domingo, 23 de novembro de 2014

ESQUIZOFRENIA, A "NEUROSE NARCISISTA" -

Inicialmente, para que saibamos identificar quando alguém se encontra em surto psicótico, observemos essa pessoa e verifiquemos se ela, repentinamente, e sem aviso, passou a ter: - Delírios ou alucinações ou seja passou a ver ou ouvir coisas que não estão acontecendo. - Falou de forma desorganizada, rápido demais ou falou coisas muito incoerentes. - Se se comportou de forma incoerente ou ficou catatônica (paralisada e sem qualquer reação). - Se demonstrou tumulto emocional. - Se demonstrou oscilação de humor deprimido para euforia, e vice versa, muito acentuada. A normalidade socialmente constituída e referendada depende de critérios socioculturais e ideológicos arbitrários, e, às vezes, dogmáticos e doutrinários. Exemplos de tais conceitos de normalidade são aqueles com base na adaptação do indivíduo às normas morais e políticas de determinada sociedade. O isolamento parece ser para muitos um meio de sobrevivência, de salvação. “Encontrei salvação provisória no camping, ou seja, no isolamento em relação “aos outros”, os que viviam uma vida normal, trabalhavam com a finalidade de construir ou manter um lar, ter uma casa, filhos, etc...” “O camping trazia-me o apaziguamento, o esquecimento, pelo menos provisório, de todas as asperezas que incessantemente me arrasavam.” Pessoas com esquizofrenia paranoide podem acreditar que outros estão deliberadamente trapaceando, fustigando, envenenando, espiando ou tramando contra elas ou contras as pessoas de que gosta. Essas crenças são chamadas de delírios de perseguição. As pessoas com esquizofrenia paranoide não são especialmente propensas à violência, e frequentemente preferem ser deixadas sozinhas. Visão distorcida da realidade e ideia fixa são outras características de um sujeito acometido por esquizofrenia. Somem-se a estas o desejo de fuga, isolamento e constante luta com o mundo, daí as pessoas com esquizofrenia paranoide tentarem suicídio mais frequentemente. Sob o aspecto da afetividade, atividade do psiquismo que constitui a vida emocional do ser humano e que penetra todos os demais aspectos da vida psíquica, há em todo esquizofrênico indícios bem próprios da esquizofrenia, sob o ponto de vista das perturbações do afeto. Não podemos esquecer que a afetividade constitui o aspecto da vida psíquica que mais precoce e constantemente se altera em estados psicopatológicos de qualquer feitio ou natureza. Um sintoma tipicamente esquizofrênico são as ambitimias ou ambivalência afetiva. Aqui se trata da coexistência de estados afetivos diversos e inconciliáveis. Não é ambiguidade de sentimentos nem dúvida, é o sentimento que perdeu a sua unidade. “Os pais? Quem são ? Seres aos quais se pode fazer sofrer sem que a gente sofra. Pessoas que se pode ferir sem temer represália. Não são os pais os principais, os primeiros responsáveis?” “Salvo quando a depressão me invade – período no qual acuso confusamente meus pais de responsáveis pelo meu estado e nos quais reentro dolorosamente dentro de mim mesmo -, sou feliz por vê-los periodicamente.” “Não sei o que será minha existência quando meus pais não estiverem mais aqui... É melhor nem pensar.” Outro aspecto são as paratimias, sentimentos inadequados e paradoxais. Nesse aspecto há discordância entre sentimentos e pensamentos, ou seja, o que é expressado ou narrado não condiz com suas expressões afetivas. Acontece cisão do núcleo de pensamento. As neotimias diz respeito ao surgimento de sentimentos novos, extravagantes, insólitos e inusitados, vividos com apreensão, angústia e perplexidade. Ocorre sobretudo no início dos quadros de esquizofrenia A diminuição da expressão dos sentimentos sobretudo aqueles que asseguram os nexos afetivos familiares é o que ocorre quando acontece o embotamento afetivo, presente em quadros de esquizofrenia de longa data. Sob o aspecto do humor, o esquizofrênico experimenta o polo depressivo. Os afetos são profundos, há tendência ao pessimismo, a ressonância afetiva é com o desprazer. Há sentimentos de impotência, insuficiência, menos-valia, as vivências ligam-se aos temas de morte, perda, culpa, insucesso, etc. Os indivíduos se queixam de que viver é um "pesadelo difícil, arrastado e que as horas não passam.” Às vezes, quando lemos um relado de um esquizofrênico, temos a sensação de tratar-se de um texto poético que fala das dores de um ser em constante luta pela vida, e não de uma confissão do profundo sofrimento de alguém vítima da esquizofrenia e com uma consciência admirável de todo o processo. Não falam de si poetas como Fernando Pessoa ( “(...)Um internado num manicômio é, ao menos, alguém,/ Eu sou um internado num manicômio sem manicômio./ Estou doido a frio, / Estou lúcido e louco, / Estou alheio a tudo e igual a todos:/ estou dormindo desperto com sonhos que são loucura / Porque não são sonhos. / Estou assim...(...)”, Carlos Drummond de Andrade, Augusto dos Anjos, Rilke, André Gide, Jean Genet, José Régio e tantos outros? Depois de tudo, a sensação de ter se debruçado sobre a alma atormentada de alguém que “tinha descido um degrau a mais na escada infernal e se ele não desembocava na noite do espírito, é preciso reconhecer que levava insensivelmente a andares inferiores, senão subterrâneos, onde a luz mal chegava e onde era cada vez mais difícil distinguir formas de verdade.” Nos transtornos psicóticos profundos, a esquizofrenia destaca-se aterrorizante, face à alienação que impõe ao paciente, afastando-o o convívio social e conduzindo-o à vivência da própria incúria, sem a capacidade de discernimento que se encontra embotada. Denominada por Freud como "neurose narcisista", indicada por Kraepelin, que estabeleceu como sintoma frequente a "indiferença ou embotamento afetivo", coube a Bleuler assinalar que o paciente é vítima de uma "desagregação do pensamento", que produz uma certa rigidez com extrema "dificuldade de exteriorização dos sentimentos", não sendo, portanto, imune à afetividade. Clinicamente apresenta-se sob três formas, consideradas clássicas: hebefrenia, catatonia e paranoia. Posteriormente foi acrescentada uma outra, que ficou denominada como esquizofrenia simples.

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