domingo, 15 de setembro de 2013

NÃO JULGAR -

Você já percebeu como vivemos julgando um ao outro? Como é comum o julgamento, sem reservas nem ressalvas, principalmente por parte daqueles que pretendem ser proclamadores da verdade e defensores da lei, da moral ou da religião... Curiosamente, os religiosos são os que mais julgam na história da vida humana sobre a Terra. Querem defender uma verdade que, na maior parte das vezes, é relativa e muitíssimo restrita ao seu ponto de vista ou ao interesse do grupo do qual participam. Para defender sua visão de mundo e seu sistema de crenças, atacam o outro pelo julgamento, sem piedade. É impressionante como os que se dizem seguidores do Cristo envolvem-se em intrigas, disputas e, por fim, formam grupos que disputam por um lugar no céu ou por seu patrimônio espiritual, como se esse fosse o único modo de ver o mundo e viver a espiritualidade. Ignoram outras verdades, e pior: o fazem por escola própria, porque deliberadamente fecham os olhos à diferença. Muitas vezes, isso faz com que vejam seus irmãos, parentes e membros da comunidade um alvo a ser convertido, avaliado, julgado, principalmente quando o outro não adota a perspectiva desejada por ele. Ai, então , o indivíduo transformado em seu alvo mental torna-se proscrito da espiritualidade, um herege que merece ser punido de alguma maneira. E métodos de punição não faltam na mente da pessoa que se sente ultrajada e injuriada porque seu ponto de vista foi recusado. Vocês já pararam para observar como as pessoas que têm segurança em relação a si mesmas quanto a religião, raça, ou orientação sexual desenvolvem uma serenidade que não é perturbada nunca pela diferença de experiência de vida do outro, do próximo? Pessoas como Chico Xavier, Madre Teresa de Calcutá, Dom Hélder Câmara, etc. são grandes exemplos. Para essas pessoas a diferença no outro era motivo de aprendizagem e nunca de ameaça. Quando empregamos nosso tempo para compreender, para ouvir, silenciar outras vezes e amparar o próximo, não há espaço para julgamentos. Foi isso que Jesus Cristo quis exemplificar quando nos disse: “Não julgueis, e não sereis julgados. Não condeneis, e não sereis condenados”. As palavras de Jesus Cristo merecem reflexão, como se faz a partir de uma recomendação inteligente; seu exemplo deve ser visto como a atitude mais sensata a adotar, porque produz satisfação e felicidade, em vez de ser tomado como fórmula religiosa de santificação. Crueldade é atributo da criatura que sente prazer em atormentar severamente os outros, utilizando atitudes rigorosas e inflexíveis para lidar com o mundo em seu derredor. Toda crueldade nasce da fraqueza e da incapacidade das pessoas que não sabem relacionar-se com elas mesmas, com seu mundo interior. Isentamos de responsabilidade sobre os fatos violentos, dando nome de paixão, de honra, de ordem social, de verdade única, para dissimular os pontos fracos e desajustados que possuímos. As leis religiosas do passado mantiveram a humanidade sob o jugo de uma crueldade incalculável, com a imposição do sofrimento e da mortificação, justificando-os como sendo uma das maneiras que a Divina Providência utilizava para corrigir e reparar possíveis erros do presente e do passado. O que era um absurdo, pois, na verdade, Deus é amor, misericórdia e compreensão em abundância. A História nos conta que todos aqueles que se atreveram a contrariar os padrões, normas ou dogmas(que são verdades incontestáveis) estabelecidos por uma doutrina ou por uma grupo tiveram as mãos e as línguas decepadas e o corpo marcado com ferro. Quantos julgamentos sumários de supostos hereges e feiticeiros acusados de crimes contra a fé! Quantos impiedosos apedrejamentos, quantas práticas perversas, quantos órgãos retalhados, quantos olhos queimados com brasa! Longos foram os tempos de domínio pela crueldade, pelo medo e pela exploração emocional. Homens insensíveis utilizaram os mais variados métodos desumanos para manipular e controlar, de forma abominável, as pessoas em nome do bem-estar, da tradição, da religião, da família, dos bons costumes. O castigo nunca evita o crime, somente a educação e o amor corrigem as almas – eis a grande proposta da Divina Providência. No entanto, o homem, de tanto ser cruel consigo mesmo, aprendeu a projetar a crueldade no mundo que o rodeia. De tanto se julgar de forma tirânica, aprendeu a ser déspota também com os outros. Os “requintes de perversidade” estão introduzidos na sociedade de forma tão sutil e imperceptível que, muitas vezes, não conseguimos identificá-los de imediato. Não existem mais