domingo, 16 de novembro de 2014

ESQUIZOFRENIA: A REALIDADE FRAGMENTADA

Inicialmente, é necessário que nos perguntemos o que é NORMALIDADE para nós. Isso para que possamos nos aproximar de outra pessoa sem emitir qualquer diagnóstico precipitado de loucura, fundamentado tão somente na nossa incapacidade de lidar com o diferente. Precisamos nos questionar até onde vai a normalidade e qual o nosso limite que assegura essa normalidade. A partir de que limite nos tornamos vulneráveis à loucura, ou nos achamos isentos dela? Alguns pacientes esquizofrênicos são normais até que situações adversas e pressões físicas e psicológicas os fizeram perder o controle e o equilíbrio. Logo, precisamos nos questionar: até que onde podemos nos manter dentro de um conceito de normalidade, limítrofe da loucura? O primeiro critério a respeito de normalidade que geralmente nós utilizamos é o de saúde como “ausência de sintomas, de sinais ou de doenças”. Segundo expressiva formulação de René Leriche (1936): “a saúde é a vida no silêncio dos órgãos”. Normal, do ponto de vista psicopatológico, seria, então, aquele indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. Tal critério é bastante falho e precário, pois baseia-se em uma “definição negativa”, ou seja, define-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas, sim, por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta ( Almeida Filho; Jucá, 2002). A partir desta visão, começamos por indagar: seria normal aquela pessoa que assim se manteve até que começou uma série de pressões externas que levaram-na ao seu limite do suportável? E aí entra o aspecto da normalidade como processo. Neste caso, mais que uma visão estática, consideram-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu, em 1946, a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente como ausência de doença. É um conceito criticável por ser muito vasto e impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir objetivamente. Além disso, esse completo bem-estar físico, mental e social é tão utópico que poucas pessoas se encaixariam na categoria “saudáveis”. Uma vez que a doença mental caracteriza-se essencialmente por uma perturbação da relação com o próximo, torna-se um círculo vicioso que faz da vida do doente um trágico mal-entendido. Não há no doente a capacidade de suportar situações de desconforto quando inserido no meio social criador de pressões as mais diversas. Daí porque o doente mental adquire a ideia fixa de liberdade. Alguns autores de orientação fenomenológica e existencial propõem conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial. Dessa forma, a saúde mental se vincularia às possibilidades de transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino. A doença mental é constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades existenciais. Dentro desse raciocínio, o psiquiatra gaúcho Cyro Martins (1981) afirmava que a saúde mental poderia ser vista, até certo ponto, como a possibilidade de dispor de “senso de realidade, senso de humor e de um sentido poético perante a vida”, atributos estes que permitiriam ao indivíduo “relativizar” os sofrimentos e as limitações inerentes à condição humana e, assim, desfrutar do resquício de liberdade e prazer que a existência oferece. Muitas pessoas que dizem se sentir bem, “muito saudáveis e felizes”, como no caso de sujeitos em fase maníaca, apresentam, de fato, um transtorno mental grave. A muitos parece que o esquizofrênico surta de uma hora para outra. Há pressões, insatisfações, carências, muitas vezes imperceptíveis até mesmo para o paciente, que o levam ao limite. E aquilo que é de bom tamanho para outrem, toma proporções anormais para quem vivencia situações limítrofes. A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica endógena, que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. A pessoa pode ficar fechada em si mesma, com o olhar perdido, indiferente a tudo o que se passa ao redor ou, os exemplos mais clássicos, ter alucinações e delírios. Ela ouve vozes que ninguém mais escuta e imagina estar sendo vítima de um complô diabólico tramado com o firme propósito de destruí-la. Não há argumento nem bom senso que a convença do contrário. Antigamente, esses indivíduos eram colocados em sanatórios para loucos, porque pouco se sabia a respeito da doença. No entanto, nas últimas décadas, houve grande avanço no estudo e tratamento da esquizofrenia que, quanto mais precocemente for tratada, menos danos trará aos doentes. O problema é considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional, produz sofrimento para o próprio indivíduo ou para seu grupo social. De modo geral, há dois tipos de sintomas: os produtivos e os negativos. Os sintomas produtivos são, basicamente, os delírios e as alucinações. O delírio se caracteriza por uma visão distorcida da realidade. O mais comum, na esquizofrenia, é o delírio persecutório. O indivíduo acredita que está sendo perseguido e observado por pessoas que tramam alguma coisa contra ele. Imagina, por exemplo, que instalaram câmeras de vídeo em sua casa para descobrirem o que faz a fim de prejudicá-lo. As alucinações caracterizam-se por uma percepção que ocorre independentemente de um estímulo externo. Por exemplo: o doente escuta vozes, em geral, as vozes dos perseguidores, que dão ordens e comentam o que ele faz. São vozes imperativas que podem levá-lo ao suicídio, mandando que pule de um prédio ou de uma ponte. Delírio e alucinações são sintomas produtivos que respondem mais rapidamente ao tratamento. No outro extremo, estão os sintomas negativos da doença, mais resistentes ao tratamento, e que se caracterizam por diminuição dos impulsos e da vontade e por achatamento afetivo. Há a perda da capacidade de entrar em ressonância com o ambiente, de sentir alegria ou tristeza condizentes com a situação externa.

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