príncipe de Paz. O seu império se estenderá cada vez mais e a Paz não terá fim”, anunciava o profeta Isaias, tocado pela graça do Senhor e pressentindo essa “descida vibratória” do Mestre. O natal não é mais do que a renovação do apelo dirigido a cada homem de boa vontade para que a missão daquele que foi enviado se concretize na realização do grande projeto de Deus que quer a perfeição para cada uma de suas criaturas. Viver o espírito do natal hoje é pendurar na árvore da própria vida valores apregoados pelo Cristo e que têm a força do brilho de mil luzes: o amor, a solidariedade, a misericórdia, a compaixão, a indulgência, a caridade...

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