inquisidores propriamente ditos; mas, ainda persistem restos da atmosfera dessas ideias preconcebidas. Não existem mais fogueiras e guilhotinas, mas todos podemos nos converter em controladores e juízes da moral alheia se as circunstâncias forem propícias, forem favoráveis. Alguns de nós usam técnicas indiretas e passivas, consideradas elegantes e sutis, mas, no seu conteúdo profundo, são frias, brutais e desumanas. Todo comportamento cruel está, na realidade, estabelecendo não somente uma sentença ou um veredicto, mas, ao mesmo tempo, um juízo, um valor, um peso e uma medida de como trataremos a nós mesmos. Assim nos esclarece a Doutrina Espírita quando diz que todos os “estratagemas cruéis” se voltarão contra a própria fonte criadora. Julgamentos impiedosos que fazemos em relação aos outros informam sobre tudo aquilo que realmente temos por dentro. Em outras palavras, a “forma” e o “material” utilizados para julgar ou condenar os outros residem dentro de nós. No Evangelho de João, diz o Mestre de Nazaré: “Se alguém ouvir minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo, pois não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo”. Jesus não julgava, não media ou sentenciava ninguém. Quem aprende a não condenar os outros não mais se condenará. Ele, o nosso Divino Senhor e Mestre, deixou-nos as lições da compreensão, da compaixão, da mansuetude e do amor como forma de vivermos bem, não somente com os outros mas também com nós mesmos. Existem, na verdade, dois tipos de pecado: pecados do corpo e pecados do espírito. Na parábola do Novo Testamento, o Filho Pródigo abandona sua família e sai pelo mundo, enquanto o irmão mais velho fica junto ao pai. Depois de muitas desgraças, o Filho pródigo resolve voltar, e o pai dá uma grande festa em sua homenagem. Ao saber disso, o irmão mais velho revolta-se contra o pai: “Não fiquei aqui ao seu lado esse tempo, trabalhando, enquanto ele gastava sua herança?”, pergunta. Podemos considerar que o Filho Pródigo comete o primeiro tipo de pecado, o pecado do corpo, enquanto o irmão, o segundo tipo, o pecado do espírito. A sociedade, curiosamente, garante saber qual dos dois tipos de pecado é o pior, e sua condenação cai, sem sombra de dúvida, sobre o Filho Pródigo. Mas será que estamos certos? Não temos nenhuma balança para pesar o pecado dos outros, e “melhor” ou “pior” são apenas duas palavras do vocabulário. Mas eu digo a vocês: faltas mais sofisticadas podem ser muito mais graves do que as simples e óbvias. Aos olhos Daquele que é o Amor, um pecado contra o Amor é cem vezes pior. Não existe nenhum vício, ou desejo, ou avareza, ou luxúria, ou embriaguez que seja pior que um temperamento intolerante. Por tornar a vida amarga, por destruir comunidades, por acabar com muitas relações, por devastar lares, por sacudir homens e mulheres de suas bases, por tirar toda a exuberância da juventude, por seu poder gratuito de produzir miséria, a intolerância não tem concorrentes. Olhamos para o irmão mais velho, o correto, trabalhador, paciente, responsável. Vamos dar a ele todo o crédito de suas virtudes – olhamos para esse rapaz, para essa criança que agora se encontra na porta da casa, humilhado, diante de seu pai. “Ele se indignou”, nós lemos, “e não quer entrar”. Como a atitude do irmão deve ter afetado o Filho Pródigo! E quantos filhos pródigos são mantidos fora do Reino de Deus por causa dessas pessoas sem amor, que garantem estar do lado de dentro! Como devia estar o rosto do irmão mais velho ao dizer aquelas palavras? Coberto por uma nuvem de ciúme, raiva, orgulho, crueldade, certeza de que havia agido sempre direito. Determinação, ressentimento, falta de caridade. São esses os ingredientes dessa alma escura e sem amor. São esses os ingredientes da intolerância e do preconceito. E todos nós, que já sofremos esse tipo de pressão muitas vezes na vida, sabemos que esses pecados são muito mais destruidores do que os pecados do corpo. Não falou o próprio Cristo a esse respeito, quando disse que as prostitutas e os pecadores entrariam primeiro no Reino dos Céus, na frente dos sábios escribas de sua época? Não existe lugar no Reino para os preconceituosos e os intolerantes. Um homem preconceituoso conseguiria tornar o Paraíso insuportável para si e para os outros. Se o intolerante não nascer de novo, deixando de lado tudo aquilo que julga intocável e certo, ele não pode – simplesmente não pode – entrar no Reino dos Céus. Porque, para entrar no Reino dos Céus, o homem precisa carregar o Paraíso em sua alma.

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