domingo, 11 de maio de 2014

MÃES MÁS/MÃE DESNECESSÁRIA - Dr. Carlos Hecktheuer e Márcia Neder

Um dia, quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei de dizer-lhes: “Eu os amei o suficiente para ter perguntado aonde iam, com quem iam e a que hora regressariam. Eu os amei o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia. Eu os amei o suficiente para os fazer pagar as balas que tiraram dos supermercados ou revistas do jornaleiro, e os fazer dizer ao dono: “Nós pegamos isto ontem e queríamos pagar”. Eu os amei o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o seu quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos. Eu os amei o suficiente para os deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas dos meus olhos. Eu os amei o suficiente para os deixar assumir a responsabilidade das suas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração. Mais do que tudo, eu os amei o suficiente para dizer-lhes NÃO, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso ( e em alguns momentos até odiaram)." Essas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... Porque no final vocês venceram também! E qualquer dia, quando meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se sua mãe era má, meus filhos vão lhes dizer: “Sim, nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo... As outras crianças comiam doces no café e nós só tínhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvetes no almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Mamãe tinha que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles. Insistia que lhe disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Ela insistia sempre conosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade. E quando éramos adolescentes, ah! ela conseguia até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo muito chata! Ela não deixava que saíssemos logo que nossos amigos buzinavam para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer. Enquanto, aos 12 anos, todos podiam voltar tarde, tarde da noite, tivemos que esperar pelo menos completar 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata ainda levantava, quando voltávamos, para saber se a festa foi boa ( só para ver como estávamos ao voltar). Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência. Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime. Por causa de nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência. FOI TUDO POR CAUSA DELA! Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos fazendo o melhor para sermos “PAIS MAUS”, COMO MINHA MÃE FOI. Eu acho que este é um dos males do mundo de hoje: NÃO HÁ SUFICIENTES MÃES MÁS! Aquelas que já são mães, principalmente se forem assim más, que NÃO se culpem, e aquelas que serão, que isso sirva de alerta e de lição!" A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Uma hora há em que é preciso reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha difícil, reconheço. Quando começar a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas têm dentro de si, lembre logo da frase.Se você fizer o seu trabalho de mãe direito, tem que se tornar desnecessária. Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso. Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho. Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não para de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que nós, os pais, estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão. Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar. Lembre-se sempre do conselho do Dalai Lama: "Dê a quem você Ama : - Asas para voar... - Raízes para voltar... - Motivos para ficar..."

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